Derrapando na velha lição de moral para adolescentes, Educação perde a chance de terminar sendo visto como um grande filme. Entretanto, Lone Scherfig dirige bem o suficiente para dar conta do recado e seu mais novo filme é interessante, bem interpretado e delicioso de ser assistido.
Jenny é uma garota inglesa de 16 anos, que mora no subúrbi londrino no início da década de 60. Sua vida se resume à rotina de sempre: estudos, estudos, estudos. Ela tem como principal meta atingir as notas necessárias para ir a Oxford, a renomada universidade britânica. Sempre a melhor da turma, ela só tem dificuldades em uma única matéria: latim. Jenny, apesar de ser uma filha de família exemplar, não deseja esse futuro acadêmico. Ela procura outro tipo de vida, e é quando conhece o sedutor David que ela passa a encarar a sua jornada com outros olhos. David leva-a para conhecer lugares, participar de leilões de arte, assistir à óperas. Ao conhecer esse outro lado do mundo, um que ela jamais havia conhecido, ela fica estagnada no dilema entre a educação que seus pais desejam, tal como a sociedade, e a diversão nessa vida alternativa.
Lone Scherfig, cultuada diretora inglesa de filmes como Meu Irmão Quer se Matar, volta para trás das câmeras depois de bom período de afastamento. Com "An Education", filme pelo qual ela recebeu o maior número de elogios, Scherfig compreende um bom trabalho na direção com estética excelente e atuações marcantes. A receita perfeita para fazer de um filme, um prato cheio de sutilezas e levezas, que tornam o assistir muito mais prazeroso. Aqui, Scherfig imprime uma característica que não é propriamente sua, mas de boa parte das mulheres em geral.
Podem dizer o que quiserem à respeito de 'Educação', mas não há como negar que o foco que o roteiro (e a direção) dispõem caem incursivamente sobre o feminismo na década de 60. Aqui, percebemos como a presença de Scherfig simultaneamente com a de Nick Hornby contribuem para que o resultado final saísse conforme nós vimos. Ambos colocam à prova suas principais características, mas que juntos, acabam se tornando uma só, vítima da generalização. "An Education" é um filme que mostra não só a libertação feminina em meados do século XX como também faz questão de enfatizar o papel no qual as mulheres desempenhavam na sociedade, onde eram educadas para serem exatamente aquilo que Jenny se tornara.
Podemos notar a influência que ambos os profissionais influenciam sobre o roteiro. Hornsby, autor de Alta Fidelidade, tem papel fundamental na condução da história. Como roteirista, ele prepara com exatidão aquilo que o espectador anseia ver, mas que, ao final, tudo parece ensaio para a mensagem batida de outrora. Enquanto o script não falha ao mostrar o modo como Jenny se rende ao charme de David, o modo como a menina de 16 anos se sente entusiasmada em se sentir livre da pressão acadêmica que seus pais e a escola exercem sobre ela, para viajar e se divertir ao lado dos amigos, cai de rendimento no final, ao mostrar exatamente aquilo que o espectador não precisava ver. Toda a discussão que o texto inicia, sobre a liberação feminina, a incerteza sobre o futuro na Universidade e a falta de perspectivas em uma vida, como a própria Jenny diz, ser morta, parece ter sido somente um pretexto para chegar até o final, onde a mensagem de que, não importam as ilusões que tivermos no caminho, os tentadores convites para sairmos da linha escolar, nada pode fazer-nos mudar o curso medíocre de nossas vidas. Enquanto o longa não chegava ao seu término, pensava que se tratava de um roteiro que não pregava o conservadorismo que até hoje reina sociedade ocidental, mas sim a libertação e o sentido de livre arbítrio e perspectiva que qualquer jovem pode encontrar além daquilo que somente a escola oferece. Estava enganado, entretanto. O final só deixa ainda mais claro que, se sairmos do trilho por onde todos caminham, só temos a perder. Nada a ganhar. Não seria certo procurar um outro objetivo de vida em outro ramo que não seja aquele que tentamos desesperadamente fugir. Enfim, o roteiro nos prega essa peça, e de forma bem convincente, pelo menos até o final.
Só que nada teria valido a pena não fosse os encantos que 'Educação' proporciona durante a sua duração. E devemos tudo ao talento e graça da excepcional Carey Mulligan. A atriz, que parece ter sido recém-descoberta, possui traços charmosos e cativantes da eterna Audrey Hepburn, e certamente muitos já ouviram essa comparação. Mulligan entrega uma interpretação fabulosa, demonstrando força e precisão em um papel tão jovem e inseguro. Não à toa, a atriz recebeu a indicação ao Oscar e recentemente faturou o BAFTA na categoria. Alfred Molina, que interpreta o pai de Jenny, Jack, é outro que não deixa a desejar. Ele interpreta com muita competência um pai que só deseja do bom e do melhor para a única filha. Peter Sarsgaard, o intérprete de David, compõe um personagem tão charmoso e sedutor como o que estava no papel, atraindo assim muitos elogios. E não fica só nele. O elenco como um todo se sai extremamente bem, sem nenhuma atuação incompleta ou equivocada.
Educação, que recebeu três indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, é um daqueles típicos filmes que você tem prazer de assistir. Bem interpretado, com uma arte muito bela e direção segura. Peca unicamente quando o roteiro perde o fôlego, cai no lugar-comum e não termina como deveria. Essa falta de ousadia, no entanto, foi crucial para impedir que o filme se tornasse melhor do que é.
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