Lupas (330)
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É de fato um pouco bagunçado, como uma sucessão de esquetes que nem sempre parecem inseridas no momento certo. Mas acompanhar Dona Hermínia é sempre um prazer. O arco de São Paulo, com a inserção divertidíssima da personagem na metrópole paulistana, foi o primeiro grande destaque do filme, sucedido pelas ótimas sequências envolvendo as três irmãs resistindo com bom humor ao envelhecimento e à solidão. Se esses dois motes tivessem sido melhor explorados, o resultado seria mais orgânico.
Victor Tanaka | Em 10 de Maio de 2021. -
A moldura literária confere aos contos, já de início, um aspecto meio épico, talvez mítico, que funciona bem no decorrer de grande parte das histórias. E em todas elas o visual é estonteante, com grande exploração do espaço e da iluminação. Por outro lado, enquanto as narrativas se desenrolam de forma instigante e inteligente, o final é sempre linear demais, como um balde de água fria diante do que estava sendo tão melhor construído. Falta algo. Não creio que tenha ficado claro o objetivo disso.
Victor Tanaka | Em 10 de Maio de 2021. -
Unm drama poderoso, bonito em forma e conteúdo, desde os diálogos instigantes até os olhares sempre expressivos entre as personagens, que parecem sempre gritar enquanto estão caladas junto a seus sentimentos. O apelo visual não acaba aí: os figurinos, os cenários, a escolha das cores, as luzes, o fogo no vestido, tudo constitui uma coletânea de formas, imagens e símbolos que visam penetrar na memória, como quadros que pedem para não serem esquecidos pelos visitantes que deixam o museu.
Victor Tanaka | Em 10 de Maio de 2021. -
Sabe aquele filme que não precisa mostrar explicitamente um assassinato para representar a dimensão do desespero e da barbárie? Tudo está na feição dos personagens, na falta de controle das autoridade, na correria incansável de Aida contra o tempo e a morte. Tudo aqui flui natural, duro e opressivo, corremos junto com a personagem e parecemos sempre voltar ao ponto de partida.
Victor Tanaka | Em 30 de Abril de 2021. -
Mundruczó não economiza no realismo para explorar o ambiente vulnerável e angustiante que cerca Martha, seja demorando-se em um parto sofrido, que visivelmente exigiu muito de Vanessa Kirby, seja posteriormente explorando o silêncio e as explosões da personagem sem dar explicações sobre seu estado interno. O que inquieta o espectador é a imprevisibilidade da personagem, que age fora de uma linha pré-visualizável dentro de uma narrativa em que não acontece muita coisa.
Victor Tanaka | Em 30 de Abril de 2021. -
Não diz muito nem discute nada para além do que estamos vendo na tela: uma família lutando pela sua prosperidade, distantes do sonho americano, jogados à própria sorte e a certo misticismo cultivado pelos personagens. É, contudo, bastante charmoso e equilibrado entre o divertido e o dramático, principalmente após a aparição da ótima Youn Yuh-jung, a alma do filme. Os instantes finais, apesar dos contrassensos narrativos, são bonitos de se ver.
Victor Tanaka | Em 24 de Abril de 2021. -
Há um grande problema social sustentando as motivações do enredo, mas o filme nunca consegue alcançá-las, preferindo ficar mesmo no âmbito familiar, nas relações controversas sobre as quais se pautam a ideia de família. Escandalosa, suja e melodramática, a obra possui, claro, interessantes momentos de gritaria e caos, concentrando os bons momentos sempre nas figuras de Amy Adams e Glenn Close. Foi um filme feito para elas.
Victor Tanaka | Em 24 de Abril de 2021. -
O primor técnico de David Fincher convida o espectador a um mergulho em camadas sombrias dos bastidores cinematográficos da época, com figurinos deslumbrantes e jogos de luz e sombra que nada devem aos clássicos filmes noir. Além disso, a ótima interpretação de Gary Oldman coroa alguns dos melhores momentos, como seu monólogo na cena de jantar. Mas, infelizmente, a longa duração, abarrotada de referências fílmicas, políticas e ao próprio Cidadão Kane, torna o filme cansativo.
Victor Tanaka | Em 24 de Abril de 2021. -
Poderia ser só uma biografia, perdida dentre tantas outras, reais ou fictícias, não fosse pela linguagem original, já exaustamente comentada, que confere ao roteiro a forma de um quebra-cabeça em busca de uma única peça. A misteriosa palavra Rosebud, hoje um símbolo no imaginário popular, de fato consegue explicar toda a complexidade de Charles Foster Kane, cuja construção psicológica movimenta o filme, afeta os personagens e reflete nossa sociedade.
Victor Tanaka | Em 24 de Abril de 2021. -
A passagem do mudo sonoro para a dimensão do silêncio, experimentada de forma súbita e agonizante pelo protagonista, tem consequências exuberantes: no enredo, uma charmosa história de adaptação e recomeço; mas o que mais chama a atenção, no nível da forma, é o glorioso aspecto de mixagem de som, que condena os sons a ecos de um mundo distante, e posteriormente a sinais do caos e do desconforto do nosso mundo barulhento. Transpõe para todos os níveis, de forma imersiva, a dor de um personagem.
Victor Tanaka | Em 14 de Abril de 2021. -
Há tanto para se ver, tantos detalhes co-ocorrendo, que a experiência pode ser fascinante ou desgastante. Ainda que seja um assunto já muito tratado, a abordagem não deixa de ser inovadora e válida, além do aceno de que todos os acontecimentos de uma sociedade estão inequivocamente interligados, como micro-ações, realizadas por indivíduos minúsculos, diante de algo maior e mais importante que a frágil individualidade de cada um. A trilha sonora catastrófica, entretanto, destoa.
Victor Tanaka | Em 14 de Abril de 2021. -
O que perdura após sua exibição é a discussão onipresente sobre o álcool como entretenimento e escapismo. Não é um filme que exalta nem condena as experiências alcoólicas, mas sublinha a necessidade do controle sobre as próprias escolhas. Os destinos não se justificam unicamente pelo efeito do componente alcoólico, mas também pelo fator humano. Mads Mikkelsen está fabuloso e protagoniza algumas das cenas mais divertidas e revigorantes do ano.
Victor Tanaka | Em 11 de Abril de 2021.