"Um fim de mundo que não acaba nunca."
Um filme de intermináveis 158 minutos baseado em uma mentira. Sim, a má interpretação do presságio maia fez o mundo ter um motivo a mais para especular o fim dos tempos. Está previsto um acontecimento marcante e sem igual para o dia 21 de Dezembro de 2012, não a destruição de tudo aquilo que conhecemos e o início de uma nova era. Mas não é a primeira vez que a população mundial, pelo visto eterna aprendiz, é abalada pela notícia de que o apocalipse está mais perto que se imaginava. Pelo menos em duas dezenas de vezes as pessoas tiveram pelo o que temer e recear quando o assunto é o fim do planeta Terra. Claro que todas as predições estavam erradas pois, pelo o que me parece, ainda estamos aqui. A questão é que, enquanto não chega 2012, as especulações continuarão. E não há o menor indício de que no ano marcado ocorrerá o apocalipse. Evidentemente, Roland Emmerich (que deve estar ciente disto) estava pouco ligando para a realidade, e viu, como bom "empreendedor" que é, uma excelente oportunidade para lucrar. Não há dúvidas que foi esse o trajeto percorrido pelo pré-produção de 2012, o mais novo e requintado absurdo do diretor alemão.
Quem conhece o trabalho de Emmerich sabe o que esperar de '2012'. Assim como ele fez com Independence Day e O Dia Depois de Amanhã, os seus mais conhecidos filmes-catástrofe, este seu último trabalho certamente iria correspoder às expectativas do público. Já é possível identificar a mão de Emmerich nos filmes: efeitos visuais simplórios, drama familiar com um plano de fundo catastrófico, humor gratuito, romance besta e uma mensagem cada vez mais batida e insuperável. Como eu disse, '2012' não é diferente. Sem dúvidas é o trabalho mais ambicioso do diretor, e não são necessárias muitas explicações para esta afirmação. Foram gastos 260 milhões com a produção do filme, e a maior parte do orçamento só com os aspectos técnicos. Além do mais, as presenças de John Cusack, Amanda Peet, Chiweter Ejiofor, Thandie Newton, Oliver Platt, Thomas McCarthy, Woody Harrelson e Danny Gloover no elenco já são sinais de que '2012' era o mais importante e curioso filme de Roland Emmerich.
Como era de se esperar, também foi o filme mais lucrativo do diretor alemão. Por ser o mais catastrófico e menos "absurdo" trabalho já feito por ele, o público se sentiu mais interessado para ver como que Emmerich iria arrasar o planeta. Não se decepcionaram: as cenas de destruição não ficam só nos Estados Unidos desta vez. Sobrou para o Vaticano, para o monte Everest e até mesmo para o Rio de Janeiro. Mas começou por Hollywood. Neste ponto, o diretor não desaponta e algumas cenas, principalmente a primeira e grandiosa sequência em que Los Angeles é engolida sobre os próprios pés, são realmente divertidas. Entretanto, outras, como a cena em que ouvimos brasileiros exclamarem ao ver o Cristo Redentor desabar (em uma banal sequência visto de uma televisão), são enfadonhas e decepcionantes. O fato é que o público sentiu a adrenalina, e os mais de 734 milhões de dólares arrecadados no mundo são provas disso.
De resto, continua sendo mais um filme de Roland Emmerich. O roteiro continua sendo ignorado enquanto tivermos emoção e cenas interessantes rolando na tela. Ninguém precisa de preocupar com o texto, na verdade. O corriqueiro drama familiar é tão banal e desnecessário que não acrescenta em nada à mensagem que o diretor sempre faz questão de passar no final. Se em 'O Dia Depois de Amanhã', o objetivo era propôr uma reflexão entre membros de família, desta vez a questão é mais (sic) ambiental. Os valores humanitários, a misericórdia, a generosidade e o heroísmo fazem com que a falta de bom sendo do roteirista Emmerich e de Harald Kloser se tornem ainda mais aparentes. Não é a toa que a ação, extremamente previsível, caia nos clichês e esteréotipos mais cansativos já vistos no cinema. Mas o que poderia significar constrangimento e até risadas enfadonhas, transforma-se em diversão, mesmo que barata.
As interpretações estão mais uma vez aquém do nível do aceitável. Nenhum dos intérpretes convence em momento algum e algumas atuações chegam a ser ridículas de tão mal dirigidas. Entretanto, o único que se salva pelo carisma é Danny Glover, o seu mais novo presidente americano (por que será que desta vez ele é negro?).
2012 tem efeitos simples, porém mais eficazes que os de filmes anteriores de Roland Emmerich. Alguma cenas são, de fato, muito bem feitas. O diretor utiliza argumentos de discussão batidos como a política, o meio ambiente e a ambição do ser humano para compôr o seu trabalho mais ambioso e lucrativo. Vale por ser, acima de tudo, divertido. Mas por ser dirigido por ninguém menos que Emmerich, já não é novidade acrescentar que se trata de uma produção incrivelmente falha.
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