Discutir homossexualismo no cinema já não é mais uma tarefa restrita à poucos realizadores; e sim, um assunto corriqueiro e cada vez mais comum. Tanto, que a própria originalidade de filmes que tratam do assunto vai sendo corroída através do repetitivo uso desta pauta. Mas ''O Quarto do Suicídio'' vai além do assunto e até o descentraliza em certos momentos, pondo outras discussões na balança. E é por meio de diversos tópicos juvenis que o diretor e roteirista Jan Komasa vai construindo sua narrativa. Ousada, considerando que este é a primeira grande empreitada de Komasa em um longa metragem, tendo antes participado apenas de documentários e filmes para televisão.
O enredo segue a vida de Dominik, um jovem adulto que está em seu último ano de ensino médio; há poucas semanas dos exames finais. Como parte da cerimônia dos formandos de sua escola, ele então participa de um baile envolvendo sua turma. Ao final das comemorações, os amigos e amigas mais chegados de Dominik estão junto à ele curtindo e jogando conversa fora quando uma das garotas desafia um beijo lésbico na frente do grupo. O fato se concretiza, e a brincadeira segue ao ponto de que agora Dominik é desafiado à dar um beijo gay. Sem mais delongas, o jovem mostra-se bem disposto e também concretiza, na frente de câmeras registrando o momento. Tudo vai parar na internet, mas Dominik não se importa, pois acabara de descobrir sua sexualidade.
Os conflitos de personalidade, tão comuns nesta idade, começam à atormentar Dominik, que tenta à todo custo esconder ou negar sua opção sexual. Muito por conta da rejeição e indiferença que o jovem sofre, principalmente de seus pais, que deveriam incentivá-lo à não ter medo de se aceitar. Komasa trabalha muito aqui esta questão do descaso paterno para com os sentimentos do filho. Os pais de Dominik são bem sucedidos em seus trabalhos e têm amplas condições de mimar o jovem e deixá-lo com uma penca de regalias. E ele aceita o comodismo, se tornando uma pessoa birrenta, infantil e exigente. E a educação dada pelos pais vai, cada vez mais, sendo apontada como falha, também pela enorme falta de diálogo com o filho.
Quando os pais simplesmente não se dispõe à uma simples conversa com o filho e não admitem sua personalidade, este busca outros meios de sociabilização e um grupo que, quem sabe, irá ouvi-lo. Estando no século XXI, é óbvio que a praticidade da internet irá caminhar de braços abertos para sanar os problemas sociais e pessoais de Dominik. Já desiludido, eis que aparece um grupo de jovens suicidas na rede e acaba lhe parecendo a melhor saída. O meio digital se confunde com a realidade, incrementando ainda mais insanidade à cabeça de Dominik, e o fazendo desenvolver um grave estágio de depressão. E Komasa deixa bem claro que trata-se de um pé na bunda do modo de criação paterno atual.
Grande parte do longa se passa dentro de uma espécie de game online, onde o tal grupo de jovens suicidas se encontram e ''interagem''. Fora de vista do julgamento alheio, é possível sentir-se muito mais à vontade do que num espaço público, onde a discriminação rola solta e livre. O problema está em cair num extremo de transportar toda a sua vivência do mundo físico para o digital. Aí os amiguinhos da net passam de grandes remédios contra o preconceito à vilões que injetam doses diárias de um estilo de vida prejudicial, capaz de alucinar seus usuários e tornar ainda mais grave os desvios de conduta antissocial.
De qualquer forma, ''O Quarto do Suicídio'' não é nada mais do que uma crítica voraz ao modo como os problemas sociais e de sexualidade dos jovens são tratados pela família. Fica bem claro que Jan Komasa quis passar um recadinho educacional à seus espectadores, fazendo seu filme soar levemente didático. Mesmo um pouco fora do circuito comercial, a obra carrega diversos maneirismos do gênero. Dominik não é nenhum personagem incrível que vá ter alguma relevância entre tantos filmes com temática adolescente lançados ultimamente. E os pais são bem aquilo que se espera, xerocados. Para o bem ou para o mal, uma rápida visita à este longa-metragem polonês pode sim ser uma boa opção pra quem curte dramas juvenis.
Tenho este filme e nunca assisti. Já me falaram bem dele, mas está no final de uma longa fila que pretendo atualizar.
Belo texto, André.