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Perfis

Foto de Elizabeth Taylor

Elizabeth Taylor

Idade
79 anos
Nascimento
27/02/1932
Falecimento
23/03/2011
País de nascimento
Inglaterra
Local de nascimento
Hampstead, London

Rosa violeta.

De um ponto de vista estritamente subjetivo, é possível se achar atrizes mais bonitas (Ava Gardner, Grace Kelly e Natalie Wood) ou mais capacitadas (Bette Davis, Katharine Hepburn e Meryl Streep). Mas no quesito estrelato, no sentido hollywoodiano da expressão, ninguém supera Elizabeth Taylor. Sua vida fornece material para preencher duas ou três biografias. No show business desde os 8 anos de idade, ela transitou bem entre as fases mirim, adolescente e adulta. Era eminentemente autodidata. Atuava na base no instinto. Quando se encaixava no papel, era uma baita atriz. Os críticos, contudo, insistiam em menosprezar suas interpretações. Talvez achassem uma injustiça da natureza conciliar numa única pessoa tamanha beleza e talento. Casou-se oito vezes com sete homens diferentes. Se a conta não fecha, é porque dois desses matrimônios foram com o mesmo homem, Richard Burton, certamente o maior amor da sua vida. Os problemas de saúde sempre foram uma constante: pneumonia, tuberculose, insuficiência cardíaca, dores nas costas, tumor benigno no cérebro, alcoolismo e consumo de drogas. Por mais de uma vez, os noticiários anunciaram que ela estava à beira da morte. Vários veículos de comunicação já tinham seu obituário pronto há anos. Taylor enganou a todos por tanto tempo que, ironicamente, alguns dos jornalistas que se ocuparam desses textos, morreram antes dela.
 
De minha parte, prefiro abstrair as fofocas, os escândalos, os casamentos, os divórcios e as tragédias pessoais. Me concentro na atriz, no seu talento, na sua beleza e no seu glamour. E o que vejo é uma das artistas que melhor resume a simbologia e a mística de Hollywood.

Elizabeth Rosemond Taylor nasceu em 27 de fevereiro de 1932 (ironicamente, exatamente o dia da cerimônia do Oscar/2011), em Londres. Era a segunda filha de um casal americano nascido no estado do Kansas. O pai, Francis Lenn Taylor, era um bem sucedido antiquário; sua mãe, Sara Viola Warmbrodt, atuara em palcos nova-iorquinos antes de se casar. Ela ainda tinha um irmão, Howard, três anos mais jovem. Em 1939, um pouco antes de Hitler começar suas manguinhas de fora, a família mudou-se para os EUA, estabelecendo-se em Los Angeles.

Mais do que gostar de cinema, a mãe de Taylor era bem relacionada. Por intermédio da jornalista Hedda Hopper, ela conheceu a noiva de um alto executivo da Universal Pictures. Bastaram duas palavrinhas para que se agendasse um teste de câmera. O pessoal do estúdio não botava muita fé que aquela menina, de apenas 8 anos e sem qualquer treinamento específico em artes dramáticas, pudesse ter algo diferente das milhares de outras que aportavam em Hollywood com os mesmos sonhos. Mas todos mudaram de opinião assim que se depararam com seus incríveis olhos cor de violeta, emoldurados por grossas sobrancelhas e longos cabelos escuros. Nem bem chegara aos EUA, e Taylor já assinava um contrato de seis meses com a Universal, em troca de U$ 100 semanais.

Seu primeiro trabalho veio no ao seguinte, com o filme There´s One Born Every Minute (idem, 1942). A Universal não gostou do resultado. Segundo as palavras do estúdio, Taylor não sabia cantar, dançar nem interpretar. Mas essas falhas até poderiam ser superadas se a sua mãe, que controlava sua carreira, não fosse uma das mulheres mais insuportáveis que os executivos conheceram. O impasse estava formado e o contrato foi rescindido em fevereiro de 1942. A MGM percebeu que Taylor estava dando sopa no mercado e, em outubro do mesmo ano, fechou um acordo com ela, em bases parecidas com o da Universal.

