Quantos discursos acerca do espiritismo não são feitos diariamente? O mistério que ronda o crer e o não crer pautados sobre a fé de cada um. Dúvidas sobre o que não se vê ou o que não se ouve; sente. Através desse discurso tão comumente conversado Daniel Filho apresenta a melhor obra de sua carreira sob a personificação de um dos homens mais simples, dono do dom da mediunidade, o inesquecível Chico Xavier.
Tratar de biografias no cinema sempre foi de difícil imparcialidade. Não restam dúvidas que o longa defende a religiosidade acerca do espiritismo, tratando Chico Xavier como uma entidade – ganhando pontos com os simpatizantes da vida e obra do médium. Contudo, se o filme peca em exageros de “enaltecimento”, dá um verdadeiro show na parte técnica.
Para tratar com maior fidelidade a sua história, o diretor utiliza-se de três etapas da vida do “psicografista”: Chico criança, adulto e idoso. E para a escolha de tais atores (e todos os outros do elenco) se acerta em cheio. Matheus Costa (Chico Xavier 1918 - 1922) comove, Ângelo Antônio (Chico Xavier 1931 - 1959) engrandece o personagem – me fazendo de acordo com a sua trajetória a admirá-lo cada vez mais – e Nelson Xavier (Chico Xavier 1969 - 1975) chega ao ponto sublime, alcançando a calmaria do personagem sob o acontecimento que rege o filme: a memorável entrevista do programa Pinga-Fogo (edição que originalmente foi ao ar em 28 de julho de 1971. Nos créditos são exibidos alguns trechos originais).
E para não deixar de lado os outros, Tony Ramos vive Orlando e Christiane Torloni vive Glória. Pais de um jovem assassinado (o que nos leva a crer no início da trama); presos ao trauma da perda do filho. Ao ver a crescente fama de Chico Xavier, Glória vê a chance de conforto pessoal. Por outro lado, Orlando (editor do programa Pinga-Fogo) é ateu e também não acredita na carta psicografada por Chico Xavier. Juntamente com o elenco de apoio, estes também brilham. A fotografia é bela e tênue enquanto a Direção de Arte tem carisma imenso.
De modo abstrato, todavia não invisível, durante todo o longa é criticado negativamente o lado ortodoxo da Igreja em não aceitar certas crenças espíritas. O catolicismo versus espiritismo pode ser melhor analisado na História, pois se eu me permitir entrar nesse assunto iria me demorar em demasiado, fugindo inclusive do filme.
Talvez tratar de forma peculiar este filme através de um personagem carismático crie o verdadeiro charme do cinema, contudo a mitificação do mesmo – pelo menos para o cinema – prejudica a obra. Entretanto, um homem com mais de 400 livros ditos psicografados merece a devida admiração. Para os descrentes nele, deve-se criar pelo menos o interesse neste personagem intrigante. Em suma, o longa-metragem não deixa a desejar. De forma carismática, Daniel Filho nos deixa a mercê de muitos debates sobre este tema tão abrangente. Se foi fraude, verdadeiro ou se espíritos existem ainda resta a dúvida, tudo isto é uma pura questão de fé. Porém fica minha dica: crentes ou não, um filme recomendado.
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