III SINISTRO FEST 2024 - DIA 002 – 10/10/2024
III SINISTRO FEST - Segundo dia de exibições
(Foto: Ted Rafael, arte de Ispaide Idilécio - Ispaide Studio)
Pândego. Sabujo. Experimental. Nojoso. Estraçalhador. Destrutivo. Vibrante. Sagaz. Excelente. Mais ou menos. Duvidoso. Não-embromador. Anti-frescuras (totalmente?). Iniciante. Não iniciante. Existente. Forçoso. Nervoso. Pútrido. Apavorador. Ameaçador. Divertido. Íngreme. Na altura que vossa criatura desejar. Espacial. Caído. Máquina. Escrito. Visto. Escutado. Sentido. Avacalhado e organizado. Sem sentido no que tange a fazer um sentido total. E por vai. E fica sem ir, mas vai indo adiante sem cessar. Orquestrado. Fotografado. Abrupto. Intrigante. Acovardado. In e significante. Cheio de plantas. Metálico. Colorido e em preto e branco dureza. Apocalíptico. III. SINISTRO. FEST. FILM. FESTIVAL. FESTIVAL. FILM. SINISTRO. III. Participação de Nathan Ary.
Writer's Block (Writer's Block, 2023). De Steven Schloss. Foto: Divulgação.
Writer's Block (Writer's Block, 2023). [Estados Unidos 8min]. De Steven Schloss.
Ignorância pura. Estupidez. E tem uma mensagem marota ali. “What a Hell is thine.” Gore de leve. Escrevendo na máquina com sangue e tudo. Automutilação. E cigarro. Tá preso pra escrever atrocidades? E nisso, para se inspirar, estraçalha o próprio corpo no caminho. Navalha na carne "A doença é meu remédio." Voz escabrosa. É interessante ver a brutalidade do filme com ambiência asquerosamente funcional – além da boa e velha violência –, enquanto propõe a loucura de uma criatura a dar a própria carne pela escrita. Seria esta uma inspiração por sobre quem trabalha na área e tem de se lascar para entregar um trabalho de prazo apertado, no qual se apodrece mentalmente pela pressão? A sagacidade da ideia passa por aqui. O elementar seboso que o filme apresenta acaba por servir de corroboração grosseria pela ideia estafante do desespero via pressão para escrita. Nada lisonjeiro ou delicado. O contrário disso. E chama atenção dos espectadores da forma mais deliciosamente imbvecil possível. Pela destruição da carne. E tem em seu final o fechamento divertido que sua ironia merece.
Por Ted Rafael
Jaguanum (Jaguanum, 2023). De Samuel Lobo. Foto: Divulgação.
Jaguanum (Jaguanum, 2023). [Brasil 20 min]. De Samuel Lobo.
É um dia bonito no Rio de Janeiro, mas Redson está doente. Tão botando pilha pra ir pra Jaguanum! Desastre ambiental é a própria vida na cidade. A água que cai do chuveiro, leva a sujeira do corpo até o ralo, para retornar aos esgotos abertos, e depois, na água que irás beber. As feridas no corpo não param de crescer. Arrume um emprego. O principal perigo não é só uma bactéria na água, é um espírito da floresta. Retornar às selvas, ficar ao lado do jaguar, aflorar sentidos esquecidos por conta da rotina do trabalho. A raiva explosiva que grita com o amigo, o tesão que alisa a perna da parceira, a fome que imagina que um poodle de patrícia deve ser saboroso. As pequenas corrupções do mundo trabalho e da utilidade. Os zumbis do capital. Os mortos-vivos não retornam, já estão aí na cidade desde o princípio. Em Jaguanum, a vida que assombra a morte.
Por Nathan Ary
Hypnosis? (Hypnosis?, 2023). De Sergio Skidanov. Foto: Divulgação.
Hypnosis? (Hypnosis?, 2023). [Espanha 6min]. De Sergio Skidanov.
