Após uma longa espera, Harry Potter e o Enigma do Príncipe estreia nos cinemas com muito mais a oferecer que os filmes anteriores.
Dois anos após Harry Potter e a Ordem da Fênix desembarcar nos cinemas mundiais, os fãs da série do bruxo mais famoso do mundo podem finalmente curtir o sexto filme e conferir o que se fez com o livro, agora sendo adaptado. Se nos cinco longas anteriores a decepção foi inevitável, é bom que fique bem claro que a série não se esquivou dos cortes. Muito do que estava na obra de J.K. Rowling foi ignorado, ou pelo menos empurrado para a sétima e última parte da aventura de Harry Potter. Mas para a minha surpresa, e para a de outras pessoas, as escolhas feitas pelo roteirista Steve Kloves e pelo diretor David Yates foram mais do que bem sucedidas e não afetaram a história em momento algum. Os fãs, como eu, podem até ficar um pouco decepcionados pelo corte dos que seriam os minutos finais do filme, mas se formos parar pra pensar, tudo foi acertado e cortado de forma inteligente. Este, na verdade, é um dos vários pontos do filme que evoluiram drasticamente, em relação aos trabalhos anteriores.
De fato, o longa todo é uma evolução inqualificável, e é sem sombra de dúvidas, o melhor filme da série até agora. E destaca-se o diretor David Yates, consagrando-se o melhor que já passou pelo cargo desde o lançamento do primeiro filme nos cinemas. Seu trabalho é excelente, organizando cortes, incluindo cenas inéditas, dirigindo os atores, assim como a arte deslumbrante. Yates optou por uma mudança drástica de clima em relação ao quinto filme, que também dirigiu. Apesar da atmosfera sombria, o humor está lá, com presença constante, liberando risadas nos momentos mais propícios, sem exageros e erros na edição. Aliás, para esse tom mais sombrio, Yates quis uma fotografia mais escura também, privilegiando uma mistura de preto com cinza e azul, mantendo o filme com uma aparência mais madura. Enquadramentos profundos, cores sombrias, tudo propicia um a sequência ainda melhor que as expectativas.
Entretanto não é só Bruno Delbonnel que fotografa bem 'Harry Potter e o Enigma do Príncipe', a direção de arte de Stuart Craig nunca esteve tão bela e magnífica. Com detalhes que realmente importam, o trabalho do desenhista de produção mantém-se no capricho e nas cores escuras, com um uso mais preferencial do chumbo, da madeira e do dourado, causando um contraste perfeito com a fotografia bem empregada. Jany Tamime esboça figurinos interessantes, com uma atenção ainda que especial e única a cada personagem, que contém uma característica predominante das vestimentas arrojadas. Dumbledore, por exemplo, usa sempre uma roupa extravagante, com um azul cintilante que muitas vezes pode ser confundido com o cinza. Enfim, tudo avançou em termos de produção, o que inclui também a sonoplastia e os efeitos especiais, que embora não apareçam tanto, eles não se fazem necessários, uma vez o amadurecimento da história em si, com destaque para o romance entre os personagens, ciúmes e confusões, sentimentos típicos de adolescentes vulneráveis aos hormônios.
E talvez isso seja um fator que contribua para que as crianças fãs da série se sintam decepcionadas. A magia nunca esteve tão ausente como nesse filme, com os encantamentos de sempre, o roteiro privilegia o amor e um humor mais relacionado a ele. Mais essa mudança percebe-se no próprio cotidiano dos alunos de Hogwarts, onde somente uma aula é de fato mostrado, a que Harry ganha a poção de Felix Felicis, que por sinal é extremamente divertida.
Não poderia encerrar essa análise sem comentar o grau das atuações do renomado elenco. Jim Broadbent, que interpreta de forma impagável Horácio Slughorn, transforma um personagem amedrontado pelo passado em alguém fútil e perturbado, assim como Gambom, que faz de Dumbledore um homem carismático com uma dose extra de sensibilidade. Rickman e a arrogância já conhecida de Severo Snape está ainda melhor, assim como Maggie Smith, que recebe um pouco mais de atenção que no filme anterior, tem passagens magníficas. Julie Walters em seus dois minutos impressiona com um simples olhar e até mesmo Robbie Coltraine, em uma das menores aparições de Rubeus Hagrid na série, faz o personagem com seu talento usual, ou seja, mais uma vez bem feito. O trio principal porém, tem uma evolução de se deixar de boca aberta, sem exageros. Daniel Radcliffe está muito melhor do que se poderia supor, com diálogos onde está presente a ironia e o carisma de Harry Potter, ele se sai surpreendentemente bem. Emma Watson chora com facilidade e muda de vez a impressão que Hermione Granger deixou no quinto filme (de chata e mandona),a gora fazendo uma menina apaixonada, ciumenta (no limite do cômico) e divertida. Rupert Grint trabalha com expressões faciais, mas não se assustem, não são caretas. Seu trabalho como ator também evolui drasticamente, em mais um ponto que não sei como, Yates conseguiu converter ao seu favor.
Harry Potter e o Enigma do Príncipe é o melhor de todos os filmes da série, disso não resta a menor dúvida. Com destaque para as atuações, um diretor muito menos falho e um roteiro superior, a arte mais uma vez surpreende, apesar da reciclagem feita com a trilha, onde Nicholas Hooper resgatou faixas de "Ordem da Fênix". O sexto é uma ótima sequência do fim que se aproxima, com direito a câmera ágil e cenas de humor inspiradas. Uma excelente diversão, que vale a pena ser conferida.
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