Como vários filmes da década de 80, esquecido e no ostracismo, "O Último Imperador" é um marco na carreira de Bertolucci épico clássico que concedeu ao mesmo o Oscar de Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Filme, foi o primeiro filme que recebeu autorização do governo chinês para filmar na Cidade Proibida. Uma aula de história, com uma boa dose de emoção e sem didatismo, a partir de um ótimo roteiro e sequências primorosas, coroadas por um visual de tirar o fôlego. O filme, como o título já diz, conta a história do último imperador chinês, Pu Yi, que foi coroado com apenas 3 anos e viu de camarote todas as mudanças pelas quais seu país passou desde o fim da dinastia Ching, a instauração da Sun Ya-Sem - primeira república chinesa, a invasão japonesa, a II Guerra Mundial, até a instalação da República Popular da China de Mao Tse Tung. O filme de quase três horas passeia por todas essas épocas, sem seguir necessariamente a linha temporal, mas costurando muito bem todo o processo a partir da visão de Pu Yi...
Bertolucci conduz com competência a longa trajetória de Pu Yi, criando belíssimos planos, como toda a linda cerimônia de nomeação de Pu Yi como Imperador, ainda com 3 anos de idade. O diretor também faz interessantes movimentos de câmera, como o lento travelling que passa pelo Imperador prostrado no chão ao tentar escutar de onde vem o barulho, sobe até o alto dos telhados e volta para Johnson (Peter O’Toole), momentos antes do jovem Pu Yi dizer que aprova o protesto dos estudantes lá fora. O apuro técnico de “O Último Imperador” é espetacular. Observe a caprichada Direção de Arte do trio Maria-Teresa Barbasso, Gianni Giovagnoni e Gianni Silvestre, responsável pelo notável contraste entre o luxo da vida do Imperador dentro da cidade proibida e a sofrida vida dentro da prisão. A direção de fotografia de Vittorio Storaro é esplêndida, claramente refletindo a divisão da narrativa através da cor que predomina na tela. Vermelho para China, azul para o Japão e verde para a prisão.
Também se destacam os impecáveis figurinos de James Acheson, que recriam com precisão as luxuosas roupas chinesas tanto do imperador, como da imperatriz e de praticamente todos os integrantes da Cidade Proibida, A montagem de Gabriella Cristiani faz uma interessante transição no tempo durante a visita da mãe de Pu Yi, ao dizer que faz sete anos que ele não vê sua mãe. Também transita elegantemente entre as duas narrativas, como quando Pu Yi diz aos seus interrogadores que queria reformas e em seguida, vemos a cena em que ele corta seu cabelo. O problema do trabalho de Cristiani aparece na etapa final da narrativa, onde parece estender demais algumas cenas. Também merece destaque a maquiagem no velho Pu Yi e a trilha sonora tipicamente chinesa que ambienta perfeitamente o espectador.
O filme venceu em todas as categorias do Oscar que concorreu: Melhor Figurino, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição/Montagem, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção e Melhor Filme.
Mais uma injustiça para talvez o maior ator da história do cinema, Peter O’Toole tem uma atuação de destaque como o sóbrio tutor britânico Flemming Johnson e nem ao menos foi indicado ao Oscar. Elegante, sempre com a voz firme e a fala pausada, transmite uma tranqüilidade incrível quando está em cena, servindo como ponto de equilíbrio para a criação daquele jovem solitário. Destaque para sua reação espontânea quando Pu Yi pergunta por que ele nunca foi casado." O Último Imperado"r é daqueles filmes que impressiona do primeiro ao último frame. É impressionante ver a trajetória daquele personagem, ainda mais sabendo que ele foi real. O nó que deu em sua cabeça ser criado como um Deus e terminar como o mais comuns dos seres. Em determinado momento, um personagem lhe diz para não se rebaixar tanto, pois ele sempre se achou melhor que todos e naquele momento acreditava ser o pior ser humano existente. Mas, o Oriente sempre acaba nos surpreendendo e mostrando que é sempre possível encontrar o equilíbrio. Uma aula de cinema e de vida...
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