A idéia central do filme acaba tornando-se sua verdade cruel, mas absoluta: Estamos com a Alice errada. E pobre Tim Burton, não conseguiu encontrá-la.
O longa sobre Alice no país das maravilhas de Tim Burton parece sofrer da síndrome de Avatar. Tão preocupado com a estética e com os zeros na conta bancária que filmes 3D proporcionam, esquecem-se de que um bom roteiro nunca é demais. A idéia de dar um ar mais sombrio, comum nos filmes de Burton, ao clássico Alice de Lewis Carroll, é sensacional, pois a história dá claros subsídios para isso e é considerada a mais sombria história para crianças. Se Burton tivesse contado a história da pequena Alice inventada por Carroll e tivesse preocupado-se apenas em dar seu tratamento estético e sua experiência de direções bem-sucedidadas, teríamos um clássico. Mas ele resolveu ir além. Quis contar outra história, uma história dele. Meteu os pés pelas mãos.
Durante todo o filme escutamos Alice repetir incansavelmente: Eu não sou a verdadeira Alice, eu não sou a verdadeira Alice. E o que se esboça na tela é algo amplamente previsível, um final totalmente palpável, que se faz conhecer logo nos vinte primeiros minutos da projeção. É incrível como Tim Burton consegue ir ao País das Maravilhas e mesmo assim se afogar em clichês.
O excesso visual impressiona, os efeitos especiais são muito bons e a trilha sonora é aceitável, apesar de repetida (em A Fantástica Fábrica de Chocolate).A idéia de colocar a Rainha Vermelha com uma cabeça grande é louvável e seria perfeito se não fosse banalizada tantas vezes pelos pobres diálogos presentes no filme. Além dela, o gato também é memorável e fica como boa recordação. Outra boa idéia foi a representação da metamorfose da lagarta enquanto Alice amadurece a ideia de matar o dragão durante o filme. Apesar de toda a parte boa do filme, imperam as más recordações. Johnny Deep nunca fez um papel tão deplorável. O Chapeleiro Maluco de Tim Burton não é maluco, é um débil mental em depressão e o tal passo maluco inventado para ele não passa de uma tentativa frustrada de fazer o filme cair na graça dos adolescentes. A rainha Branca é tão insossa quanto a sua maquiagem e coube a Helena Boham Carter salvar o filme com sua atuação sempre magnífica. . Como já disse, já sabemos desde o início do filme o seu fim e isso decepciona demais. A batalha do final do filme é extremamente óbvia e sem graça e dá mais ainda a idéia de que o filme não decola nem por um decreto. Apesar de tentar contar uma saga, e apesar de Alice supostamente assumir o papel de uma heroína no longa de Tim Burton, tudo não passa de lorota que não empolga. Ao final, ainda temos que engolir as conclusões de Alice, que sabe-se lá de onde ela tirou, já que passa o filme todo reclamando que não é a verdadeira Alice e que não vai matar dragão nenhum.
Ficamos com a sensação de que poderia ter sido muito, infinitamente melhor e isso incomoda demais, e como incomoda!
Tim Burton, que já entregou trabalhos maravilhosos como Eduard, mãos de tesoura, errou feio na mão. Talvez tenha sido a pressão da Disney, talvez tenha sido o deslumbramento com o visual que conseguiu. Fica o medo de que daqui pra frente os efeitos especiais façam as honras do cinema e que depois da transição do cinema mudo para o falado, façamos uma transição do cinema falado para o visualizado. Estamos com a Alice errada.
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