A estréia de Elizabeth na Metro foi um sucesso. O projeto escolhido foi A Força do Coração (Lassie Come Home, 1943), de Fred M. Wilcox, no qual ela contracenava com Roddy MacDowall (que se tornaria seu amigo pelo resto da vida) e os veteranos Donald Crisp e Edmund Gwen. O filme, voltado ao público juvenil, contava a história da cachorra Lassie, que, após ser vendida, movia até montanhas para voltar para casa. Além do animal, era o rosto de Taylor que o público lembrava após o fim da projeção. O estúdio percebeu que tinha um tesouro nas mãos, talvez não ao nível de uma Judy Garland, mas certamente menos problemática. Agiu rápido e fez a atriz assinar o contrato padrão de sete anos.

Estranhamente, a primeira providência tomada pela MGM foi emprestar Taylor para a Fox, estúdio para o qual ela desempenhou, de forma não creditada, o papel de Helen Burns, numa adaptação do romance de Charlotte Bronte, Jane Eyre (idem, 1943), de Robert Stevenson. Ao lado de pesos pesados como Joan Fontaine e Orson Welles, Elizabeth deixou sua marca. Na época, impressionado com a beleza da jovem, ficou famoso o comentário de Welles: "me apresentem essa menina daqui a alguns anos". De volta à MGM, retornou à sua Inglaterra natal para fazer uma participação minúscula e novamente não creditada em Evocação (The White Cliffs of Dover, 1944), de Clarence Brown.

O ponto de virada da carreira de Taylor veio com seu filme seguinte: A Mocidade é Assim Mesmo (National Velvet, 1945), novamente dirigido por Clarence Brown, uma espécie de Seabiscuit - Alma de Herói (Seabiscuit, 2003) daquele tempo. A MGM tinha há tempos os direitos do romance de Enid Bagnold, mas a adaptação nunca saíra do papel pela dificuldade de se encontrar uma atriz mirim, com sotaque britânico e que, ainda por cima, soubesse cavalgar. Aos 12 anos, Taylor reunia tudo isso. Ela interpreta Velvet Brown, a garota que treina de forma obstinada seu cavalo Pie para a conquista do Grand National. A jovem atriz dividiu o estrelato com Mick Rooney, àquela altura já adorado por 10 entre 10 americanos, e a novata e talentosa (mas pouco fotogênica) Angela Lansbury. Sem qualquer bagagem acadêmica, Taylor baseava sua interpretação eminentemente no instinto. Numa sequência em particular, em que seu cavalo parecia estar morrendo, o roteiro exigia que ela chorasse. Mesmo com apenas 24 anos, Rooney já se achava um veterano. Preocupado com o desempenho da colega, ele se aproximou de Taylor e lhe deu três dicas infalíveis para qualquer ator que estivesse naquela situação: fingir que seu pai está morrendo, que sua mãe precisa lavar roupas para viver, ou que seu cachorrinho de estimação fugiu. Taylor não se conteve com as recomendações e caiu na gargalhada. Para ela, bastava se colocar na pele daquela menina e acreditar que o seu cavalo estava realmente morrendo. Foi o que fez no ato da filmagem. As lágrimas verteram na hora.

A emoção que emergia de A Mocidade é Assim Mesmo, ainda que um pouco ingênua para o público atual, era genuína. Homens, mulheres e crianças se emocionavam ao ver Velvet Brown disputar cabeça a cabeça o primeiro lugar. Tamanha aceitação fez do filme um dos maiores sucessos do ano nos EUA, onde rendeu mais de U$ 4 milhões. A própria Academia se rendeu à fita, concedendo-lhe os Oscars de melhor atriz coadjuvante (Anne Revere, que interpreta a mãe de Taylor) e montagem.

