Com um humor afiado, os irmãos Coen voltam à comédia depois do estrondoso sucesso de 'Onde os Fracos Não Têm Vez' e da vitória no Oscar.
Se eles já se davam bem com um drama pesado e cheio de suspense como a última fita vencedora do Academy Award, por que não voltar aos tempos de 'Fargo' e 'O Grande Lebowski' com mais um excelente humor negro? 'Burn After Reading' é a mais nova peça dos irmãos Ethan e Joel Coen recheada de histórias hilárias, situações tão engraçadas quanto trágicas e personagens interessantíssimos. O filme é fácil de ser assistido e acompanhado, graças a uma duração enxuta de apenas 96 minutos e um roteiro rápido, que não é simples, mas de fácil entendendimento. Mais uma vez, lá se vão os Coen cavar até o fundo da imaginação e criar uma história interessante e extrair dela o melhor da comédia. O resultado foi o que você viu nos cinemas (ou ainda vai ver, se gostar de conferir bons filmes). Não é o melhor filme do ano, mas é uma comédia difícil de se encontrar nos cinemas, especialmente pelos diretores de raros talentos, além de completos, e um elenco excepcional.
Osbourne Cox (John Malkovich) é um agente da CIA que acabara de ser demitido por alcoolismo. Indignado, Cox resolve escrever um livro ou um diário de memórias, que revela informações altamente sigilosas do interior dos prédios do governo. Sua mulher, Katie (Tilda Swinton) fica sabendo da idéia do marido e decide copiar o conteúdo do livro em um CD e usa-lo no processo de divórcio, com o entuito de ficar com o amante e advogado Harry Pfarrer (George Clooney). De alguma maneira, esse CD acaba nas mãos de dois funcionários de uma Academia, o bobalhão Chad Feldheimer (Brad Pitt) e Linda Litzke (Frances McDormand), que tem como sonho e ambição fazer quatro diferentes cirurgias plásticas para remodelar todo o seu corpo de quase 50 anos. Quando descobrem o conteúdo do CD, eles resolvem chantagear Cox, e partindo para uma investigação.
Pra começar a análise, vou comentar primeiramente a direção. Ethan e Joel Coen comprovam ser dois dos melhores diretores da atualidade, capazes de dirigir, escrever e produzir seus filmes e entregar ao público resultados de qualidade. 'Queime Depois de Ler' é altamente bem instruido, e isso é perceptível logo no início do filme, quando os golpes de edição melhoram a primeira impressão do longa. Se tem qualidades bem no início, é também na abertura que percebe-se ser um filme que usa muito de apelos típicos da sátira e um filme pra agradar mais ao público do que à crítica. Mais uma vez porém, os irmãos fizeram bonito por trás das câmeras, e a excelÊncia do roteiro e do aprovaietamento de imagens e do elenco são retratos disso.
Falando em elenco, quem destaca-se mais neste grupo de atores e atrizes repletos de celebridades e grandes nomes do cinema? John Malkovich, pra mim é o melhor de todos. Hilário, compente ao máximo, é sem dúvida um grande ator. Brad Pitt também está brilhante, por incrível que possa parecer, o ator subiu no meu conceito, que antes era absolutamente mínimo. Há quem diga que Frances McDormand exgaera nas caras e bocas, mas sua atuação é repleta de meiguice e reflete a insegurança de sua personagem, ou seja, ponto para a atriz de 'Fargo', preferida dos Coen. Tilda Swinton volta a atuar junto com George Clooney depois do ótimo 'Conduta de Risco' que rendeu à atriz, o Oscar de coadjuvante. Nesta fita, os dois também estão excelentes e diferentes, mais uma vez. Não vejo atuações de baixa qualidade neste 'Burn After Reading', até o coadjuvante dos coadjuvantes Richard Jenkins está ótimo e uma passagem de pouquíssimos minutos de J.K.Simmons mostra que o ator também desenvolveu bem seu personagem, mais para o lado da comédia.
Apesar de ser bastante original e criativo, o roteiro do filme é bem uma mistura de gêneros que se desenvolvem bem durante a projeção. A mesclagem de humor negro com a catástrofe dos minutos finais é muito bem aproveitada e garante ótimas risadas (e sustos também). O roteiro dos Coen também cria cenas muito divertidas, como a do carro e a da casa de Cox. As cenas finais, em especial quando um agente da CIA conta para o seu chefe os acontecimentos que envolveram Osbourne Cox é excelente, a melhor de todo o filme, que prima pelo bom gosto d eum humor de primeira.
'Queime Depois de Ler' também tem seus defeitos de produção. A trilha sonora exagerada de Carter Burwell é uma verdadeira decepção, nada se extrai da música que se apresenta nos momentos mais inadequados do filme, em cenas que há poucos instantes atrás dávamos gargalhadas, vem-se uma música forte beirada ao suspense, extremamente desagradável e sem organização alguma. A direção de arte por outro lado, corresponde bem a uma decoração mais interessante e até mesmo alguns "utensílios" pornográficos garantem risadas. A maquiagem é mais um ponto que exagera um pouco, mas que contribuiu para a imagem de idiota que o personagem de Brad Pitt transmite, e que também deu a McDormand uma aparência mais de "mulher acabada", embora ela esteja muito bem para a idade dela.
Enfim, mais uma competente comédia de humor negro que só perde para 'Na Mira do Chefe' como melhor do ano que passou. Bem dirigido, um elenco impagável e um roteiro que diverte. 'Queime Depois de Ler' é uma lição de moral também, inclusive bem indireta, mas que no fundo mostra que não devemos nos meter em assuntos que não são de nossa conta, e que as consequências, às vezes, podem não ser das melhores. Portanto, se caso algum dia você se depare com um CD que conste segredos confidenciais da CIA no meio da rua, seria bom que você nem tivesse ao menos visto, mas se não tiver outro remédio, o melhor que você tem a fazer é queimar, mas não antes de fazer uma leitura básica.
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