Serra Pelada foi um marco do fim de uma era, último suspiro (antes do pré-sal) da crença no Brasil das riquezas infinitas. Um faroeste com todos os ingredientes: gente estropiada, pistoleiros, gângsteres bem vestidos, negociatas, álcool e mulheres supostamente à disposição. Conta-se que houve quem trocasse todos os dentes por peças feitas em ouro, que prostitutas ficaram ricas, que a Aids encontrou solo fértil no formigueiro humano que subia e descia a montanha: multidão migrante imortalizada por Sebastião Salgado e que surge no filme em imagens às vezes granuladas ou simulando o tecnicolor dos anos 1980.
Para agilizar a identificação com os leigos, Serra Pelada recorre, assim como Cidade de Deus, a um narrador-mediador que traduza o gangsterismo para o público médio. Juliano e principalmente Joaquim, o "Professor", fazem o Buscapé aqui: intérpretes com ensino fundamental completo que sabem explicar com todas as palavras aquilo que os brutos do garimpo (ou da favela) são "incapazes" de articular.
"Eu gostei de matar", diz Juliano, depois da primeira estocada no estômago de um rival. Logo a faca vai sendo trocada por armas de fogo cada vez mais potentes, divisor de águas da maquinaria de poder que o fascina e o torna um rival à altura de Coronel Carvalho (Mateus Nachtergaele) e Lindo Rico (Wagner Moura). Maquinaria que inevitavelmente o afasta de Joaquim, sócio reduzido a um "formiga" depois de conflagrar-se com Juliano. Então, as condições para a vingança estão postas, neste lugar que o "Professor" insiste em dizer que "piora as pessoas" e que por isso, depois de achada a pepita sonhada, quer abandonar aquele lugar.
Sobre os atores, Andrade encabeça bem o elenco ao lado de Cazarré, bastante convincente como fodão da selva. Matheus Nachtergaele mantém seu bom padrão e Sophie Charlotte faz sua estreia com chave-de-perna, quer dizer de ouro, protagonizando cenas mais tórridas que os telespectadores estão acostumados a ver na telinha Eu nunca tinha achado graça nela, mas aqui ela está um tesão do cacete! Entre os destaques, o belo trabalho de reconstituição e efeitos merece atenção, seja na Las Vegas da selva (onde tudo acontecia) ou no garimpo propriamente dito. Misturando com maestria cenas novas e de arquivo, Serra Pelada é um legítimo faroeste amazônico, cheio de tiros, mortes (sem muito aprofundamento, como deveria ser por lá), mantendo uma boa atmosfera de tensão numa trama com boa trilha sonora, elementos de traição, vingança, sexo e alguma emoção.
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