Sou mais um dos fãs que cresceram lendo as obras de JK Rowling e sempre na espera pelas adaptações. Acabo sendo então ser um pouco suspeito para falar. Porém, alego de antemão que Harry Potter nunca esteve tão sombrio e sério como agora, na primeira parte do final épico desta tão consagrada saga. Já fazia algum tempo que eu não saía de uma estreia de um filme da série tão satisfeito como agora. Satisfeito e surpreso, com as expectativas (confesso que, desta vez, altas) superadas. Vejamos o porque.
Um discurso do ministro da Magia, Rufo Scrimgeour, e os três protagonistas pensativos e preocupados. Os tios de Harry fazem as malas, se despedem do rapaz e partem de sua própria casa, pois nem mais o mundo dos trouxas está seguro. Hermione, cujos pais também não são bruxos, vê-se obrigada a protegê-los. Por isso lança um feitiço que apaga totalmente a memória deles, fazendo com que até ela seja deletada da vida dos pais. Assim é a introdução de HP7.1 (estupenda, diga-se de passagem), que nos evidencia a seriedade da situação e a maturidade com que a obra será tratada ao longo de suas duas horas e tantos minutos.
O mundo bruxo está em tempos negros, sob a liderança do cada vez mais poderoso Lord Voldemort, em uma situação bastante similar ao regime nazista. Aqui, o novo Ministério prega a aniquilação de todos os indivíduos "impuros", sangues-ruins, não-bruxos.
Em meio a isso, Harry e seus amigos veem-se em uma tortuosa e complicada jornada em busca das Horcruxes - objetos que contem partes da alma de Voldemort. O único modo de vencê-lo é destruindo-as. Uma tarefa aparentemente impossível deixada por Dumbledore. Este é o foco principal da primeira parte do gran finale: mostrar como Harry, Rony e Hermione lidam com a situação, os lugares onde passam (paisagens lindas, de encher os olhos!), seus planos, seus pensamentos, os perigos que enfrentam. O objetivo é justamente explorar o psicológico e como o terror pode modificá-los. Um momento que jamais exigiu tanto dos três atores, e felizmente eles estão melhores do nunca. Destaco Rupert Grint, o Weasley. Ele deixou de ser apenas caras & bocas, um alívio cômico da série, para se tornar uma pessoa preocupada com sua família e amigos, mais determinada. Sim, Rony Weasley continua com seus momentos engraçados - como nas cenas em que eles se infiltram no Ministério sob a poção polissuco -, no entanto seu personagem e atuação cresceram muito.
O elenco de apoio continua excelente. A saga de Harry Potter, na verdade, sempre teve um elenco de primeira. Alan Rickman, preciso mencioná-lo? Como sempre IMPECÁVEL como Severo Snape, a escolha perfeita para o personagem, com sua postura, sua voz marcante e olhos penetrantes. Ralph Fiennes é o Voldemort perfeito, maléfico, sádico e sarcástico. Helena Bonham Carter continua com a sua Bellatrix Lestrange louca de pedra, insana, exatamente como deveria ser. Enfim, menções honrosas para os demais atores presentes no filme. Não consigo lembrar de nenhum que tenha deixado a desejar.
O desenvolvimento da série não está apenas nas atuações, mas também na direção de David Yates. O diretor, que vem sendo o responsável desde a Ordem da Fênix, soube dirigir muito bem cada cena, com precisão e delicadeza, trazendo diversos gêneros em um só filme. A sequência em Godric's Hollow, por exemplo, beira o terror, pois utilizou do silêncio sua trilha sonora, gerando uma tensão crescente no espectador. No começo do filme temos uma ótima cena de ação em uma batalha nos céus. Sorrisos podem ser arrancados na dança de Harry e Hermione, um meio em que os protagonistas encontraram para se distrair do contexto macabro em que se encontram, evidenciando a amizade dos dois. Outrora, temos a tomada dramática protagonizada por Dobby, o elfo doméstico cuja primeira aparição foi na Câmara Secreta. É um dos momentos mais bonitos da saga, capaz de brotar lágrimas nos olhos do público.
Não posso deixar de mencionar também a animação durante a narração de Hermione do Conto dos Três Irmãos. Que surpresa gratificante! Algo completamente novo na série, uma animação "ilustrativa" de um conto, sombria, a la Tim Burton.
Os relacionamentos são o único probleminha em HP7.1. Harry & Gina formam um par bem superficial e sem muita exploração.
Por mais que aleguem que não houve uma decisão mercantilista e sim para uma melhor adaptação das 590 páginas de Relíquias da Morte, sei muito bem que a divisão em duas partes foi SIM um pouco para fins lucrativos. Afinal, Harry Potter é uma das séries mais rentáveis de todos os tempos, se não A. E porque fazer apenas um filme, se há como ser feito DOIS?
No entanto, devo confessar que estou contente com esta decisão. Com a divisão pôde-se obter um trabalho muito mais satisfatório, maduro, melhor trabalhado, com melhor desenvolvimento das cenas e dos personagens. Sem contar, também, na fidelidade à obra. Este foi provavelmente o filme mais fiél ao livro, para a alegria dos fãs e minha também.
Encerro minha crítica por aqui, deixando claro minha satisfação com HP7.1. O palco para a batalha final foi montado. Agora é esperar até julho para contemplar o fim DEFINITIVO, que, se continuar assim, fechará a série com chave de ouro.
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