Após A Mocidade é Assim Mesmo, Elizabeth Taylor mudou de status. Ela adquiriu poderes de estrela de cinema. Seu salário foi inflacionado para U$ 30 mil por ano. Até sua mãe passou a figurar na folha de salário do estúdio. Seu rosto já era reconhecido do público e seus projetos seguintes foram todos sucessos de bilheteria. Nos anos que se seguiram, ela esteve em A Coragem de Lassie (Courage of Lassie, 1946), do mesmo diretor do original, Fred Wilcox; Nossa Vida com Papai (Life with Father, 1947), de Michael Curtiz; As Delícias da Vida (Cynthia, 1947), de Robert Z. Leonard; O Príncipe Encantado (A Date With Jude, 1948); de Richard Thorpe; Travessuras de Julia (Julia Misbehaves, 1948), de Jack Conway; e Quatro Destinos (Little Women, 1949), de Mervyn Le Roy. Em alguns destes trabalhos ela foi coadjuvante, outros a protagonista. Mas o que chamava a atenção dos diretores e do estúdio como um todo, era sua beleza, seu talento e profissionalismo. Tanto que, na época, seu apelido nos corredores da MGM era "one-shot Liz", uma referência à sua habilidade em filmar as cenas em apenas uma tomada.

Elizabeth estava com 17 anos, naquela fase crítica em que não era mais criança sem, no entanto, ainda ser uma adulta. Mas ela sabia que tinha talento para transpor essa etapa sem grandes traumas, mais ou menos o que, por exemplo, Judy Garland conseguira alguns anos antes, e o que Natalie Wood faria tempos depois. Mesmo sendo uma adolescente na idade cronológica, ela já se sentia preparada para enfrentar papeis que explorassem outros aspetos da sua personalidade, sua sensualidade, sua precoce maturidade. A primeira oportunidade nessas condições veio com em Traidor (Conspirator, 1949), de Victor Saville. Nele, ela interpretava uma mulher de 21 anos, que se casa com o  personagem vivido por Robert Taylor (então com 38 anos), sem saber sua real identidade.

Se o filme não foi o sucesso que se esperava, Taylor acertou na escolha seguinte, na comédia O Papai da Noiva (Father of the Bride, 1950), de Vincente Minnelli. Ela interpreta Kay, a filha de Stanley Banks (Spencer Tracy – indicado ao Oscar), que vai se casar. Os preparativos para a festa, a ansiedade dos envolvidos, as brigas do casal de noivos, o ponto de vista do pai que está perdendo sua eterna garota para um desconhecido, tudo contribui para o gracioso resultado final.

A prova de que a vida imita a arte veio naquele mesmo ano de 1950, quando Taylor resolveu estender seu casamento das telas para a vida real. O escolhido foi o herdeiro da rede hoteleira Conrad N. Hilton. Sua primeira união durou apenas nove meses.

O sucesso de O Papai da Noiva foi tanto que não demorou nem um ano para a mesma equipe e elenco fazerem a continuação: O Netinho do Papai (Father´s Little Dividend, 1951). Apesar do saldo ainda positivo, já era possível perceber um sinal de material requentado, além de um Spencer Tracy nitidamente de má vontade.

Se A Mocidade é Assim Mesmo representou o marco inicial da carreira de Elizabeth Taylor, seu filme seguinte, Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun, 1951), foi o que a transformou numa estrela definitiva. Apesar dos seus sucessos em sequência na MGM, sabe-se lá porque, o estúdio resolveu emprestá-la para a Paramount. Lá ela foi destacada para o novo projeto do diretor George Stevens, uma adaptação do romance de Theodore Dreiser, An American Tragedy. Taylor interpreta Angela Vickers, uma mimada menina da alta sociedade, que se vê envolvida num triangulo amoroso entre o belo  George Eastman (Montgomery Clift) e sua pobre namorada Alice Tripp (Shelley Winters). O filme foi considerado um clássico instantâneo (Charlie Chaplin sempre o considerou a melhor produção já feita por Hollywood). Taylor simbolizava o luxo, o conforto, a sofisticação, tudo o que o personagem de Clift almeja mas não pode ter. As circunstâncias da vida de George tornam Angela o símbolo de algo inatingível, uma combinação entre o sonho e a tragédia americana de que falava Dreiser. Das várias sequências de Um Lugar ao Sol que ficam na nossa memória, duas se destacam: a primeira, quando Clift, meio deslocado num ambiente tão diferente do seu, vira o ombro e vê Taylor pela primeira vez: a expressão em seu rosto, os olhos arregalados, a boca aberta e sem fala, revelam que ele está possivelmente diante da mulher mais bela do mundo. A segunda, mais famosa, é o primeiro beijo entre Clift e Taylor, construído inteiramente à base da alternância de planos fechadíssimos nos rostos dos atores. No momento das indicações ao Oscar, Taylor foi esquecida (em seu lugar, a Academia preferiu Shelley Winters). Mas para ela, ser ou não nomeada era irrelevante. Um Lugar ao Sol permaneceria para sempre.

