Se o veterinário Henry, interpretado por Adam Sandler, fosse filho de um pai nascido na terra da rainha, poderíamos dizer facilmente que não puxou o charme britânico, e se sua mãe tivesse nascido na terra de Tio Sam, poderíamos dizer também que não puxou a ‘beleza americana’. Da mesma forma, Henry é um conquistador daqueles que seus amigos pensam que nunca ira se apaixonar. Um dia, porém, isso acontece. Lucy Whitmore (Drew Barrymore) é a filha de um pescador que havia perdido a memória em um acidente de carro, porém sua amnésia é um caso raro e especial. Lucy lembra-se apenas do que aconteceu antes do acidente e quando vai dormir, esquece tudo que aconteceu no dia anterior.
O primeiro encontro entre Heny e Lucy ocorre no restaurante de Sue (Amy Hill), amiga da falecida mãe de Lucy, e que, vendo o problema, tenta deixar o conquistador longe da menina. No entanto, o primeiro dia é inevitável, os dois conversam e aparentemente, com suas dancinhas, é claro notar que estão apaixonados. No dia seguinte o problema começa. Lucy não lembra mais de Henry, e Sue tem de explicar toda a história para ele.
Porém Henry não desiste fácil e mesmo com as caras desgostosas de Sue e da família de Lucy, tenta conquista-la todo o santo dia. Às vezes ele consegue, outras não. O pai de Lucy e seu irmão, Doug, ajudam-na a pensar que todo dia é o dia anterior ao do acidente, e portanto, aniversário de seu pai. Todo dia a tradição do abacaxi, o jornal daquele dia, o presente (dvd de O Sexto Sentido), o bolo, a pintura, etc. Surge a ideia de uma gravação, onde Henry reúne depoimentos do pessoal da ilha informando o que aconteceu, o qual Lucy passa a assistir todos os dias. Aparenta ser a solução perfeita e o fim do filme, mas ainda tem muita história para se desenrolar.
Além de Adam Sandler e Drew Barrymore, no elenco ainda temos Jocko, uma morsa, e Willy, um pinguim. A meu ver, eles fazem parte de um dos maiores defeitos do filme. Há uma dualidade no setor cômico de Como Se Fosse a Primeira Vez. Piadas adultas que envolvem sexo ou ainda outras bem boladas em função da doença de Lucy contracenam com animais fazendo gestos e vomitado e tiradas completamente infantis (como, podemos citar, muitas envolvendo a personagem de Alexa). Os animais são sempre uma atração infantil, o que explica filmes como Os Pinguins do Papai (Mr. Popper's Penguins, 2011), O Zelador Animal (Zookeeper, 2010) e Deu a Louca nos Bichos (Furry Vengeance, 2010) de comediantes do mesmo porte de Adam Sandler, como Jim Carrey e Kevin James. Essa dualidade que gera cenas constrangedoras quando os pais e a criança assistem a um filme sem conferir a classificação indicativa com antecedência.
Porém, felizmente Como Se Fosse a Primeira Vez é um filme melhor do que todos aqueles exemplos citados acima. O romance de Henry e o convívio com as peculiaridades de Lucy dá uma linda história de amor. Aliás, ainda destaco uma das cenas que mais me chamou atenção da parte romântica do filme. “Forgetful Lucy”, cantada por Adam Sandler para a personagem de Drew Barrymore, com o mar de fundo e os golfinhos pulando, mesmo com os toques cômicos na canção, gera a melhor cena do filme, quase que indiscutivelmente. Uma curiosidade é que um dos compositores da canção é justamente Sandler.
No mínimo curioso também é o fato de três grandes nomes de filmes nostálgicos para a geração década de 80 se encontrarem em um mesmo filme, dois deles ainda crianças quando trabalharam nesses filmes. Drew Barrymore fez a irmã de Eliot, em E.T., o Extraterreste (1982), de Steven Spielberg, com apenas sete anos de idade. Sean Astin, que fez Doug, irmã de Lucy, fazia em 1985, Os Goonies, aos 14 anos de idade. E Dan Aykroyd, que fez uma breve participação como o Doutor de Lucy, fez Os Caça-Fantasmas, de 1984.
Mesmo com o exaustivo trabalho de um roteirista, o fato de uma pessoa acreditar que todo dia é o mesmo dia, independente do que, geraria pontas desconexas. Essas pontas desconexas em momento algum devem ser consideradas como defeitos do filme, mas mérito seria dele se conseguisse fazer com que elas não existissem. Como elas existem, é no mínimo divertido cita-las, por exemplo, como Lucy conseguia o seu abacaxi em um Domingo? Como não notar a cidade decorada para o natal ou os fogos do ano novo? Sua família não comemorava essas datas? E por que diabos um pai escolheria mentir para a filha a falar a verdade todos os dias? Não seria muito menos trabalhoso do que assistir O Sexto Sentido todo dia? Respostas nós não temos, apenas a imaginação para como resolveríamos esses problemas.
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