''James... faça por merecer.''
O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan) filme de 1998, do diretor Steven Spielberg, o palco principal dessa grande obra: A Segunda Guerra Mundial, sendo mais preciso em 6 de Junho de 1944, o que ficou conhecido como o Dia D. O Capitão John Miller (Tom Hanks) após desembarcar na praia de Omaha, na costa Francesa, acaba perdendo a maioria de seus homens, recebe a missão de resgatar com vida o soldado James Ryan, caçula de quatro irmãos, dentre os quais três morreram em combate durante a guerra. John não sabe se o jovem está vivo ou morto ou se foi capturado pelo inimigo, mas sai à procura do soldado levando consigo sete homens.
No princípio podemos pensar ser apenas mais um filme comum de guerra, sem novidades, sem uma trama realmente interessante, ressaltado o patriotismo americano - o que de fato existe no filme - podemos analisar então essa obra pelo meio cinematográfico ou ideológico ? É fácil analisar e criticar um filme somente pelo fato dele ressaltar um lado da história (o dos americanos e Aliados), um fato histórico grandioso que mudou o mundo, para o bem ou para o mal, mas podemos dizer que soldados americanos, britânicos ou franceses estupraram mulheres na França ? Ora, não é difícil de se imaginar que isso realmente tenha acontecido, mas como não podemos citar o maior estupro em massa da história ? Referindo-se ao estupro de alemãs pelo Exército Vermelho, também existiram crimes de guerra dos Aliados, ou não podemos dizer que soldados nazistas cometeram atos como estupro, homicídio e tortura?
Claro que sim, pois é o lado mais sombrio e animalesco do ser humano. Houveram atrocidades dos dois lados, é uma guerra, alguns leigos pensam que na guerra é somente atirar e matar, morrer e torturar ou bombardear e explodir, não sabem o que é a definição de guerra. Pois tudo isso é pesado e escuro demais, mas pode ficar pior e ainda mais obscuro.
É algo brutal, algo que mostra o lado mais bárbaro do homem, não haviam necessidades de existir tanto ódio, tortura, massacres, estupros, experimentos ou caos, a anarquia em seu estado mais natural, mas existiu - e ainda existe - infelizmente, isso é bem retratado no filme, do seu modo. Muitos glorificam os Estados Unidos em seu papel nesta batalha (podendo colocar até o filme nesse padrão) mas mal sabem que se não fosse por Pearl Harbor nem teriam entrado efetivamente. Mas estamos falando muito de fatos, e pouco de cinema.
Durante as quase três horas de duração podemos fazer questionamentos do que é certo ou errado em um ambiente tão hostil como aquele, quais atitudes tomar e em quais momentos decidir, estamos falando de uma grande obra, com um elenco brilhante (Tom Hanks excepcional, Matt Damon ainda jovem, Adam Goldberg, Tom Sizemore, Giovanni Ribisi, Barry Pepper e até mesmo Vin Diesel), sendo um dos melhores filmes sobre guerras, especialmente a Segunda Guerra Mundial. Existe a história do patriotismo americano, assim como uma trama um tanto clichê (uma missão de resgate atravessando em pleno campo de batalha e passando por ambientes hostis), mas a história daqueles homens, suas vidas, suas profissões, seus medos, é algo para ver e rever, a direção de Spielberg neste aqui é fenomenal, a batalha na praia (o que dá o pontapé inicial para o filme) é bem dirigida e verossímil, o bastante para chamar a atenção do mais desinteressado espectador.
O Resgate do Soldado Ryan, diferente de um bom vinho, sofre do processo contrário, revi algumas vezes e, embora, pela primeira vez tenha presenciado apenas qualidades, nas demais vezes não, falhas são perceptíveis e o filme perde um pouco de seu brilho e sua forma, as qualidades ainda estão lá, mesmo que borradas, mas é como um grande bolo ao sair do forno, é fofo, quente e apetitoso, depois de algumas horas que levado para a geladeira, o recheio está duro, a massa também, é difícil de cortar e saborear os ingredientes, é gelado, a textura muda e não é esquentando no micro-ondas que o sabor volta em sua forma original.
O filme termina de uma forma um tanto poética, da forma que deveria ser, mas com o velho patriotismo americano escrachado na cara, um clichê chato que poderia ser evitado o filme todo. Pode interessar mais os amantes dos filmes de guerra, os interessados no conflito militar que foi a Segunda Guerra Mundial, ou até os admiradores de Spielberg, mas é um filme que pode - e deveria - ser visto, revisto e analisado por todos, sem um tom preconceituoso, mas sabendo separar e conciliar ficção e realidade.
"Ela ficava na porta me olhando. E eu de olhos fechados. Sabia que ela queria saber
como tinha sido meu dia. Sabia que tinha voltado cedo para conversar comigo. Mesmo assim não me mexia. Fingia estar dormindo. Não sei porque fazia isso."
Belo texto, Arthur! Gostando de ver..
Opa, obrigado Marcelo! Também gostei do seu texto para O Regresso! 🙂