De volta à MGM, Taylor entrou numa sequência de filmes descartáveis e de personagens pouco marcantes. São dessa fase, títulos como O Melhor é Casar (Love is Better Than Ever, 1952), de Stanley Donen; A Jovem que Tinha Tudo (The Girl Who Had Everything, 1953), de Richard Torpe; Ivanhoé, O Vingador do Rei (Ivanhoe, 1952), também de Richard Thorpe, cujo papel de Lady Rowena, que ela queria interpretar, foi entregue à Joan Fontaine; O Belo Brummel (Beau Brummel, 1954), de Curtis Bernhadt, em que esteve ao lado de Stewart Granger; No Caminho dos Elefantes (Elephant Walk, 1954), de William Dieterle, em papel previsto para Vivien Leigh; Rapsódia (Raphsody, 1954), de Charles Vidor, em que ela contracenava com Vittorio Gassman; e A Última Vez que Vi Paris (The Last Time I Saw Paris, 1954), de Richard Brooks, e baseado em roteiro de F. Scott Fitzgerald (seu personagem era uma versão da sua esposa, Zelda). Entre todos esses trabalhos, Taylor ainda encontrou tempo para se casar com o ator britânico Michael Wilding (20 anos mais velho que ela) e ter seu primeiro filho, Michael Wilding Jr.

Cansada de tantos filmes em série (só em 1954, foram quatro trabalhos), Taylor resolveu tirar umas férias. Dois anos depois, emprestada para a Warner, voltou em grande estilo, novamente pelas mãos de George Stevens, no épico Assim Caminha Humanidade (Giant, 1956). Baseado no romance de Edna Ferber, conta a história da evolução econômica do Estado do Texas, da agropecuária para o petróleo. Para tanto, lança mão de três fortes personagens, Leslie Benedict (Taylor), Jordan Benedict (Rock Hudson, de quem ficaria amigo pelo resto da vida), e Jett Rink (James Dean, que morreria logo após as filmagens). Ainda que o filme se ressinta de um certo excesso de ambição, além de outros problemas mais localizados, como a maquiagem que não consegue nos convencer do envelhecimento dos protagonistas, Assim Caminha a Humanidade é exemplo de cinema narrativo de qualidade, como só os americanos sabem – ou sabiam – fazer.

Ainda em 1956, o casamento de Elizabeth com Michael Wilding chegou ao fim. Menos de um ano depois, em fevereiro de 1957, ela se casou pela terceira vez, com o  empresário Michael Todd, que acabara de ganhar o Oscar de Melhor Filme pela produção A Volta ao Mundo em 80 Dias (Around the World in 80 Days, 1956).

