Fãs de HQs, desenhos animados, cinéfilos em geral, todos estavam de olho na super-aguardada estréia do ano 1989. Tim Burton está no comando, Michael Keaton não anima, mas a presença de Jack Nicholson e a promessa de que o filme contém referencias à obra-prima de Alan Moore, A Piada Mortal, animam, e muito.
O resultado foi um enorme sucesso.
Em primeiro lugar, é um filme sério. Uma grande equipe foi formada com DOIS objetivos óbvios: APAGAR a imagem de comediante do Batman, que estava na cabeça das pessoas graças ao famoso seriado dos anos 60, E trazer de volta as origens sinistras e sombrias do Cavaleiro das Trevas (afinal, ele é o Cavaleiro das TREVAS, não da LUZ, ha ha). O filme cumpre isso e vai além. A peculiar direção de Burton, sempre muito GÓTICA e com uma boa dose de humor negro, encaixa-se perfeitamente com o universo do Morcego.
A trilha sonora de Danny Elfman, o figurino e os cenários são um show à parte. O roteiro é simples e direto,recheado de diálogos INCRÍVEIS, realmente com "pitadas" de A Piada Mortal, assim como de O CAVALEIRO DAS TREVAS (de Frank Miller) e da primeira aparição do Coringa, em 1940.
O elenco foi muito bem escolhido.Michael Keaton é um Batman marcante. Escolhido por Burton pelo seu OLHAR. E realmente, aí reside a força do personagem. No olhar de Keaton encontramos o homem perturbado e perdido, que Bruce Wayne é. Ele naõ fez um Batman igual ao dos quadrinhos, mas fez um Batman realista, que quebrava o clichê "herói bombadão, musculoso e bonitão".
A personagem de Kim Basinger, por outro lado, é, infelizmente, um clichê ambulante. Só está lá para correr, gritar e ser a donzela em perigo. Ao menos ela faz isto muito bem, sendo a atriz talentosa que é. Robert Wuhl faz um carismático mala-sem-alça e Michael Gough foi, simplesmente, a escolha PERFEITA para o mordomo Alfred. Outros 2 personagens secundários dignos de nota são o Harvey Dent de Billy Dee Williams (que, de fato, "só está lá por estar", mas interpreta corretamente o promotor em começo de carreira e muita gente disse, após o lançamento de BATMAN ETERNAMENTE "devia ter sido o Dee Williams...") e o Comissário Gordon de Pat Hingle (outra interpretaçaõ correta mas com pouco destaque).
MAS, todas essas boas atuações saõ completamente ofuscada quando ALGUÉM entra em cena...
O filme BATMAN devia, na verdade, por motivos óbvios, chamar-se CORINGA. Se há algum ator que NASCEU para ser um personagem, este é Jack Nicholson e o personagem é o Coringa. Uma das criticas mais verdadeiras da época sobre sua atuação foi feita pela revista Time Out; “(O Coringa) cacarejava, dançava, matava de puro valor humorístico, e lançava as melhores piadas. O Coringa de Jack Nicholson (...) consegue o maior golpe criminoso da década; o roubo de um filme inteiro”.
Quando ele está em cena, só temos olhos para ele. Quando naõ está, queremos que volte. Ficamos nos perguntano “onde andará o Coringa?”. O filme pertence à ele. Ele tem as melhores falas e as melhores cenas. Como o próprio ator revelou, desde criança era fã de HQs e o Coringa sempre foi seu favorito. Por isso ele sabia muito bem como fazer.
O Coringa é um palhaço assassino. Não deve tender nem para o lado insano, nem para o lado palhaço. Deve haver um equilibrio entre estes dois. E Nicholson estabelece este equilibrio com perfeição; cada assassinato dele é acompanhado por alguma ótima piada de humor negro, como fazer poses exageradas ao descarregar o revólver em alguém, ou usar uma pena como arma e soltar o famoso “A pena é realmente mais forte que a espada”, ou ainda desfigurar o rosto de alguém com ácido e chamar de ARTE... Não há cenas entediantes com ele. Destaque para as sequencias no Museu de Arte, no apartamento de Vicky Vale E o grande final na Torre da Igreja, simplesmente perfeitas.
A construção psicológica do personagem é impressionante. Tim Burton arriscou-se a fazer algo que apenas Alan Moore havia tido peito para fazer até então: dar ao Coringa um passado e, assim, aprofundar-se ainda mais na psicologia do Palhaço do Crime, tornando este Batman o equivalente a um BATMAN BEGINS do CORINGA. Nós vemos como ele enlouqueceu em um “Dia Ruim”, e como ele torna-se o completamente insano Coringa, que só quer saber de espalhar Caos e violencia em Gotham, sem lucrar de maneira alguma (a não ser com a diversão), que mata com indiferença, tem sempre uma piada na ponta da língua e ainda é um apreciador de música clássica e obras de arte, que sabe se comportar como um cavalheiro, em um misto de Monstro/Gentleman que faz lembrar do lendário Hannibal Lecter.
Enfim, Batman foi um ótimo começo, um filme sombrio, gótico e sério, como os fãs do Morcego esperam, que agradou naõ só os fãs de HQs, mas cinéfilos em geral. Ainda é uma boa opção para fãs de adaptações, assim como fãs de Tim Burton e Jack Nicholson que queiram ver um de seus melhores trabalhos.
Vale lembrar que o filme recebeu o MERECIDÍSSIMO Oscar de Melhor Direção de Arte, e ainda foi indicado à também merecidíssimos seis BAFTA (incluindo Melhor Ator Coadjuvante, para Jack Nicholson) e um Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia (para Nicholson, também).
BATMAN abriu as portas para a franquia, que ainda rendeu três sequencias (sendo a primeira delas, O RETORNO, tão boa quanto o primeiro), além do maravilhoso desenho BATMAN THE ANIMATED SERIES, e também influenciou todo o universo do Homem Morcego, seja quadrinhos, cartoons e até mesmo os novos e ótimos filmes de Christopher Nolan.
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