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Perfis

Foto de Peter Yates

Peter Yates

Idade
81 anos
Nascimento
24/07/1929
Falecimento
09/01/2011
País de nascimento
Reino Unido
Local de nascimento
Hampshire, Inglaterra

Conheça a carreira do diretor de Bullitt - e de outras 22 produções para o cinema.

Peter Yates nasceu em 24 de julho de 1929, em Aldershot, cidade inglesa localizada no condado de Hampshire, a 30 km de Londres. Após estudar na Charterhouse, escola situada na cidade de Godalming, em Surrey, ele optou por cursar a conceituada Royal Academy of Dramatic Art, já na capital do pais. Aos 19 começou a desempenhar seus primeiros papeis dramáticos. A experiência, no entanto, não foi das melhores e ele resolveu trocar os palcos pelos carros. Entre 1949 e 1953, Yates dividiu seu tempo entre a profissão de piloto de corridas e de gerente da equipe de Stirling Moss. Os ensinamentos que lá adquiriu seriam úteis anos depois, durante as filmagens de Bullitt.

Em 1953, Yates entrou na indústria do cinema. Seus primeiros trabalhos foram como assistente de dublagem de filmes estrangeiros e montador de documentários. Com o tempo, passou a assumir maiores responsabilidades. Virou assistente de direção de longas-metragens, incluindo algumas produções famosas como A Morada da Sexta Felicidade, Filhos e Amantes, Os Canhões de Navarone e Um Gosto de Mel. Também dirigiu alguns episódios das séries O Santo e Danger Man. Em 1963, assinou seu primeiro filme: o musical Summer Holliday, com Cliff Richards. A visibilidade da obra foi prejudicada pelo lançamento quase simultâneo de Os Reis do Iê Iê Iê, de Richard Lester. Apesar disso, Summer Holliday se tornou o segundo maior sucesso nas bilheterias britânicas do ano.

Em 1965, Yates resolveu adaptar a peça One Way Pendulum, de N. F. Simpson, e que ele já dirigira nos tempos de estudante. Ao contrário do seu filme de estréia, aqui Yates conseguiu agradar a crítica, mas não o público, que não captou o espírito bizarro do texto de Simpson.

A carreira de Peter Yates começou a mudar para melhor em seu filme seguinte: Os Vinte Seis do Expresso Postal. Lançado em 1967, o longa era uma eficiente reconstituição de um famoso seqüestro de trem ocorrido em 1963. As sequências de perseguição de carro chamaram a atenção tanto dos executivos da Warner quanto do astro Steve McQueen, que na época procuravam um diretor para o seu próximo projeto: o policial Bullitt. Yates sentou a cadeira de diretor e fez ali o que seria certamente seu filme mais famoso.

Bullitt era o nome do detetive vivido por Steve McQueen, que saía em busca dos assassinos de uma testemunha que estava sob sua proteção. Revisto hoje, a obra já parece sentir os efeitos do tempo, mas a famosa sequência de nove minutos de perseguição pelas ruas de San Francisco ainda impressiona. As características se tornaram marca registrada de qualquer cena do gênero: a visão do perseguidor no espelho retrovisor; a inserção de alguns pedestres e motociclistas inocentes pelo caminho; os saltos mortais dos carros; o emparelhamento roda a roda, com ambos os motoristas tentando empurrar o outro para fora da pista; e finalmente, no último minuto, a inevitável batida e explosão do veículo dos vilões com um posto de gasolina.

Provavelmente Yates nem sabia, mas ele estava criando ali não apenas um elemento novo que seria considerado obrigatório em qualquer thriller de respeito (algo como o duelo final nos faroestes), mas sim um autêntico sub-gênero. Filmes como Operação França, de William Friedkin, e Encurralado, de Steven Spielberg, devem mais a Bullitt do que se pensa. Produções mais modernas como Viver e Morrer em Los Angeles, também de Friedkin, Ronin, de John Frankenheimer, 60 Segundos, de Dominic Sena, e a série Velozes e Furiosos, são mais lembrados pelas sequências de perseguição do que pelos méritos artísticos. Em suma, muitos desses filmes talvez nem existissem se Yates não tivesse aberto as portas 20 ou 30 anos antes.

Logo após o sucesso de Bullitt, Yates mudou-se para os EUA. Ele sentia que estava no auge e começou a experimentar novos caminhos. Aventurou-se pelo romance (no delicado John e Mary, com Dustin Hoffman e Mia Farrow), no filme de guerra (O Último Combate, com Peter O´Toole), na comédia de assaltos (Os Quatro Picaretas, com Robert Redford), e no drama criminal (Os Amigos de Eddie Coyle, com Robert Michum, e que muitos consideram seu melhor filme).

A partir daí, sabe-se lá por que, os filmes de Yates começaram a revelar um certo cansaço. Em 1974, ele dirigiu Barbra Streisand, então no auge da popularidade, na comédia rasgada – mas que não vai a lugar nenhum – Nossa, que Loucura! Em 1976, manteve-se na comédia com o insosso Emergência Maluca, com o improvável trio de protagonistas Rachel Welch, Bill Cosby e Harvey Keitel. Em 1979, foi chamado para dirigir O Fundo do Mar, superprodução da Columbia estrelada por Nick Nolte, Robert Shaw e Jacqueline Bisset, cuja camiseta molhada, hoje, é mais lembrada do que o próprio filme. Uma revisão geral dessa fase da carreira de Yates revelam obras até interessantes. No entanto, mas já é possível notar ali um diretor no piloto automático.

