6,5
O Festival do Rio está falando sobre muitas historinhas, pessoinhas, que invadem a tela com seus não-acontecimentos, suas não-ações. Isso obviamente não tem nada de novo: o hiper realismo vem há muitos anos invadindo cinematografias do mundo todo, a nossa, inclusive, igualmente há muitos anos. Em tese, nada acontece; no fim das contas, um mundo se desdobrou. O cinema italiano bebeu, a França idem, os EUA cada vez mais e por aqui estamos cada vez mais submersos nessa contextualização do nada, um tipo de cinema que me interessa muito.
Foi surpresa pra muita gente que a estreia do diretor televisivo José Luiz Villamarim se desse nessas conjunturas, ainda mais porque ele está vindo de um universo oposto, ainda que de gente muito humana. Produtos como 'Justiça' (de Manuela Dias), 'Amores Roubados', 'O Rebu' (ambos de George Moura) e tantos outros colocaram o diretor Villamarim e Moura na linha de frente global, e eles partiram para o cinema com sua elogiada visão cinematográfica da TV. Não fizeram por menos e arrastaram junto seu fiel colaborador, o genial Walter Carvalho, para a luz. Vindos todos de trabalhos dramaticamente explosivos, a opção por uma narrativa seca provocou muita curiosidade desde sempre, e essa curiosidade se transforma em parcial decepção ao acompanhar o longa pronto.
Na tela, acompanhamos o reencontro de Luzimar e Gildo, amigos de infância, na véspera de Natal. O primeiro nunca saiu de Cataguases e vive de forma mansa a restrita vida interiorana; o segundo mudou-se para São Paulo há muitos anos e, na visita de fim de ano à mãe, esbarra com o amigo, a quem aos poucos vai revelando sua vida na capital. Ao redor deles vive a esposa e a irmã de Luzimar e a mãe de Gildo, e, gradativamente, passado, presente e futuro de todos eles entram em conflito.
Na superfície há pouco ou nada a embarreirar um trabalho tão programado para ser excelente. A fotografia de Carvalho se mostra absurdamente incrível, Villamarim tem um real talento em ebulição dentro de si e conseguiu construir um belo início de transição para voos ainda mais audaciosos, no elenco transitam Irandhir Santos, Julio Andrade, Dira Paes, Cassia Kiss e Cyria Coentro que são talentosos até sob escombros... E ainda assim 'Redemoinho' fica no "quase". Talvez a tal 'programação para ser excelente' tenha sido ostensiva demais, óbvia demais. De fato há um grande filme dentro de 'Redemoinho', com grandes cenas, grandes interpretações (principalmente as três mulheres, superiores à dupla masculina), mas talvez a ânsia de confeccionar um produto tão micro tenha esgarçado os pontos finais. Alguns diálogos expositivos, outros forçados, levaram a estreia de Villamarim no cinema a compor um painel ligeiramente fake de uma realidade tão próxima.
No fim das contas, sobram belas imagens, sobram talentos envolvidos, mas infelizmente sobra também uma vontade tão genuinamente forte de ser um filme miúdo que essa pequeneza fica evidente e arranha o resultado final, deixando de ser miúdo pelas suas prováveis "intenções". Mas fica a ansiedade de já ver o próximo trabalho de Villamarim, mais orgânico e menos programado.
Visto no Festival do Rio 2016
desculpa, mas achei esse filme lindíssimo
Vc deu a filosofia da legal, hein? Fala que o filme falhou e pronto. É chato e pretensioso. Sem contar que a câmera pregada no chão em diversos momentos é de um mau gosto terrível.