O primeiro filme que assisto do diretor Samuel Fuller já é bastante notável sua visão do mundo e sua forma estilística de explorar o submundo de seus personagens. O diretor não poupa momentos ou diálogos que refletem em todas as perverções da sociedade. A corrupção está ali, a mentira, a insatisfação com o mundo e com a sociedade, a coragem de cometer os atos mais impuros em troca de dinheiro, a lei do mata mata, onde quando um mente, morre e não tem conversa, e principalmente personagens que cometem todo tipo de atrocidade, mas no fundo querem uma vida ou um final feliz.
Em pleno início da Guerra Fria, O mundo criado por Fuller se torna tão real e impactante devido ao realismo de seus personagens, explorando-os até o fundo, e abordando assim sobre os vários tipos de pessoas envolvidas nessas irregularidades. O filme, assim como a maioria dos Filme Noir que assisti, possui uma história que se você resumir, resultaria em uma única frase. E Anjo do Mal é sobre um batedor de carteiras que rouba a bolsa de uma mulher dentro do metrô, e dentro da bolsa contém um microfilme com segredos confidenciais do governo. Candy estava levando-o para o entregar aos donos, e no mesmo metrô, detetives a observavam para ver onde levaria o objeto e então prendê-la em flagrante. Mas Skip o rouba e inicia-se então uma perseguição que será o ponto de partida para o uso da narrativa que mostrará o grande potencial do diretor tanto em sua forma estática quanto em suas abordagens.
O que sempre me fez gostar desses filmes Noir, é a forma de desenvolvimento da história e suas narrativas sempre ágeis e inteligentes. O roteiro de Fuller faz desse pequeno mal entendido uma busca frenética que leva o espectador a ser parte da história, querendo assim como os detetives, solucionar o caso. E nessa corrida, conhecemos os personagens tão reais que esboçam o percurso crítico do filme. A senhora Moe Williams, que recebe algumas gordas gorjetas em troca de informações, Não importa pra quem seja, para a polícia, para os bandidos, se você molhar sua mão com um bom dinheiro, você terá a informação desejada. O mundo de Fuller, quando se trata de negócios, não existe amizade, não existe segredos, por mais que Moe conhecesse o ladrão Skip, sua simpatia por ele não a impediu de fornecer informações sobre ele, que por sua vez ficou feliz em saber que ela cobrou caro pelas informações.
Em meio a fotografia expressiva de Fuller, a bandidagem e o desejo de se dar bem a qualquer custo permeia entre os personagens. Todos querem se dar bem de alguma maneira. A dona da bolsa que tem que agradar o amante e recuperar o microfilme (levantando questões sobre o anticomunismo), o ladrão que ao ficar a par da situação, exige 20 mil dólares pela bolsa, a polícia que quer mostrar eficiência prendendo o procurado número 1 da polícia e Moe, talvez a personagem mais forte da trama, quer reunir dinheiro, pagar sua sepultura e morrer de forma digna e seu maior medo não era a morte e sim uma sepultura anônima. Percebemos que os personagens fazem o que fazem, mais por que precisam e não porque gostam. Então o lado mais fácil é o recorrido. Skip já havia sido preso algumas vezes, foi solto e continuou a cometer o mesmo crime. Era o que ela sabia fazer, e o lado corrompido é sempre o mais recorrido. Não é assim nos dias de hoje?
Fuller exerce um cinema criativo que abre espaços pra novos aspectos cinematográficos através de sua estética como por exemplo sua câmera que foca o rosto dos personagens, parecido com os que veríamos mais tarde nos filmes de Sergio Leone. No metrô, por exemplo, exatamente na cena do roubo, Fuller foca o rosto dos personagens, e captamos seus expressivos gestos de medo, de insegurança, aqueles olhares nervosos e tensos. Em uma das cenas de morte, vemos o revólver apontado para a vítima e antes do desparo a câmera vira em direção à um objeto ao lado e então ouvimos o tiro. Ou então a seqüência final, naquelas tomadas em cima do telhado e na sala de manequins filmada com maestria. E é justamente no seu último ato que o filme peca. E com tanto potencial mostrado no desenvolver da trama, Fuller poderia dar um final menos preguiçoso e terminar a história de fato, não num estalar de dedos sem fechar a história da forma como merecia. Mas claro, isso foi só um detalhe falho, mas que absolutamente não atrapalha o filme ao todo.
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