De casamento novo, Elizabeth voltou à MGM. Feliz com resultado de seu trabalho anterior, ela resolveu encarar um outro desafio no mesmo gênero épico: A Árvore da Vida (Raintree County, 1957), de Edward Dymtryk. Taylor vive Susanna Drake, uma sulista que embarca numa casamento problemático com o idealista John Wickliff (Montgomery Clift). Mais do que pelas suas qualidades, A Árvore da Vida se tornou famoso pelo violento acidente de carro de Montgomery Clift, logo após sair alcoolizado da casa de Liz Taylor. O ator sofreu sérios ferimentos no lado direito seu rosto, que teve que ser inteiramente reimplantado. É possível perceber a mudança no semblante de Clift da metade do filme em diante. Do lado de Taylor, seu desempenho em A Árvore da Vida lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar [vencido por Joanne Woodward, por As Três Máscaras de Eva (The Three Faces of Eve, 1957)].

Nos dois anos seguintes, Taylor trabalhou nas  adaptações de duas peças de Tennessee Williams. Na primeira, Gata em Teto de Zinco Quente (Cat in a Hot Tin Roof, 1958), de Richard Brooks, ela interpreta Maggie, uma sensual esposa, louca de tesão pelo marido (vivido por Paul Newman), que a rejeita na cama. Na versão para o cinema, a alusão à homossexualidade do protagonista, que existia no material original, é disfarçada para driblar os códigos de censura da época. As filmagens foram terrivelmente conturbadas em decorrência do trágico acidente aéreo que matou o marido de Elizabeth. A produção foi obrigada a ser interrompida por diversas vezes até que ela se recuperasse emocionalmente. Toda vez que revejo Gata em Teto de Zinco Quente, me surpreendo como Taylor, mesmo de luto, conseguiu superar as dificuldades e, ainda assim, ter um dos seus melhores desempenhos. Por esse papel, ela recebeu sua segunda indicação ao Oscar [derrotada para Susan Hayward, em Quero Viver! (I Want to Live!, 1958)].

O segundo trabalho baseado em Tennessee Williams foi De Repente, no Último Verão (Suddenly, Last Summer, 1959), de Joseph L. Manckiewicz. Taylor interpreta Catherine Holly, jovem perturbada emocionalmente após a controvertida morte do marido e que, segundo sua sogra Violet (Katharine Hepburn), precisa ser lobotomizada. Montgomery Clift vive o médico Dr. Cucrowicz. O clima no set também foi tenso, com brigas constantes entre Hepburn e Mankiewicz (segundo a atriz, o diretor passou da conta no modo de tratar Clift). Mais uma vez a homossexualidade é o tema de fundo, e o resultado final é dos mais felizes. Por esse trabalho, Taylor ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Drama e foi nomeada pela terceira vez ao Oscar [dessa vez, vencido por Simone Signoret, por Almas em Leilão (Room at the Top, 1959)].

O destino de Taylor parecia sempre estar próximo a grandes tragédias (a morte de James Dean e de Michael Todd, o acidente automobilístico de Montgomery Clift). Mas os grandes escândalos, claro, eram provocados por ela. O primeiro de uma série deles, foi a sua união com Eddie Fisher, seu padrinho de casamento e muito amigo de Todd. Na época, Fisher era casado com Debbie Reynolds, uma das namoradinhas da América. Isso não o impediu de se aproximar de Taylor e, enquanto consolava a viúva, iniciar um tórrido romance. Fisher se separou de Reynolds e, em 1959, tornou-se o quarto marido de Elizabeth.

Após mais de uma década presa a um estúdio, Taylor sentia que tinha cacife suficiente para exigir a liberação das obrigações contratuais. Para tanto, chegou a um acordo com a MGM e aceitou interpretar a call-girl Gloria Wandrous, na adaptação do romance de John O´Hara, Disque Butterfield 8 (Butterfield 8, 1960), de Daniel Mann. Ela estava bem no papel, mas tinha consciência que aquele era um trabalho inferior aos seus anteriores. Após encerrar sua participação, viajou para Londres, onde ficou gravemente doente. A coisa foi tão séria, que ela foi obrigada a passar por um traqueostomia. Exatamente nessa época, quando ela estava entre a vida e a morte (segundo versão da atriz), a Academia revelou os vencedor do Oscar. Qual não foi a surpresa que Elizabeth, após três derrotas consecutivas, era agora a grande vencedora. Ela aceitou o reconhecimento, mas no fundo sabia que ele tinha mais a ver com o compadecimento de Hollywood por seu estado de saúde, do que por méritos artísticos.

