Fernanda Montenegro é o destaque de Central do Brasil, um filme brasileiro, no melhor sentido da palavra.
Quando paramos para pensar nos melhores filmes brasileiros já feitos, um dos que sempre nos vem à cabeça é 'Central do Brasil'. O longa dirigido por Walter Salles, que alcançou repercussão internacional e saiu vencedor de vários prêmios ao redor do mundo, é, entre muitas coisas, um filme sobre o ser humano. Mais especificamente, sobre o ser humano brasileiro. A essência que o roteiro carrega leva o espectador para mais dentro de si, onde ele conhece a outra face do Brasil, muitas vezes um Brasil que ele nem conhece, sob um aspecto simples, belo e emocionante.
Dora, um mulher de idade avançada, fica todos os dias no mesmo lugar na Central do Brasil, uma famosa estação ferroviária localizada no Rio de Janeiro. Ela escreve cartas para analfetos, cobrando apenas um real por carta. Quando Ana, mãe de um menino de nove anos chamado Josué, aparece pedindo para que Dora lhe escrevesse uma carta, conhecemos o argumento-chave para todo o enredo abordado ao longo do filme. Josué sonha em conhecer o pai, e quando estava prestes a viajar para o nordeste com o objetivo de conhecê-lo, sua mãe Ana morre atropelada.
O menino fica então ao Deus dará. Sem ter para onde ir, ele passa as noites durmindo em frente à Central do Brasil. Mas é Dora, mesmo de má vontade, que acolhe Josué e o leva para a sua casa. Logo, os dois estão viajando juntos rumo ao sertão nordestino, atrás do pai do garoto. Nessa viagem, o relacionamento dos dois, antes tão conturbado e superficial, passa a crescer e ambos começam a sentir afeto um pelo outro.
Basicamente tudo funciona em 'Central do Brasil'. Mas o que surpreende de verdade são as interpretações. Se o jovem Vinícius de Oliveira, escolhido aleatoriamente por Walter Salles, se sai tão bem, que dirá uma das melhores atrizes que o Brasil já viu, Fernanda Montenegro? Claro que isso não vai te chocar nenhum um pouco: Fernanda entrega uma atuação sublime, emocionante, rica e impecável. Um trabalho grandioso de tão humilde, que rendeu na primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz por parte de uma brasileira na história do prêmio da Academia. Fernanda perdeu o prêmio para Gwyneth Paltrow, que atuou por Shakespeare Apaixonado, mas concorreu com ninguém mais, ninguém menos que Emily Watson, Meryl Streep e Cate Blanchett.
O roteiro, baseado no argumento original de Walter Salles, é excelente. O trabalho feito com o relacionamento entre Dora e Josué é tão intenso que fica difícil não se envolver com a trajetória árida dos dois em meio ao sertão nordestino. A qualidade do texto, sempre alta, causa impacto sobre as diferentes faces do nosso Brasil. Vemos no longa, um país que não conhecíamos. Um povo que, a partir de sua crença e da simplicidade da vida, constroe uma imagem bela e tocante sobre o mundo longe das megalópoles brasileiras. Neste aspecto, o roteiro de João Emanuel Carneiro (hoje autor de novelas globais) e de Marcos Bernstein, é extremamente competente.
E Walter Salles não deixa por menos. Ele comanda o elenco com atitude e, em uma direção ativa, não deixa nenhum furo no roteiro nem na parte técnica. Absolutamente tudo é resultado do maravilhoso trabalho de Salles na direção. Aliás, o que vemos na tela, em especial o que vemos Vinícius de Oliveira fazer na tela, é produto da preparação de elenco que Salles dirigiu. Preocupado com cada detalhe, nada lhe escapa.
E se tem algum outro aspecto que chama muito a atenção no filme, é o trabalho de fotografia de Walter Carvalho. Baseando-se na luz e na escuridão, os contrastes são belos. Pode a luz branca dos postes das estradas, a luz das velas de uma romaria ou o nascer do sol. Carvalho garante qualidade até mesmo no tom árido, de grande convencimento em um filme que se passa em grande parte no nordeste.
Assim sendo, Central do Brasil é um dos filmes mais marcantes da história do cinema nacional. Indicado a dois prêmios no Oscar, incluindo Melhor Filme Estrangeiro e Atriz, o longa conta com uma série de aspectos positivos que, sem a mão talentosa do diretor Walter Salles, não seria a mesma coisa. Sem dúvidas, um filme belo e tocante. Para ver e rever, se emocionar e se emocionar de novo.
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