Em uma trama que retrata prisioneiros britânicos em plena Segunda Guerra Mundial, tendo entre eles engenheiros e ainda mais a construção de uma ferrovia... o que vem de imediato à lembrança é o "A Ponte do Rio Kwai" (1957), do Diretor David Lean e que eternizou o personagem de Alec Guinness até por odiá-lo em um certo momento. Longos anos se passaram e eis que um outro filme surge trazendo também esse pano de fundo, é o "Uma Longa Viagem", do Diretor Jonathan Teplitzky. Se com o personagem do primeiro filme eu fiquei na torcida para que detonasse a tal ponte, com o desse a minha torcida foi para que não fizesse algo. É! Por vezes a vida nos leva a detonar pontes, mas o destino não diz qual, nem porque, nem muito menos aquela que ao atravessar levará ao encontro de algo que até pode vir a ser um outro divisor de água em nossas vidas...
"Uma Longa Viagem" é um filme baseado numa história real: nas memórias de Eric Lomax de quando fora um dos prisioneiros dos japoneses em plena Segunda Grande Guerra. É por ele que o conhecemos partindo de um ponto presente - que no decorrer saberemos o porque -, até o seu passado mais tenebroso. Será um mergulho sem dó nem piedade. Nesse seu tempo presente é alguém que tem como um hobby trens: dos vagões às ferrovias, passando pelos horários... A bem da verdade é um entusiasta no assunto. Do passado, quando em campo de batalha em plena guerra ficara responsável pelo rádio: as escutas da época. Até que seu superior diz a todos que irão se render e ordenando que antes destruíssem tudo que pudesse comprometer a tropa. Lomax então resolve guardar uns componentes de um rádio. Um ato que sairá bem caro mais adiante.
Com a rendição parte de seu grupo por serem engenheiros são levados aos empecilhos da construção de uma ferrovia: a que ligaria a Tailândia à Birmânia. Quanto aos demais prisioneiros seguiram pela construção propriamente dita: desmatando, assoreando, fazendo barreiras de contenção, na colocação dos trilhos... O trabalho braçal, pesado, cheio de perigos até pela selva e abaixo de chicotes. Enquanto esse trabalho avançava - e com ele muitas baixas iam somando àquela que ficaria conhecida como a Ferrovia da Morte -, o pequeno grupo resolve fazer um rústico rádio de onde passaram a ouvir notícias de fora. Desejosos de com elas tentar levantar a moral dos demais prisioneiros, acabam sendo descobertos e...
"Uma Longa Viagem” ora se encontra num tempo presente, 1980, no norte da Inglaterra, com Eric Lomax já um homem adulto. Ora nos leva a viajar juntos com ele ao passado dele então um jovem prisioneiro de guerra. Nesse seu presente encontra-se recém casado com Patti (Nicole Kidman). Apaixonados, mas... Ela passa então a ver que ele é um ser atormentado e tenta um jeito de ajudá-lo. A presença dela traz mudança em sua rotina até por ele ser um cara bem metódico. O que talvez possa ter contribuído para que seus traumas de guerra viessem à tona. Na tentativa de ajudá-lo, Patti vai em busca de um grupo que vivenciaram o mesmo pesadelo, e dai se reúnem justamente para tentarem superar. Por lá Patti encontra-se com Finlay (Stellan Skarsgård) pedindo que lhe conte o que houve. Ele então conta a parte que ele cabe, não sem antes tentar demovê-la, pelo conteúdo muito cruel como também que lhe é muito penoso relembrar desse período.
"Traga de volta o passado somente se for construir algo a partir dele."
Mas é por Eric Lomax que conheceremos uma parte dessa história que nem eles sabiam: as das torturas. Até que Finlay mostra algo a ele: fizeram um memorial numa das estações da tal ferrovia. Justamente onde foram torturados. Ele então resolve visitar literalmente seu passado viajando até lá. Onde então fica novamente frente a frente com o seu pior pesadelo: o carrasco mor, o oficial Takeshi Nagase (Hiroyuki Sanada). Não ficará pedra sobre pedra nesse reencontro.
E nesse passado temos o jovem Lomax interpretado por Jeremy Irvine (de “Cavalo de Guerra”). Numa excelente atuação. Mas sem sombra de dúvida a magistral performance é a de Colin Firth. Seu Lomax nos leva a voos de doer na alma até ao mostrar o que todas as guerras deixam como "saldos" em quem dela participa. Vilões para um lado, Heróis para o outro, mas nos campos de batalha são homens, jovens à mercê de uma guerra cujos "donos" nem dela participam... É nessa sua volta onde fora torturado que terá um novo dilema a ser superado... Onde a minha torcida fora para que não o fizesse... Bem, posso adiantar apenas que chorei junto com o Eric Lomax de Colin Firth.
O Diretor Jonathan Teplitzky ainda não está no mesmo patamar de David Lean, até pela pouquíssima bagagem, mas com certeza está no caminho certo! Pois temos em "Uma Longa Viagem" um novo ângulo da Segunda Guerra Mundial: contada por um que a vivenciou e que conseguiu sair vivo dela. De nos deixar em suspense até o final. Num timing perfeito entre passado e presente. Efeitos de cores em Fotografia. Trilha Sonora ótima! Atuações catárticas: um soco no emocional de quem assiste. Que embora a personagem de Nicole Kidman não tido altos voos, todos sem exceção tiveram grandes performances no conjunto dessa obra que veio para ficar. Agora, é no reencontro entre Lomax e Nagase o ponto alto do filme. Até por conter nessas cenas o peso de anos do emocional até então guardados tanto de um como do outro. Aplausos entusiásticos para Colin Firth e Hiroyuki Sanada! Bravo! Num filme Nota 10!
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