Lupas (1020)
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Pinceladas de Cão Danado e A Dama de Shanghai, em um filme no qual a figura do detetive excêntrico é levada às raias da insanidade, para mostrar que um dito louco pode melhor enxergar o mundo em sua perspectiva distorcida do que os rotulados de sãos. Grande clímax, como é comum em To, repleto de máscaras quebradas e reformatadas.
Augusto Barbosa | Em 24 de Maio de 2020. -
Ecos de uma tragédia reverberando e destruindo a fachada que restava de um casamento - jogo de espelhos e estilhaços onde um marido traído que se torna assassino dos seus algozes ganha a simpatia em desespero de uma esposa que enfrenta a infidelidade conjugal em seu próprio matrimônio. A hora de dar um basta sempre chega. Dassin foi um esteta e um dramaturgo que definitivamente não recebeu o nível de atenção que merecia.
Augusto Barbosa | Em 18 de Maio de 2020. -
Um jovem que não consegue entrar na faculdade e precisa se virar trabalhando numa fábrica, um patriarca que luta pelo que semeou a vida toda em sua propriedade e um menino aprendendo os meandros da responsabilidade se juntam a um cineasta que almeja fazer um filme com verve documental, permitindo a Ceylan explorar as interseções entre ficção e realidade e os jogos de máscaras sociais, enquanto aborda as dificuldades do homem comum, em várias de suas fases, na Turquia contemporânea.
Augusto Barbosa | Em 12 de Maio de 2020. -
Roteiro mais fechadinho entregue nas mãos tresloucadas de Abrahams e dos Zuckers para a direção só poderia dar em um filmaço. Comédia de erros que lembra o tipo em que os irmãos Coen se especializariam alguns anos depois, mas sem a crueldade e o fatalismo, apostando nos mal-entendidos em avalanche para impulsionar a trama, embaralhando e invertendo a lógica de heróis e mocinhos.
Augusto Barbosa | Em 10 de Maio de 2020. -
Uma sala, três pessoas, o tique-taque do relógio e um silêncio mortificante - o retrato de uma invasão bélica em um microcosmo doméstico, onde as linhas divisórias entre inimigos declarados impedem o desenvolvimento de qualquer contato humano, ainda que a empatia revolva sob a superfície das máscaras trajadas. O que tem de curto, tem de potente. Um soco levando a knock-out.
Augusto Barbosa | Em 06 de Maio de 2020. -
Impossível não se apaixonar pelos Yamadas. Takahata usa de uma estrutura bastante episódica para registrar sob diversos ângulos a dinâmica familiar, utilizando-se de recursos que vão de registros do cotidiano à perspectiva da imaginação infantil. Além de ser recheado de humor e de um carinho imenso, que faz do seio dessa família ordinária o cantinho mais nostálgico e acolhedor que se pode dividir frente a uma tela. Sipá, meu preferido do cineasta.
Augusto Barbosa | Em 05 de Maio de 2020. -
A imaginação de uma criança modelando os eventos do mundo e escapando da sua crueldade? Adultos investidos em um imparável jogo infantil? Os dois? Ficção e realidade, sonho e desilusão, literatura e Cinema, todos bailam sob as lentes e as palavras de Ruiz, que, mais uma vez, celebra a encenação como ninguém.
Augusto Barbosa | Em 02 de Maio de 2020. -
Três horas e vinte de um pacifista tendo sua moralidade testada fortemente em um campo de trabalho forçado japonês durante a Segunda Guerra - Kobayashi, como sempre, potencializa visualmente cada dilema e cada luta ética vivida, recheando a longa duração com vários momentos marcantes. No tormentoso mar de estupidez bélica, difícil ancorar o mínimo de dignidade. E como diz Lady Macbeth: 'o que está feito não pode ser desfeito' - as marcas perduram.
Augusto Barbosa | Em 29 de Abril de 2020. -
'Don't say anything. Don't make more promises. I have to trust you'. Ao contrário do que falam, o final não contradiz o resto do filme - não há resignação, mas epifania. Fica um palpável senso de insegurança sobre os relacionamentos, afinal 'people change' - encara o casamento como um campo de expectativas contraditórias, tentativas de dominação e frustrações, além, claro, da atração, dos sentimentos e da realização. Ambíguo e vívido. Difícil e digno. Amargo e doce.
Augusto Barbosa | Em 28 de Abril de 2020. -
A decupagem de Shults nos primeiros minutos chega a dar dor de cabeça e o filme parece que vai seguir nessa histeria estética despropositada até o fim - no entanto, ela logo começa a fazer sentido e se conectar com o estado psicoemocional do protagonista sob pressão. No mais, trata-se de uma trajetória bem arquitetada e emocionalmente impactante de uma família rumo ao colapso e os cacos supervenientes. Reznor e Ross, a montagem e o elenco se destacam.
Augusto Barbosa | Em 26 de Abril de 2020. -
Sciamma faz um romance de formação contemporâneo potente, em que sua protagonista enfrenta as adversidades impostas pela burocracia da educação formal, pela necessidade de ser aceita no grupo de sua geração e pelo machismo encrustado em cada recanto de sua vida social, moldando sua personalidade forte a cada porta fechada e tapa na cara - e acompanhamos, com o coração na mão, etapa por etapa, essa difícil trajetória, que todos nós, a seu modo, temos que passar.
Augusto Barbosa | Em 25 de Abril de 2020. -
Cocteau dá uma aula de adaptação de uma peça teatral (que, inclusive, também é sua) para o Cinema - da fluidez de sua câmera à precisão de seus enquadramantos, Les Parents Terribles delicia com sua tragicomédia de coincidências novelescas.
Augusto Barbosa | Em 24 de Março de 2020.