Lupas (330)
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O clássico suspense de Polanski, por meio de um roteiro conciso e esperto, consegue manter seu mistério até o final, por meio da revelação lenta de detalhes. Questões familiares e políticas são mobilizadas em uma trama que, até o final, pode terminar em qualquer lugar. Além disso, é um filme que esbanja classe: os atores agem e se vestem como ícones do noir (de fato, após o filme, seus personagens se estabeleceram mesmo como tais), recuperando a essência do gênero sem parecer cafona.
Victor Tanaka | Em 25 de Junho de 2021. -
Mesmo quando a sinopse indica uma direção mais sóbria, Almodóvar consegue articulá-la, sem abrir mão de sua sensibilidade, com o estranho, o insólito. Aqui, como em outros de seus filmes, a obsessão está presente, interligando personagens por relações desconfortáveis, excessivas, às vezes mórbidas. O humor inesperado e a originalidade na constituição dos personagens seguem sendo diferenciais e, certos ou não, repulsivos ou não, nenhuma figura escapa à nossa curiosidade.
Victor Tanaka | Em 25 de Junho de 2021. -
O preto-e-branco fecha os personagens em situações frias, distantes, nas quais a insatisfação com o amor prevalece, levando a questionamentos e diálogos sobre sua própria natureza e suas relações com a liberdade. É, assim, um filme de diálogos e silêncios. Dentro desse âmbito, personagens se interligam por meio de identificações mútuas, segredos e desconfianças, em um dança entre pares quue, desconfortavelmente ou não, sempre deixa alguém de fora.
Victor Tanaka | Em 25 de Junho de 2021. -
Nascido clássico, a obra central de Paulo Gustavo conquista pela simplicidade, pelo formato charmosamente teatral - o monólogo que antes Dona Hermínia tecia nos palcos ganha vida aqui, por meio de esquetes nas quais a voz predominante segue sendo a sua - e o humor exagerado, típico da bomba-relógio que é a personagem: uma fonte inesgotável de desaforos articulam as "falas típicas" de mãe com piadas politicamente incorretas direcionadas a todos os coadjuvantes.
Victor Tanaka | Em 25 de Junho de 2021. -
A tecnologia é desconfortável - tanto no sentido físico, quando os espaços se descaracterizam a ponto de uma casa não se parecer em nada com um lar, quanto no sentido do estranhamento do ser humano com a máquina. Isso está bem representado no filme, aliando uma crítica social finamente tecida a momentos divertidos. Diversas vezes, porém, motes paralelos são traçados e, não tão engraçados, acabam ocupando a maior parte do filme. Por fim, um filme estranho, irregular, mas com momentos de valor.
Victor Tanaka | Em 12 de Junho de 2021. -
Criatividade e autoria preenchem essa narrativa estilosa e expressiva. Desde o início, fica claro que o filme toma um rumo próprio, no qual o clima nonsense dá as cartas, conectando uma sucessão de absurdos que condizem com a personalidade da personagem original - exagero e excesso sempre foram suas maiores características. A parte técnica é impecável, oferecendo figurinos exorbitantes e câmeras que exploram bem os espaços decorados, e as Emmas parecem estar se divertindo em seus papéis.
Victor Tanaka | Em 12 de Junho de 2021. -
É um filme de diálogos - são eles, cheios de nuances, confrontos, mentiras e insinuações, que fazem o ir e vir dos personagens algo tão intrigante, e assim as palavras desnudam tais figuras antes mesmo das ações. Os figurinos e os cenários grandiosos emolduram, portanto, a decadência de uma sociedade cujos podres se ocultam por trás de um decoro relativamente teatral. A força se resume às interpretações e à velocidade da reação, mas Glenn Close se sobressai, roubando para si cada segundo.
Victor Tanaka | Em 10 de Junho de 2021. -
Inequivocamente novelesco, com direto a muito escândalo e confronto de mulheres, o suspense de Adrian Lyne é o portal para a era das icônicas vilãs de Glenn Close, o que sempre lhe caiu muito bem. Sua personagem, um estereótipo da femme fatale selvagem, fogosa e invejosa, ruminando as coisas mais severas em um prédio degradado no centro da cidade, encontra o tom certo na atriz. O desenrolar sexy e tenebroso é o que se espera de uma narrativa desse porte, o que é, de certa forma, positivo.
Victor Tanaka | Em 10 de Junho de 2021. -
É um filme que, realmente, não traz nada de novo, mas sugere uma experiência que dificilmente se ignora. Já se tornou clássica a imagem de Ryan Gosling dirigindo à noite, banhado por luzes neon, enquanto uma trilha sonora eletrônica inspira uma atmosfera futurista. É um filme ágil e com poucas palavras - a comunicação minimalista entre o casal principal é uma das mais interessantes dos últimos tempos -, com desenvolvimento inteligente, mas em algum momento acaba desaguando na violência genérica.
Victor Tanaka | Em 03 de Junho de 2021. -
Repugnante e nojento, a obra de Fatih Akin lança mão de diversos artifícios para construir a figura monstruosa do protagonista e seu mundo fétido, como cenas explícitas de violência, cenários mórbidos e muita sujeira visual e moral. A escolha do título não poderia ter sido melhor: constantemente o diretor desloca o foco do conturbado personagem para o time de coadjuvantes que compõem o Luva Dourada: indivíduos insólitos, decadentes, sem ética, alguns com história, outros envoltos em mistério.
Victor Tanaka | Em 03 de Junho de 2021. -
Não é um filme que apresenta as reviravoltas e o humor negro típicos dos Coen - é, ao contrário, um faroeste bem tradicional, equilibrado até, que poderia ter sido dirigido por vários outros bons diretores. Inclusive o mote da vingança, que marca grande parte das produções de faroeste, está presente aqui de forma menos alardeada. O que mais chama a atenção são o clima de tensão, as ótimas atuações e a relação dúbia que se tece e se modifica constantemente entre os personagens.
Victor Tanaka | Em 03 de Junho de 2021. -
Este violento conto dos Coen é um filme que reúne suas melhores características: uma sucessão de desastres que ligam personagens bem diferentes entre si, alguns dominados pela falta de piedade, outros somente esquisitos em sua ingenuidade. As reviravoltas da narrativa equilibram o suspense e o bom humor, e nessa dualidade, não deixa o interesse do espectador se dissipar, mesmo no desfecho talvez tradicional demais. Frances McDormand está ótima. Nada exuberante, mas simbólica à sua maneira.
Victor Tanaka | Em 10 de Maio de 2021.