A França de "A Negra de..." é janela intransponível, vista paradisíaca e sonho de uma vida melhor, desilusão pelas condições que se estabelecem para essa jornada. Se o desfecho de Diouana é sucinto, isso se dá pelo fato de ela ser, infelizmente, apenas mais uma vítima dessa condição injusta. Uma passada de olhos do leitor comum no jornal do dia, algo rapidamente esquecido, banalizado.
Temos de agradecer o fato de Sembené não ser um leitor comum.
A herança do colonialismo pelo olhar subjetivo, calado, com um turbilhão de emoções que todos ao redor invisibilizam. Um documento histórico, pelo seu contexto e sua forma.
O título propositalmente incompleto entrega a crítica oportuna à exploração da força de trabalho negra e às relações verticalizadas entre patrão e empregado. Com forte presença de elementos do cotidiano, Sembene dá seu recado e qualquer pessoa com um pingo de bom senso percebe a lucidez de seu olhar.
As simbologias são lindíssimas. O título já indica a questão da falta pertencimento, as máscara que simbolizam todo o povo negro, destituído de identidade neste mundo de opressão e que assombrará o homem branco. Assim que se faz um filme sobre preconceito
Dos primeiros filmes a vir da África sub-saariana, carrega grande poder ao retratar de forma cru a gritante diferença de classe entre colonizadores e colonizados. É uma contundente crítica social e ao mesmo tempo um sensível estudo de personagem.