“La Vie est un Roman” é um filme que trata de amor e felicidade, da infância e da imaginação, é um filme que nos seus 110 minutos fala um pouco de tudo, na forma de drama, comedia, musical e fantasia. Aqui conteúdo e trama se complementam em uma viagem alucinógena de Alain Resnais.
O longa discorre em três narrativas, uma no presente (do filme) aonde irá se discutir através de um seminário entre pensadores, professores e educadores os rumos da educação, de como se deve ensinar as crianças e principalmente onde se discute a importância da imaginação. Outra, no passado, pouco antes e pouco depois da 1º guerra mundial onde se realizará um experimente bizarro, segundo o qual irá acabar com a infelicidade e os problemas das pessoas, irá restaurar a ordem, a harmonia. Essas duas narrativas transcorrem em um castelo, no passado construído com um fim único: o de ser o templo da felicidade. No presente, sede de uma escola. A terceira narrativa é a da imaginação, do onírico, no caso, a da imaginação de três crianças que de forma infantil, sensível e divertida trata de assuntos como amor, felicidade e até de questões sociais.
Amor, amor, amor... É assim que o filme começa. Palavras expressadas por Livia Cerasquier (Fanny Ardant) ao seu amor Raoul Vandamme (André Dussollier) dentro de uma carruagem direcionada a um local. O local é o terreno onde será construído o pretensioso projeto do castelo pelo riquíssimo Michel Forbek (Ruggero Raimondi). Ele afirma categoricamente que tal castelo será o templo da felicidade. Claro, ele afirmou isso antes da 1º guerra. A maquete do castelo é mostrada com uma arquitetura um tanto quanto infantil, utópica. Forbek também anuncia que pretende se casar com Lívia, surpresa até para ela, que obviamente ama Raoul. Um close na cara incrédula dela e um corte para a maquete rodeada por chamas em meio a guerra. Resnais deixa claro que não existe felicidade sem amor.
Indo para o presente, no mesmo castelo, agora de posse de Nathalie Holberg (Verónique Silver), educadores e pensadores reúnem-se para discutir os caminhos a se tomar em relação à educação das crianças. Figuram entre os principais personagens, a renomada Nora Winkle (Geraldine Chaplin) antropóloga e transgressora de convenções sociais. Oposta a essa rebeldia está a tímida professora Élisabeth Rousseau, um tanto quanto conservadora e idealista, interpretada por Sabine Azemá. O “palhaço” Robert Dufresne (Pierre Arditi) que educa seu filho de forma extrovertida e não-convencional, um renomado pensador de nome Walter Guarrini (Vittorio Gassman), e Claudine Obertin (Martine Kelly). Durante o desenrolar dessa narrativa, discussões surgirão, dentre elas, uma sobre a crença no amor eterno e único em contraponto ao sexo desvairado (aqui entre Elisabeth e Nora), ou a da liberdade de imaginação bem como sua importância para uma criança. Nenhum momento é desperdiçado por Resnais, todos suscitam alguma questão, alguma discussão, algo a se pensar.
Voltando ao passado, que se desenvolve de forma mais “séria”, os aristocratas aceitam se submeter à experiência do Forbek. O principio dela, segundo Forbek é o de nunca ter sido, o do renascimento, onde, como recém nascidos, novamente aquelas pessoa seriam puras e encontrariam a harmonia, formando assim uma sociedade sem males. Através de uma droga, suas memórias apagariam (mais uma vez a memória se faz presente em um filme de Resnais) e eles iriam redescobrir novamente os cinco sentidos, através das vias mais puras como a musica perfeita, a comida mais saborosa, o perfume mais cheiroso. O redescobrimento desses sentidos culminaria no fim do experimento, num estado de auto - conhecimento, de total amnésia, resultando, quando eles se encontram numa curiosidade entre si tão grande quanto a que o monólito negro sucinta em 2001: Uma Odisséia no Espaço.
Pulando para o mundo imaginário das crianças, que não é tão surreal quanto à narrativa transcrita no passado, aqui o onírico também proporciona discussões. Contado de forma divertida e criativa, Resnais demonstra seu amor pelos desenhos e quadrinhos ao retratar justamente esse mundo, diferente de todos os outros. Essa parte sucinta reflexões mais sociais, onde os ricos são tidos como assassinos, o rei impossibilita a felicidade e a mensagem: tirar dos ricos para dar aos pobres se faz presente.
Pessoalmente não gosto de musicais, mas aqui eles se enquadram bem, vital para que o filme não fique chato. O castelo é um tanto quanto infantil, um filme de devaneios com um conteúdo rico, sério e contundente. Paradoxalmente, pouco antes do final do filme, Nora Winkle cita o pai que dizia que a vida não é um romance. Quanto a essa questão, ela fica em aberto ao espectador, que poder escolher no amor da professora ou no sexo de Nora. Exímio exemplar de cinema com conteúdo sem perda de força narrativa, a conclusão que eu tiro é que a vida não é um romance, mas é feliz enquanto for.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário