É o fim. É simplesmente incrível, quase inaceitável, que um diretor e roteirista indicado ao Oscar vá do céu ao inferno tão drasticamente em tão poucos anos. Pois é o que aconteceu com M. Night Shyamalan, que obteve um sucesso impressionante com seu espetacular “O Sexto Sentido” (acertou em cheio também em “Sinais” e “A Vila”), mas não tem conseguido fazer seus últimos filmes emplacarem. Depois de seu último filme lançado, “A Dama na Água”, a carreira do indiano foi colocada em xeque por muita gente. Depois deste “Fim dos Tempos” (The Happening, 2008) , não sei se ele ainda terá uma carreira.
O professor de Biologia Elliot Moore (Mark Wahlberg) é surpreendido quando sua aula é interrompida e recebe a notícia de que sua cidade, Nova York, está sendo alvo de ataques terroristas. Ataques cujo efeito o espectador vê logo na primeira seqüência: as pessoas perdem a fala, ficam paralisadas e têm um impulso incontrolável de cometerem suicídio. Com a evacuação da cidade, Elliot junta-se à sua esposa, Alma (Zooey Deschanel), seu melhor amigo, Julian (John Leguizamo), e sua filha Jess (Ashlyn Sanchez) para uma viagem de trem rumo à Pensilvânia, onde sabe-se que nenhum ataque foi feito. Entretanto, no decorrer da viagem, o trem encontra problemas para prosseguir, e pára em uma cidade rural, longe de tudo, e as pessoas ficam sem comunicação com o mundo. Com o tempo, essas pessoas deparam-se com um fato pelo qual não esperavam: tudo leva a crer que os ataques, concentrados na costa nordeste dos EUA, por serem realizados sempre em parques, não são obra de terroristas. Então, Elliot vê que a Biologia nem sempre contém a verdade completa: as toxinas que levam as pessoas a se matarem vêm das plantas, que criaram um meio de alterarem sua composição química a fim de se defenderem, e estão espalhando as toxinas por todos os EUA, inclusive nessa cidadezinha. Com isso, Elliot e seus companheiros têm de fazer de tudo para salvar as próprias vidas e ajudar uns aos outros, antes que a toxina se espalhe e acabe com todos.
Shyamalan consegui fazer com que o público tivesse interesse com seu filme com atitudes que, na minha opinião, foram uma grande jogada de marketing. Ao tentar vender seu roteiro para a Warner, que produziu dois de seus filmes (”A Dama na Água” e “A Vila”), e tê-lo rejeitado, o indiano encontrou refúgio na Fox, que o produziu e o anunciou como o primeiro filme com censura “R” (para maiores de 17 anos) da carreira do diretor. Toda essa indefinição e um trailer excelente e chamativo fizeram com que o filme liderasse as bilheterias de vários países, tendo arrecadado US$30 milhões no final de semana da sexta-feira 13 de junho em 2008. Aliado a isso, ainda havia o nome de M. Night Shyamalan que, em virtude do sucesso de seu “O Sexto Sentido”, sempre chamou muita gente para as salas de cinema. Pobres das pessoas que, assim como eu, acreditaram que este filme seria a redenção de Shyamalan, que ele calaria a boca dos críticos que acreditaram que “A Dama na Água” seria o marco final de sua carreira. Mas, se “A Dama na Água” não foi esse marco final, aposto várias fichas que Shyamalan terá ainda mais dificuldades para vender seu próximo roteiro. Aliás, o indiano deveria começar a apostar unicamente em sua carreira de diretor, na qual sempre se mostrou muito bom, já que seus roteiros nem sempre são bons. Se Shyamalan não tinha grandes motivos para apostar em uma só carreira, “Fim dos Tempos” era o grande motivo de que ele precisava. Neste, o roteiro é espetacularmente fraco, chegando a ser ridículo em alguns pontos, o que nos pode levar a crer que o filme é feito por um estudante inicial de cinema. Os diálogos são imbecis, todos os personagens são obrigados a proferir falas patéticas, e há verdadeiros buracos negros na trama, fazendo com que as cenas não sigam uma ordem lógica e cronológica nem ao menos aceitáveis.
A proposta de Shyamalan de fazer um filme apocalíptico, a começar pelo título, é completamente furada, principalmente pelo fato de que os acontecimentos são passados apenas nos Estados Unidos. Além disso, o que vemos na tela não é uma destruição total da Terra em virtude do aquecimento global, mas sim a morte de pessoas de uma determinada área. Mas o grande problema da trama não é esse, mas sim o modo como as informações são ditas pelos personagens. A cada momento, são transmitidas para o espectador suposições dos personagens mais estranhos que você possa imaginar. E, por incrível que pareça, as teorias imbecis desses estranhos são a verdade, a base de tudo que está acontecendo. Ridículo, não? Tão ridículo que chega ao ponto de não conseguir fazer nenhum espectador temer pelo que está por vir, principalmente quando os personagens começam a fugir do vento! Sim, do vento! E pode ser que Shyamalan considere este o clímax de sua história, já que, mesmo olhando bem atentamente, não consegui encontrar um ponto realmente alto, realmente empolgante na trama. Mas, como é bem difícil um filme ter apenas erros, Shyamalan acerta em cheio no começo do filme. Apesar de tudo acontecer muito cedo, duas seqüências me chamaram muito a atenção: a primeira, aquela em que os construtores começam a se jogar de um prédio em obras; segunda, a seqüência em que várias pessoas se matam usando a mesma arma.
Como eu não estou aqui para perseguir o diretor/roteirista indiano, preciso reconhecer que a culpa pela péssima qualidade do filme não é só dele. O elenco de “Fim dos Tempos”, mesmo sendo bastante conhecido, protagoniza atuação para se esquecer. Mark Wahlberg mostra-se um péssimo protagonista, parecendo um verdadeiro profeta. Sua entonação de voz é extremamente artificial e forçada, fazendo com que os diálogos (que já são sem muita qualidade) sejam bastante comprometidos. Zooey Deschanel tem uma atuação terrível, parecendo estar constantemente alheia a tudo o que está acontecendo. Esquisita também é Ashlyn Sanchez, que interpreta Jess, a filha do personagem de John Leguizamo. A garota é absolutamente mecânica, não passa emoção nem carisma e suas falas não são nem um pouco naturais. John Leguizamo interpreta Julian, pai de Jess, e, mesmo não tendo uma atuação excelente, é o nome de maior destaque (ou de destaque menos negativo) do longa. Tudo isso, aliado a uma trilha sonora péssima e uma parte visual bem fraquinha, só podia dar o resultado visto nas telas.
É com imenso pesar que vejo a qualidade dos filmes de Shyamalan, que assustou minha infância com seu “O Sexto Sentido”, decaírem tanto. E o pior: neste “Fim dos Tempos” não há uma marca registrada do indiano, que é o final supreendente. Filme ruim sem final surpreendente? Decididamente, vai ser difícil Shyamalan conseguir se reerguer após tamanha queda.
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