Então veio Cleópatra (Cleopatra, 1963). O filme-evento. O filme-espetáculo. Mas também o filme-mamute. O filme-mastodonte. A Fox pensava em escalar Joan Collins para o papel. Mas assim que viu Taylor livre do contrato com a MGM, a procurou. Ela não queria fazer o papel e, de birra, disse que só aceitaria a proposta se lhe pagassem U$ 1milhão. Zanuck, o chefão do estúdio, mandou fazer o cheque na hora (na prática, em função das intermináveis horas extras dedicadas à produção, Taylor recebeu mais que o dobro desse valor).

Cleópatra é uma espécie do O Portal do Paraíso (Heaven's Gate, 1980) dos anos 1960. Orçamentos estourados, dinheiro saindo pelo ralo, atrasos nas filmagens, contratempos de bastidores e tudo o mais o que se pode imaginar. Assim como o filme de Michael Cimino levou a United Artists à falência no inicio da década de 1980, Cleópatra quase fez o mesmo com a Fox. O estúdio programou um organograma de 16 semanas de rodagem. A coisa toda durou 3 anos. Peter Finch e Stephen Boyd foram demitidos no meio do projeto. O diretor Joseph L. Manckiewicz foi chamado com o bonde já andando para tentar colocar ordem na casa. Elizabeth Taylor volta e meia caia de cama. E ainda havia Richard Burton. Sim, Burton...

Gales de nascimento, bonito, cara de homem, dono de uma voz poderosa, Burton era uma espécie de Clive Owen da época. Sua carreira começou no teatro britânico. Fez alguns filmes nos EUA no início dos anos 50, como o épico O Manto Sagrado (The Robe, 1953), e até foi indicado ao Oscar de coadjuvante por Eu Te Matarei Querida (My Cousin Rachel, 1952). Mas sua preferência era mesmo pelos palcos. Mesmo com o florescimento do movimento free-cinema na Inglaterra, Burton apareceu pouco na telona. Seu maior sucesso foi Odeio Essa Mulher (Look Back in Anger, 1958), de Tony Richardson. Apesar disso, Burton era ainda desconhecido do público americano. Sua participação em Cleópatra, no papel de Marco Antonio, mudou as regras do jogo.

Burton e Taylor se conheceram no set de filmagens. Apaixonaram-se instantaneamente. Ambos eram casados. Eles não deram muita bola para as convenções e nem fizeram muita questão de esconder o romance adúltero. O escândalo foi imediato. Os tablóides de fofoca não precisavam nem se esforçar. O casal fornecia pauta gratuita e constante. A coisa chegou a tal ponto que até o Vaticano entrou em cena, condenando a atitude do casal. O conflito se encerrou quando eles conseguiram se divorciar de seus respectivos parceiros e se casar em março de 1964. Era o quinto casamento de Taylor.

Cleópatra estreou em 1963 com críticas pesadas. A Academia, no entanto, gostou do que viu e concedeu ao filme os principais Oscars técnicos da temporada. Taylor foi ignorada, interrompendo uma sequência de quatro indicações em série. Mas já casada com Burton e U$ 1 milhão mais rica, quem disse que ela se importou?

Se Taylor e Burton não se desgrudavam na vida real, a mesma coisa acontecia no cinema. Ao longo dos quatro anos seguintes, o casal estrelou sete filmes: em Gente Muito Importante (The VIP´s, 1963), espécie de Grande Hotel num aeroporto, ela interpreta um dos passageiros que aguardam a autorização para embarque; em Adeus às Ilusões (The Sandpiper, 1965), de Vincente Minnelli, Taylor seduz o pastor Burton e o convence a largar a batina; em A Megera Domada (The Taming of the Shrew, 1967), de Franco Zeffirelli, ela faz Katharina e Burton, Petruccio; em Doutor Faustus (Doctor Faustus, 1967), filme dirigido por um amigo de Burton, Nevill Coghill, Taylor faz pequenas e bizarras participações; Os Farsantes (The Comedians, 1967), baseado em romance de Graham Greene, é ambientado no Haiti dominado pelo ditador Papa Doc; e em O Homem que Veio de Longe (Boom!, 1968), de Joseph Losey, Taylor reencontra pela última vez um texto de Tennessee Williams, interpretando uma mulher riquíssima que recebe uma inesperada visita na sua ilha.

