Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, O
O filme O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus tem recebido duras críticas em relação a sua construção fílmica e roteiro, além de severos comentários referente a atuação dos atores.
Outro ponto também se torna incisivo e polêmico no que tange as críticas mais ríspidas sobre a película que foi a morte do ator Heath Ledger. Afinal para alguns o falecimento de Ledger comprometeu o projeto, já para outros o passamento do ator australiano em nada influenciou no suposto fracasso do filme.
Avalia-se preliminarmente que a questão do óbito do ator é retomada com exagero porque a figura Ledger está sendo cultuada pela lembrança do público e da crítica pelo sucesso estrondoso da sua soberba atuação em Batman – O Cavaleiro das Trevas incorporando o vilão Coringa e pelo triste ocorrido que deu fim a carreira de um ator talentoso, entretanto, argumentar que o filme só vale a pena ser visto porque funciona como uma espécie de homenagem póstuma a Heath Ledger é no mínimo uma premissa apressada e infundada.
Percebe-se que a obra fílmica não é espetacular, no entanto contem interessantes elementos que compõem o conteúdo diegético do filme, além de um cenário magnífico de cores vibrantes e de imagens delirantes.
O próprio titulo do filme abarca uma palavra que pode ser amplamente discutida que é o vocábulo imaginário.
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus oferece a oportunidade de se realizar uma viagem na própria imaginação de quem penetra nesse mundo fazendo essencial entender que o imaginário pode ser percebido como um vasto mundo de representações imaginárias construídas tanto na coletividade como no âmago das subjetividades.
O conceito imaginação segundo a tradição filosófica é entendido como sinônimo de percepção, isto é, a imaginação funciona diretamente como reprodutora da percepção, no campo do conhecimento, e indiretamente reprodutora da percepção, no campo da fantasia, ou seja, o imaginário é o vocábulo fundamental que corresponde à imaginação, como sua função e produto.
Contudo, o imaginário da obra de Gilliam tem íntima e notória relação com o surrealismo evidenciado pelas cores, efeitos e imagens psicodélicas que tracejam a obra cinematográfica.
Quando se fala em surrealismo deve-se perceber que a fantasia subverte a realidade, o simbólico substitui o lógico, o inconsciente se manifesta, os sonhos, a ironia e a loucura. E tudo isso está intrinsecamente ligado a concepção freudiana que rompe com os padrões comportamentais da sociedade e seus valores como o status e a família.
Nota-se que o imaginário no sentido de coletividade se faz perceptível nos momentos em que são mostrados uma foto que transmite o conceito de família ideal caracterizando uma contundente crítica a sociedade contemporânea que vende a todo o momento uma imagem idealizada de família perfeita.
Já o imaginário como subjetividade torna-se percebível em cenas nas quais alguns personagens estão envoltos em seus desejos mais frágeis, pueris, artificiais e obscuros.
O argumento do filme gira em torno de uma trupe mambembe liderada pelo doutor Parnassus que ronda Londres com uma apresentação teatral onde através de um espelho permite que a pessoa entre em contato com o mundo fantástico criado pela sua imaginação.
E tudo deriva de uma disputa entre o doutor Parnassus (Plummer) e Nick (Waits) numa clara alusão a Deus e ao diabo numa divertida e sarcástica brincadeira entre a dicotomia que se insere na psique humana de bem e mal simbolizada na obra no contraste de claro e escuro.
Também se percebe no filme críticas ácidas em relação a questões sociais, às entidades filantrópicas, pessoas supostamente solidárias, as celebridades e a sociedade consumista envolvendo revistas e outros dispositivos que prometem felicidade plena, juventude eterna e fortuna.
Atendo-se as atuações o ponto alto vai para a forma como o diretor arquitetou a entrada Depp, Law e Farrell na trama, já o ponto baixo ocorre nas interpretações, Law inexpressivo, Depp sofre com a síndrome da caricatura cínica de Jack Sparrow e Ledger visivelmente repetindo o gestual e a entonação vocal do personagem Coringa. Ainda nas performances constata-se um significativo ponto envolvendo os atores Tom Waits e Christopher Plummer que travam um duelo cênico consistente em relação ao desempenho irregular dos outros atores em cena.
Percebe-se que o produto elaborado por Gilliam está longe da perfeição mesmo contando com um visual arrebatador, contudo o filme se faz interessante pela abordagem surrealista envolvendo o imaginário, o inconsciente e o fantasioso diante um mundo pragmático e utilitarista calcado por uma sociedade que apregoa hipocritamente a moral e a ética e o diretor Terry Gilliam faz essa referência sem apelar para o proselitismo e sem incorrer em excentricidade.
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