Para entrar no mundo de Tim Burton, é preciso se abrir para a experimentação, para o diferente, para o surreal. Foi assim em toda a sua brilhante trajetória no cinema. Burton é capaz de envolver o espectador em suas tramas como poucos diretores conseguem fazer. Talvez aí resida o maior pecado de Alice no País das Maravilhas. Esta versão da história clássica de Lewis Carroll tem um visual espetacularíssimo, mas carece de carga dramática. A metáfora da menina que se descobre mulher e que tem que enfrentar os desafios da vida mundana acaba diluída em meio a tanto rebuscamento visual - sem que o roteiro seja trabalhado adequadamente. O filme todo foi conduzido apenas para encher os olhos, sem que enchesse a mente. Talvez por isso sinta-se tanta inquietude em determinados momentos do filme, onde vê-se apenas um 3-D sem profundidade (diferente de Avatar, que envolvia o espectador durante seus longos 165 minutos).
O visual é obviamente estonteante, com cores absurdas e cenários estupendos, numa composição digna de muitos Oscars. Mas o roteiro é pífio e não avança a lugar nenhum. Não é esse o único problema: o 3-D inserido na pós-produção deixa o visual muito artificial (e determinadas cenas têm qualidade de 3-D questionável).
No campo das atuações, Johnny Depp funciona de novo como o alter ego de Tim Burton, que aqui parece ter alternado momentos esquizofrênicos, já que como o Chapeleiro, o diretor não sabia para que ponto ir. Mia Wasikowska, como Alice, é uma presença magnífica, mas insignificante dentro da história. Helena Bonham Carter, como a Rainha Vermelha, acaba brilhando mais. Anne Hathaway está horrível como a Rainha Branca.
Alice no País das Maravilhas é pouco dentro do que se propunha. Investiu-se demais no visual e pouco no conteúdo. Para uma obra de Tim Burton, o resultado é frustrante.
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