Yates teve uma sobrevida com o lançamento de O Vencedor, que ele dirigiu e produziu em 1979. No elenco, jovens atores que se tornariam famosos no futuro, como Dennis Quaid e Daniel Stern. Eles interpretavam dois dos quatro adolescentes que, por intermédio das corridas de bicicletas, lutavam para se destacar na pequena cidade de Bloomington, no Estado de Indiana. Através de uma narrativa leve e falsamente despretensiosa, Yates discutia temas importantes para a América da época, como o sistema educacional e a mobilidade social dos jovens. O filme conquistou a simpatia do público, da crítica e da Academia, que o nomeou a cinco prêmios, inclusive melhor filme e direção, ambas para Yates. O grande prêmio daquele ano foi para Kramer x Kramer, mas O Vencedor levou para casa o de melhor roteiro original para Steve Tesich.

A dupla Yates e Tesich voltou a se reunir em 1981, para realizar o suspense Testemunha Fatal, com William Hurt – em seu segundo filme para cinema – e Sigourney Weaver nos papeis centrais. Ela interpretava uma ambiciosa jornalista de televisão e ele, a sua fonte. Mas a tensão era mínima e a falta de química entre os protagonistas esfriaram o resultado final. Em 1983, Yates desceu mais um grau ao aventurar-se na ficção científica Krull, em que a qualidade dos efeitos especiais – para a época – e o luxo dos cenários não compensaram a pobreza da história.

No mesmo ano, Yates voltou para a Inglaterra para dirigir um dos seus filmes mais ambiciosos: O Fiel Camareiro, adaptação da peça de Ronald Harwood. Yates não escondeu a origem teatral do texto, e acentuou o duelo de interpretações entre seus personagens centrais: um ator especialista em Shakeaspere e já em decadência (Albert Finney), e seu assistente (Tom Courtenay). O Fiel Camareiro não se parece com nenhum outro trabalho de Yates. Não há ação, os diálogos são incessantes e a câmera praticamente não sai de um único cenário.  Há um quê de Joseph Losey no ar, provavelmente gerado pela disputa psicológica entre os protagonistas e o clima austero do roteiro. O resultado agradou em cheio a crítica, o que proporcionou ao filme uma penca de indicações ao Oscar, Globo de Ouro e BAFTA. Yates foi indicado a todos esses prêmios, mas não levou nenhum. Para compensar, Albert Finney recebeu o Urso de Prata em Berlim.

A partir daí a carreira de Yates não decolou mais. Entre 1985 e 1989, ele dirigiu o drama Eleni, no qual John Malkovich investiga a morte da sua mãe por comunistas durante a Guerra Civil na Grécia em 1949; o filme de tribunal Sob Suspeita, com Cher, Dennis Quaid e Liam Neeson; o thriller Pesadelo na Rua Carroll, com Jeff Daniels e  Kelly McGillis (há atores que combinam menos que esses dois?); e o filme de prisão A Revanche Final, com um envelhecido Tom Selleck. Para quem trouxera um novo frescor para o cinema de ação no fim dos anos 60 e começo dos 70, era triste ver um diretor embarcando em projetos por mais descartáveis.

Ao longo dos anos 1990, Yates realizou apenas quatro filmes, sem que nenhum tivesse deixado maior impressão: em 1992, dirigiu O Ano do Cometa, que muitos consideram seu pior trabalho; em 1995, lançou a comédia dramática Dupla sem Par, que se valia muito da interpretação de Peter Falk; no mesmo ano, voltou a dirigir Albert Finney no drama Um Passo Para a Liberdade; a fantasia Adoráveis Fantasmas, com Michael Caine e Maggie Smith, foi seu último feito para cinema.

Antes de pendurar as chuteiras, Yates ainda dirigiu dois trabalhos para a televisão: uma versão de Don Quixote, em 2000, com John Lithgow no papel principal, e o drama juvenil A Separate Peace, sobre um grupo de adolescentes que cresce à sombra da 2ª Guerra Mundial.

Peter Yates morreu em 09 de janeiro de 2011. Tinha 81 anos. Dirigiu 23 filmes para cinema. Muitos não deixaram uma maior lembrança. Mas naqueles em que o diretor estava motivado ou que o tema lhe fosse próximo, é possível perceber seu sangue correndo nas veias e um bem vindo frescor no modo de narrar as histórias. A variedade de gêneros e a inconstância geral da sua obra, indicam que Yates talvez nunca tenha encontrado seu verdadeiro estilo. Quem sabe, nem tivesse um. Ou, vai saber?, nem estava preocupado com isso. No fundo, seu grande barato era dirigir cenas de perseguição de carros. Elas resumiam bem seu modo de pensar e fazer cinema: "No começo você estabelece a antecipação. O meio deve confundir as pessoas, de modo que não se saiba o que vai acontecer. O final é quando os mocinhos vencem."