Continuação que expande o universo distópico do original com inteligência e complexidade.
É possível que nem o próprio James Cameron tivesse consciência da revolução que iria causar na indústria cinematográfica com o lançamento de O Exterminador do Futuro. A quase perfeita aliança entre ação e ficção cientifica fez história, representou um avanço na indústria dos efeitos especiais e ratificaria o rosto de Arnold Schwarzenegger como um dos principais do gênero nos anos 80 — um feito alcançado com poucos recursos e muito esforço por parte de Cameron.
Com as várias pontas soltas da história original, uma continuação sobre a futura batalha entre homens e máquinas seria inevitável e sete anos depois somos novamente apresentados ao mesmo universo, no qual Sarah Connor (Linda Hamilton) se encontra presa num hospital psiquiátrico para criminosos insanos, distante de seu filho John Connor (Edward Furlong), que vive com pais adotivos e cresce como uma criança rebelde. É quando um novo modelo de Exterminador é enviado do futuro para assassinar John Connor, o que leva a resistência do futuro a reprogramar o modelo T-800 (Schwarzenegger) e enviá-lo ao passado para proteger John do novo modelo assassino.
Durante o intervalo que separa os dois filmes, Cameron arriscou-se por outros caminhos ao trabalhar no eletrizante Aliens - O Resgate e O Segredo do Abismo, este segundo também um projeto bastante pessoal do diretor. Tais experiências certamente conferiram maior confiança para que Cameron também se arriscasse na expansão do futuro distópico apenas dito no primeiro filme e visto rapidamente aqui na abertura do longa, dando ao espectador a dimensão do ponto em que a luta entre homens e máquinas se encontra no futuro. Não apenas isso, Terminator 2 é também mais complexo do ponto de vista narrativo, pois, enquanto o primeiro seguia mais direto e simplista, o roteiro de Cameron em parceria com William Wisher Jr. brinca com mais afinco em cima das viagens do futuro, uma vez que o objetivo agora é alterá-lo e impedir o dia do Juízo Final. Ambos os roteiristas respeitam toda a mitologia construída anteriormente, utilizando não apenas a história como uma ligação entre os filmes, mas se valendo de outros pequenos pontos mais sutis que, ao serem resgatados, validam a sequência e justificam sua continuidade.
Um dos pontos mais inesperados e bem-vindos de T2, entretanto, é justamente sua aura mais “humana” sobre os personagens, e aqui é incluída até mesmo a figura robótica e inexpressiva de Arnold Schwarzenegger. Em determinado ponto da fita, descobrimos que a reprogramação do T-800 se baseava no estudo e aprendizado da dinâmica humana, obrigando o robô a adotar certas características que o aproxima dos humanos. Mesmo as cenas cômicas, como John sugerindo ao robô que ensaie um sorriso, fazem parte do processo de humanização do próprio personagem e de sua relação quase paternal com John. Estendendo o leque, também ficamos sabendo que o ataque da Skynet à raça humana ocorreu simplesmente por um sentimento de ameaça e autopreservação quando os humanos perceberam que a máquina havia adquirido consciência própria e tentaram desativá-la. São pequenos pontos que adquirem grande importância dentro dos objetivos de expansão propostos por Cameron.
A interação entre T-800, John e Sarah Connor acaba também sendo um dos pontos mais funcionais de T2. Além da já mencionada relação paternal do robô com John, Sarah, agora uma mulher determinada e vítima da descrença de muitos ao seu redor, se vê finalmente na oportunidade de estar com o filho e protegê-lo da ameaça do T-1000 ao lado do T-800, antes um rosto inimigo, mas agora um forte aliado em sua esperança de conseguir alterar o futuro e sua desgraça aparentemente iminente. A própria mensagem feminista do primeiro longa é reforçada pelo roteiro ao transformar Sarah numa mulher ainda mais repleta de conflitos e dilemas, em que algumas de suas atitudes são levadas pelo amor e pelo desespero. E tais personagens jamais funcionariam tão corretamente se seus intérpretes não estivessem à altura.
Schwarzenegger segue construindo uma perfeita aliança entre suas desvantagens dramáticas e seu porte intimidador, com seu rosto de expressão congelada e dicção quase sem vida funcionando como contrapontos ideais às tentativas do robô em reproduzir certas características humanas (e o processo é tão funcional que até mesmo o maior dos marmanjos deve ter deixado rolar uma lágrima nos momentos finais). Linda Hamilton confere força e segurança à transformação de Sarah, capturando muito bem a complexidade que agora toma conta da personagem, dividida entre o real objetivo de sua missão e aquilo que lhe parece moralmente correto. E Edward Furlong é responsável por encarnar aquele que, talvez, tenha sido um dos personagens mirins mais contagiantes do cinema. Ao contrário da maioria do que costumamos ver no gênero, John passa muito longe de ser uma criança indefesa e digna de pena; ele é dono de uma personalidade bastante independente, mas sem transparecer alguma arrogância, o que o torna um rosto tão interessante quanto os de Hamilton e Schwarzenegger. Não podemos esquecer, é claro, do T-1000 de Robert Patrick, de postura e expressões ameaçadoras e marcantes, desumano na medida certa para causar arrepios no espectador.
Mas não foi apenas a complexidade narrativa de T2 que fez história. Com um orçamento bem mais generoso ao seu favor, Cameron revolucionou e inovou dentro da indústria de efeitos visuais, algo em semelhante escala ao que os irmãos Wachowski viriam a fazer oito anos mais tarde com Matrix. Mesmo após os 24 anos que se passaram de seu lançamento, o filme ainda encanta e surpreende com sua computação gráfica, muitíssimo bem encaixada e ainda mais realista que de muitas produções contemporâneas. Isso porque Cameron não se vale apenas delas, mas também faz uso de efeitos práticos e cenas de perseguições reais para nos mergulhar ainda mais na emoção das cenas de ação, e tal opção nos rende algumas das cenas de batidas e explosões mais emocionantes já vistas no gênero.
Pecando apenas numa certa quebra de ritmo que acontece lá pela metade da projeção, O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final é visto até hoje como um marco em vários sentidos na história do cinema, seja por seu roteiro complexo e inteligente, algo cada vez mais raro nos filmes de ação contemporâneos, ou por sua revolução tecnológica, vista até hoje como uma grande referência. É de continuações como essa, grandiosas e representativas, que o cinema precisa.
Se todos esses detalhes repreresentam mesmo 'falhas ou furos' no roteiro (coisa que é difícil afirmar, já que vuagem no tempo é um tema complexo), não deveriam causar estramheza à ninguém já que o cinema de Cameron sempre foi repleto e até marcado por tais incoerências.
Só quero esclarecer que gosto muito do filme, acho um puta filme de ação, e está entre meus prediletos...
Só quero esclarecer que gosto muito do filme, acho um puta filme de ação[2]
O filme é um porre, mas a crítica está ótima.
o.O