Não há como negar que quando Avatar estreou houve o surgimento de dois grupos muito distintos: o primeiro composto de pessoas que viram em Avatar a máxima do cinema, o filme do século, uma grande obra prima, que jamais seria superada. E o segundo onde pessoas não conseguiram esconder a decepção pelo filme, e viram em Avatar um filme fraco, que utiliza de artifícios tecnológicos para conseguir se manter, digamos assim, "vivo". Eu, particularmente, pertenço ao segundo grupo.
O marketing criado em torno de Avatar prometia uma obra revolucionária, onde qualquer pessoa que o assistisse sairia maravilhada da sala de cinema, pois teria presenciado o ápice do cinema como nós o conhecemos, pois haveria um cinema pré-Avatar e o cinema pós-Avatar. Tenho que admitir que fui com certo entusiasmo ver o filme, já que todos descreviam o filme como espetacular. Porém, tamanha foi minha decepção ao sair da sala de exibição, que perguntei a mim mesmo: "Será que valeu a pena ter gasto o ingresso para assisti-lo?".
Durante a exibição do filme era perceptível a reação que as pessoas tinham a assistir Avatar: todos muito maravilhados e empolgados com o que era exibido na tela. Eu, porém, já me sentia exausto após a primeira hora de exibição. Já estamos acostumados e sabemos que Cameron possui fragilidades com o roteiro de seus filmes. Cameron é megalomaníaco, visto que sua ambição em Avatar é mostrar o que ele pode fazer com o uso de computadores (montar um universo grandioso, com imagens que levem as pessoas a suspirar a cada apresentação), e não contar uma história que se mantenha durante (longas e cansativas) quase três horas de filme.
Como já disse, roteiros fracos são quase como uma especialidade de Cameron, e esse ponto está presente em Avatar (assim como em Titanic, outra obra do diretor/roteirista, que prima pelo visual, mas peca em um história que seja empolgante). A história é conhecida: seres humanos destruíram praticamente todo o ecossistema do planeta Terra, e encontram em Pandora a solução para seus problemas. O planeta é habitado por uma raça que vive em perfeita comunhão com a natureza e possui um nível muito baixo de tecnologia.
Pela primeira vez, vejo uma inversão de papéis: os seres humanos são a espécie ameaçadora com alto poder de fogo, enquanto os "aliens" são desprovidos de tecnologia de guerra. A metáfora de um povo forte que oprime um mais fraco poderia ter funcionado muito bem se Cameron tivesse trabalhado melhor essa parte da história, mas ele, porém preferiu destacar a parte visual do filme. São constantes os momentos em que um diálogo é interrompido em favor da visão de Pandora, é isso acaba incomodando, e muito, por que faz com que tudo pareça cortado pela metade. Furos assim são frequentes, não somente por não haver continuidade, mas também por não desenvolver alguns personagens. Os vilões, por exemplo, são gananciosos e isso só basta para explicar suas atitudes, não existe algo que leve a crer o porquê de agirem de tal forma. E não posso deixar de dizer que desfecho para personagem de Sam Worthington fica claro desde o primeiro momento que este se liga com seu avatar, não deixando nenhuma surpresa.
O visual de Avatar é sim muito bem feito, mas nada que justifique a insistência de Cameron de mostrá-lo a cada meio segundo, é chato e não sustenta o filme sozinho. Depois da primeira hora, se torna exaustivo e perde todo o encanto, e por quase três (longas e cansativas) horas chega a ser insuportável, e nem mesmo o 3D que proporciona um pouco de exclusividade ao filme, consegue ajudar a tornar tudo menos maçante. Avatar talvez desse muito mais certo como um documentário de um canal sobre o meio ambiente, do que como o filme "espetacular" que foi vendido. Não fiquei surpreso quando vi o Oscar de melhor filme ser entregue à Guerra ao Terror, uma vez que achei a indicação de Avatar para a categoria como algo presunçoso.
Avatar, talvez, sirva para mostrar que os efeitos especiais e uso de tecnologia são coisas que podem ser muito bem aproveitadas. Mas chamar de Avatar de "filme do século" não é um pouco demais? Acredito que sim.
Avatar pode ser considerado uma obra-prima? Ou um divisor de águas? Existe um cinema pré-Avatar e um pós-Avatar? Avatar mereceu todo o reconhecimento que teve?
Acredito que não.
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