De todos esses trabalhos, é consenso universal que o melhor é Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who´s Afraid of Virginia Woolf?, 1966), estreia de Mike Nichols na direção. Taylor vive Martha, esposa de George (Richard Burton). Adaptado da peça de Edward Albee, o filme é das maiores lavações de roupa suja em público que o cinema já viu. São mais de duas horas de brigas, xingamentos, palavras rudes, ameaças de morte etc. Como na época já eram famosos os conflitos entre Burton e Taylor, não foram poucos os críticos que viram naquelas cenas uma extensão exata do que ocorria na vida privada do casal.

Para viver uma personagem na faixa dos 50 anos, Taylor, àquela altura com 34, se desglamurizou por completo: engordou, vestiu roupas coladas ao corpo, deixou o cabelo despenteado, exagerou na maquiagem e nas falas ríspidas. É uma interpretação no limite do exagero, mais naturalista e menos presa ao estilo dos estúdios da década anterior. Taylor sai-se maravilhosamente bem. A Academia não podia deixar passar: Quem Tem Medo de Virginia Woolf? rendeu a atriz seu segundo Oscar. Ao contrário de Disque Butterfield 8, todos reconheciam que, dessa vez, o prêmio era merecido.

Ironicamente, seu apogeu como atriz marcou o início da sua decadência. Dali para frente, nenhum de seus filmes deixou uma maior impressão. Os executivos perceberam que Taylor já não levava o público ao cinema como antes, e passaram a remunerá-la por percentuais de bilheteria. Nessa fase fez uma prostituta no estranho Cerimônia Secreta (Secret Cerimony, 1968), novamente dirigida por Losey; reuniu-se pela terceira vez com George Stevens, em Jogo de Paixões (The Only Game in Town, 1970); trabalhou ao lado de Michael Caine e Sussanah York, na comédia X, T & Z (idem, 1972), de Brian Hutton; voltou a contracenar com Burton em Under Milk Wood (idem, 1972); foi dirigida por Peter Ustinov no terror Unidos Pelo Mal (Hammersmith is Out, 1972); interpretou uma esposa que faz uma cirurgia plástica para seduzir o marido Henry Fonda no drama camp Meu Corpo em Tuas Mãos (Ash Wednesday, 1973); cantou com sua própria voz em O Pássaro Azul (The Blue Bird, 1976), do veterano George Cukor; e dividiu o estrelato com vários outros atores importantes na adaptação do romance de Agatha Christie, A Maldição do Espelho (The Mirror Crack´d, 1980).

Em junho de 1974, enquanto Taylor pulava de um filme para o outro, sua união com Burton chegou ao fim. Como há louco para tudo nesse mundo, pouco mais de um ano depois, em outubro de 1975, eles estavam novamente casados. O novo enlace – seu sexto – durou apenas 10 meses, quando, aí sim, o casal se separou definitivamente. Taylor não conseguia ficar solteira e, meros quatro meses depois, casou-se pela sétima vez. O escolhido foi o senador John Warner, o que a obrigou a mudar de Los Angeles para Washington.