LEGENDAS COPIADAS DO FILME HYPNOSIS. [“...Imagine um vídeo assustador com imagens hipnóticas sendo reproduzidas em uma sequência precisa...”] [“...Com uma combinação especializada de sons assustadores, padrões visuais hipnóticos e narrativas perturbadoras, é possível desencadear respostas subconscientes no espectador...”] [“...Olhe fixamente para a tela...”] [“...IAs são deuses criadores que controlam o espaço e o tempo...”] [“...teogonia tecnológica ou cosmicismo cibernético.”]. FIM DAS LEGENDAS COPIADAS DO FILME HYPNOSIS. Pegue aí este experimento visual intrigante que alopra na quantidade de informações tanto em texto – principalmente – quanto em imagem. Para causar confusão mesmo. E ZUADA. Preto e Branco. Ruínas. Plantas tomado de conta. Um apocalipse? Ias dominam. Muito doido. Uma sagacidade aqui, enquanto o discurso frio é demonstrado, as imagens vão num estraçalhar de sentidos e colagem que denominam não só a passagem de tempo, mas a nossa suposta destruição perante ele. O sujeito inventa de entrevistar uma Inteligência artificial e dessa entrevista consegue dialogar sobre função das IA’s, assim como aplicar um mordaz comentário social sobre avanço tecnológico. É uma plena epistemologia do esculhambatório aloprada na prática do discurso. Impacto de se ver no cinema um troço desses. A IA como tal reponde baseada em um vasto banco de dados e ela tem suas limitações (propositais e não propositais), e no caso aqui tem a serventia de identificar com quais problemas ela não consegue lidar. A emoção. E nisso faz um leve arcabouço do crescimento das IA’s, apostando até no citado apocalipse humano enquanto a frieza das máquinas poderá (deverá) permanecer. Ora, a responsabilidade de criação é nossa, e como tal as IA’s só possuem a responsabilidade mínima que nós as ensinamos a terem. A fita aqui pega esta responsabilidade e põe a prova em como uma IA não pode operar determinados serviços de apoio à humanos, isso enquanto responde sobre domínio global. É a ironia funcional que estabelece que nós vamos ser os nossos próprios destruidores, e caso esta contemplação absurda ocorra, as IA’s vão herdar a nossa falta de empatia para além do fabrico delas, mas como somos por vezes incapazes de admitir tanto nossa pequenez universal, quanto nossa pequenez mental e social que nos mostra uma possibilidade de fim que não parece ser tão absurdo assim.
Por Ted Rafael
Guerra Civil (Guerra Civil, 2024). [Brasil 25 min]. De Flávio Carnielli. Foto: Divulgação
Guerra Civil (Guerra Civil, 2024). [Brasil 25 min]. De Flávio Carnielli.
Os mestres loucos. Fanáticos em busca de desvendar o segredo sobre suas próprias naturezas, a partir da destruição. Deus não nos abandonou e isto que é tão assustador. A Trindade Sagrada no centro da história, mas profanada. Pai, filho e mãe! O espírito santo está num porão sendo continuamente torturado pela fúria dos homens. A fúria clama pelos deuses da guerra. Os tempos mudaram? Não. Jesus, Lúcifer e os Serafins. São os deuses de sempre. Tudo é da guerra. Filme-epopeia. Os blocos de tempo existem independentemente, mas também levam a um todo. As palavras são de falsos profetas, então não levam a lugar algum. Não movem realmente o filme. Guerra Civil é primordialmente sobre as coisas físicas. As criações sagradas. O suor, o sangue, a poeira, as vísceras, o metal, o fogo, a ferrugem. Tudo em tela existe porque se crê na invenção, se tem fé na ficção, um pecado capital pro cinema brasileiro. "Precisamos mesmo é do Diabo", profetiza Zé Bonitinho em Sem Essa, Aranha.
Por Nathan Ary
Sala De Espera (Sala de Espera, 2023). De Paula Santos. Foto: Divulgação
Sala De Espera (Sala de Espera, 2023). [Brasil 27 min.]. De Paula Santos.
Idosa Perambulando. Uma eterna espera dela. Como o idoso tem sua relação com tempo e espaço. Filme mostrando pessoas a esperar. E ela ao centro. Naturalista. Ela não dialoga (canta a certa altura). E a água derramada? E tome ela perambular. Um curta interessante ao demonstrar em sua feitura como o idoso por vezes tem a solidão como configuração unívoca de existência em seu findar de trajetória. Como se fôssemos compelidos a trilha esse caminho de fim. A personagem não segue só esperando para ir a algum lugar, ela espera ser notada. Que alguém tergiverse qualquer besteira com ela. Que haja algo além de seu abandono. Ela fala consigo mesa por não ter mais ninguém. A sua solução é cantar. Algo alegre talvez, mas de percepção agridoce, já que o máximo que ela consegue é a curiosidade de alguém passa por trás, algo que mais parece um sinal acidental de alguém olhando um filme sendo gravado. Algo que está se tornado cada vez mais usual não só pelo envelhecimento dalgumas populações de certos países onde a natalidade deve ser estimulada, mas sobre o tratamento geracional dado aos jovens, que vão num crescente de preocupação em resolver os problemas de suas próprias cabeças, sendo que acabam por atestarem em descompanhia para com próximo familiar. É uma dialética escrota. E o que sobra como resultado é idoso solitário.
Texto parte da cobertura III SINISTRO FEST 2024.
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