No cinema, assim como é em qualquer outra área, ao se realizar um grande feito uma bagagem pesada é posta sobre as costas do realizador. Nesta bagagem encontram-se as cobranças e expectativas para o futuro. Shyamalan sentiu bem esse peso após nos presentear, em 1999, com o filmaço "O Sexto Sentido" ao entregar, um ano depois, "Corpo Fechado".
Para o bem e para o mal, Unbreakable apresenta inúmeras semelhanças ao sucesso anterior do cineasta indiano. Entre elas, as mais notáveis são a escalação novamente de Bruce Willis para o papel principal, a fotografia sombria, o ritmo lento, a paranormalidade e, claro, um final surpresa. Portanto seria impossível não comparar as obras entre si.
Willis mais uma vez comprova todo o seu talento em um papel dramático. Sua qualidade e carisma contribuem para que sua atuação seja o ponto mais alto da película. Os aspectos técnicos como a fotografia e tomadas de câmera bem sacadas funcionam novamente de maneira bem satisfatória. E mesmo com o ritmo da história fluindo de maneira lenta, Shyamalan consegue criar uma atmosfera envolvente o suficiente para que o espectador passe bem longe de bocejar. As referências aos heróis de quadrinhos são bem interessantes, assim como os detalhes bem bacanas perceptíveis caso seja apreciado com maior atenção (repare bem no personagem de Samuel L. Jackson e seu apelido).
Os problemas do filme se encontram exatamente em uma das suas estruturas mais elogiadas: no roteiro. O personagem David Dunn (Willis) sai como único sobrevivente (e sem nenhum arranhão) de um acidente de trem e começa a desconfiar, com a ajuda de Elijah (Jackson), que possui algo que o diferencia das outras pessoas. O desenrolar de descobertas posterior a este acontecimento faz emergir uma série de questionamentos na cabeça do espectador, sendo "como ele não percebeu isso antes?" o principal deles. Em outros momentos, o roteiro chega a ser esquemático (a parte em que Dunn cai na piscina foi a que mais me evidenciou isso). O final surpresa é um ótimo tempero para a obra no geral, mas aqui ele não chega a causar um impacto tão forte como foi em "O Sexto Sentido".
Portanto, mesmo com uma ótima atuação de Willis, uma apurada parte técnica, um interessantíssimo argumento e o final surpresa, "Corpo Fechado" se apresenta como uma obra menor (ainda assim muito boa), ainda mais quando posta ao lado de "The Sixth Sense". Essa comparação pode até parecer injusta, mas como disse no começo no texto, acaba sendo inevitável e justamente por isso sua recepção entre os críticos e espectadores foi tida com certa dose de decepção.
Acho o seguinte:
1) Corpo Fechado só se compara à Sexto Sentido na condução e construção da trama por parte do diretor e seus finais surpresas.
2) Sobre a questão do roteiro, acho que - pelo que eu entendi, já que acho que poucos filmes possuem somente uma interpretação - que Dunn percebe sim ser portador de habilidades especiais, ficando mais evidente na cena do flashback do acidente, mas acabou bloqueando isso em sua mente, devido ao trauma e o amor por Audrey.
Obrigado, Cristian!
O que não me convenceu é o fato de muitas outras coisas já terem ocorrido antes do acidente, desde sua infância, e ele nunca ter notado que era diferente das demais pessoas. Mas fora isso, achei filmaço sim.
E Thiago, com todo o respeito que um cinéfilo merece: tente ser menos agressivo e expôr alguma opinião que não seja comparativa com um filme do Nolan (de quem sou fã), pois essa história de não gostei e ponto, não sei por que é meio superficial. Este, até onde eu sei, é um canal para debatermos cinema e não para avacalhar. Em meu comentário sobre o filme, dei nota 9 e discordei de quase tudo no texto do Matheus (exceto sobre a interpretação de Willis, que é inquestionável), mas o texto dele está bem conciso e coeso, mesmo que suas opiniões sejam bem diferentes das minhas.
Eu diria que é melhor que O Sexto Sentido. Talvez o melhor do Shya.