Ao longo dos anos 1980, Taylor dedicou-se mais aos telefilmes e às series. Tentou se aventurar nos palcos da Broadway, em novas montagens de The Little Foxes, de Lillian Hellman, e Private Lives, de Noel Coward. Em 1982, separou-se de Warner. Em 1983, internou-se por decisão própria numa clinica de reabilitação para tratamento contra o alcoolismo. Em 1984, aos 58 anos, Richard Burton morreu subitamente de hemorragia cerebral. No ano seguinte, seu amigo Rock Hudson faleceu vitima de conseqüências advindas da AIDS. Elizabeth abraçou a causa e fundou a American Fundation dedicada à pesquisa sobre a doença (por essa iniciativa, ela receberia um Oscar Humanitário em 1993). Em 1988, Taylor voltou à mesma clínica, onde conheceu o ex-caminhoneiro Larry Fortensky. A amizade permaneceu do lado de fora da instituição e ambos resolveram se casar em 1991. Foi seu oitavo – e último – matrimonio. Eles se divorciariam em 1996.

Sua última atuação no cinema, quase uma auto-gozação, foi na adaptação do desenho animado Os Flintstones (The Flintstones, 1994). Em 1997, Elizabeth retirou um tumor benigno do cérebro. O tempo foi passando e sua saúde, se debilitando. Em 2004, os médicos detectaram a insuficiência cardíaca que a mataria tempos depois. Nos últimos anos, ela precisava do auxilio de cadeira de rodas para se locomover.

Elizabeth ainda conseguiu fazer algumas aparições em público. Em 2005, foi testemunha de defesa no julgamento de Michael Jackson, por suposto abuso infantil; e em 2007, no auge da greve dos roteiristas de Hollywood, ainda encontrou forças para atuar uma peça ao lado de James Earl Jones. Em 2009, passou por uma cirurgia no coração para corrigir os problemas de circulação. Em 2011, esse mesmo não coração não teve forças para bombear sangue de forma suficiente, e parou. Elizabeth Taylor tinha 79 anos.

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
Flintstones, Os
Pearl Slaghoople
1994
4,7
Ana dos Mil Dias
Cortesã (não-creditada)
1969
Cleópatra
Cleopatra
1963
7,4
Globo de Ouro (prêmio)
Oscar (indicação)
1959
Disque Butterfield 8
Gloria Wandrous
Oscar (prêmio)
Globo de Ouro (indicação)
1960
Megera Domada, A
Katharina Minola
1967
Pai da Noiva, O
Kay Banks
1950
Pecado de Todos Nós, O
Leonora Penderton
1967
Quo Vadis
Prisioneira na arena
1951
7,5
Gente Muito Importante
Frances Andros
1963
Homem que Veio de Longe, O
Flora 'Sissy' Goforth
1968
Árvore da Vida, A
Susanna Drake
Oscar (indicação) 1957
1952
1980
1944
Netinho do Papai, O
Kay Dunstan
1951
Nossa Vida com Papai
Mary Skinner
1947
1943
Última Vez que Vi Paris, A
Helen Ellswirth
1954
Príncipe Encantado, O
Carol Pringle
1948
X, Y e Z
Zee Blakeley
1972
1968
Adeus às Ilusões
Laura Reynolds
1965
Doutor Faustus
Helena de Troia
1967
Meu Corpo em Tuas Mãos
Barbara Sawyer
Globo de Ouro (indicação) 1973
Jogo de Paixões
Fran Walker
1970
Batalha de amfAR, A
Ela mesma (arquivo)
2013
1974
Under Milk Wood
Rosie Probert
1972
Little Night Music, A
Desiree Armfeldt
1977
Morte no Inverno
Lola Comante
1979
Pássaro Azul, O
mãe / bruxa / luz
1976
Vitória em Entebbe
Edra Vilnofsky
1976
Marilyn Monroe - O Fim dos Dias
Ela mesma (arquivo)
2001
2001
1967
Oscar (prêmio)
Globo de Ouro (indicação)
1966
8,5
8,3
Gata em Teto de Zinco Quente
Margaret 'Maggie
Oscar (indicação) 1958
8,5
8,2
Assim Caminha a Humanidade
Leslie Lynnton Benedict
1956
Lugar ao Sol, Um
Angela Vickers
1951
8,7
8,5
1949
Título Prêmios Ano Notas
Angel
romance
2007