Antes de tudo, é necessário saber que Bróder é mais um filme feito na favela, com personagens que moram na favela, com tráfico e características bem simples que representa a pobreza de certos lugares do Brasil. Uma pena que este breve alerta tem tirado o interesse de muitas pessoas por ser mais um tipo de “Favela Movie” ou por ser mais um dentre as inúmeras obras que retratam a pobreza, O que é uma grande injustiça por parte de quem não sabe nada do cinema nacional e só conhecem os enlatados comercias, que geralmente são os que degradam nosso cinema, e por isso deixam de assistir ótimos exemplares como este. Esse tema é uma realidade nacional onde há uma riqueza de possibilidades para se explorar cinematograficamente. Compre esta proposta e conheça esta ótima surpresa do nosso cinema.
A visão de alguém da periferia falando sobre a periferia já traz um diferencial bastante notável. Jeferson De, faz do Capão Redondo, periferia de São Paulo, um dos personagens centrais do longa. Sua câmera passa pelos lugares mais íntimos, pelos personagens de todo os tipos, até mesmo um defunto no chão. E os 3 amigos Macu (Caio Blat), Jaiminho (Jonathan Haagensen) e Pibe (Silvio Guindane) são os objetos usados para a exploração dos lugares. No plano inicial, por exemplo, Macu parece estar familiarizado com todos ao cumprimentá-los enquanto desce as escadarias e becos da comunidade. Quase soa artificial fazendo-o parecer um candidato à prefeitura, se não fosse os planos sucessores que comprovam a relação bastante amigável e a união entre os moradores do local que parecem ser os mesmos dentro dos lugares parecidos, como a união e afinidade dentro da comunidade, por exemplo.
Jeferson De está de parabéns pelo seu senso técnico e estético bastante promissor, já que mesmo em seu primeiro longa é capaz de demonstrar personalidade, algo que é fundamental para que seu filme não se caracterize apenas como mais um do sub-gênero da violência urbana brasileira. Seus planos-sequências são muito bem projetados e alguns belos enquadramentos são bastante notáveis. Jeferson De acha desnecessário os movimentos bruscos e muito balanceamento de câmeras e aposta em planos estáticos, os personagens falam em outro lugar mas a câmera continua focada na reação da pessoa que está ouvindo, como na cena do aniversário com a família, por exemplo, os convidados se servem mas não vemos para onde vão, apenas a mesa sendo esvaziada.
Mas isso é só uma característica, um detalhe que difere o trabalho do diretor, mas o poder da história e a afinidade entre personagens que Jeferson De tem nas mãos é o grande potencial de Bróder. Ela acontece em 24 horas, mostrando a relação de três amigos que se reencontram para comemorar o aniversário de um deles (Macu, interpretado por Caio Blat). Após anos sem se verem, as coisas mudaram, os tempos são outros, mas os três parecem manter a mesma condição de amigo um para com o outro. A linguagem dos atores e a expressão corporal também dão uma naturalidade extra aos personagens. Por isso, Bróder tem, sem dúvidas, um dos melhores elencos do ano; Cássia Kiss dando um show como a mãe de Macu, grande personagem inclusive, cristã, casada com um marido problemático e com um filho viciado. Mas são mesmo os três atores que brilham durante o filme, em especial Caio Blat, entregando uma das melhores atuações masculinas do ano. Jaiminho (Jonathan Haagensen), agora jogador de futebol, parece tentar provar para si mesmo que, mesmo famoso e bem-sucedido, não perdeu as raízes humildes.
O roteiro escrito pelo próprio diretor merece muito ser lembrado. Em apenas 90 minutos e sem necessidade de flashbacks ou apelar para uma narrativa que pudesse incluir o passado dos personagens, a história acontece em um único dia, e conseguimos saber muito sobre todos eles e seu passado.
Deixem de lado o preconceito. Bróder é uma grande surpresa e tomara que a carreira de Jeferson De seja promissora.
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