Uma crônica moderna e sensível
Se for dizer o plot do filme eu poderia ser bem simplista e escrever aqui apenas isso: um casal que passa por algumas dificuldades depois de um dos filhos quer conhecer seu pai biológico. Bom, dizer isso somente também seria absurdo. Minhas Mães e Meu Pai é mais do que poderia se esperar.
O casal lésbico Jules e Nic, interpretado por Julianne Moore e Annette Bening, vive bem com seus dois filhos concebidos por inseminação artificial, até que o garoto Laser (Josh Hutcherson) de 15 anos resolve que quer conhecer seu pai biológico, a irmã mais velha Joni (Mia Wasikowska) toma a iniciativa então, e vai em busca do pai. Aí então conhecemos Paul (Mark Ruffalo) e a história começa a se desenrolar à medida que ele vai entrando na vida dessa família a qual pertence por acaso.
Esse desenrolar é apresentado de forma leve e moderna. Temos um roteiro que narra a vida de uma família contemporânea de modo simples e sutil. Alguns poderiam classificar o filme como comédia talvez, mas é mais do que isso. Essa leveza e atualidade do roteiro alude ao premiado roteiro original de Pequena Miss Sunshine. A vida está ali, você pode vê-la de verdade, tudo que está sendo falado poderia estar sendo falado em alguma parte do mundo nesse momento, e é essa magia do real que promove Minhas Mães e Meu Pai a um filme fora da velha fórmula de comédias vespertinas que se tem a torto e a direita nos cinemas.
A diretora Lisa Cholodenko nos entrega essa saga pós-moderna com suavidade e precisão. Sua câmera está sempre ali para nos mostrar o sentimento que está perpassando aquelas personagens, desde o ponto onde existe uma estranheza e constrangimento quando os meninos conhecem o pai, até o ponto chave onde a Nic descobre que foi traída.
De modo que tudo fique claro e real o filme também conta com quatro interpretações extremamente precisas. Antes de qualquer uma, Annette Bening mostra uma Nic de verdade, ela não é só mais uma lésbica caricata ou machona, ela é uma mulher forte que mantém sua família de pé com muito sangue e suor, a cena em que ela se anima à mesa e começa a cantar é memorável, e ainda temos a cena onde ela descobre que foi traída que vemos seu semblante duro tomar forma. Então vemos Julianne Moore que nunca erra nos seus papéis vivendo uma Jules que tenta ser uma mulher, mas permaneceu com sua juventude e por momentos é mais filha de sua parceira do que mulher de fato. A química entre as duas atrizes é essencial para o filme manter-se de pé e vemos de fato um casal com todos os seus amores e desamores.
Em relação às surpresas: Mia Wasikowska e Mark Ruffalo fizeram muito bem feito. A garota brilha principalmente em sua ultima aparição na tela, aquele choro de liberdade por estar na faculdade e aquela nostalgia de ver sua família ir embora se misturam no rosto dela como se a mesma estivesse vivendo aquilo. Já Mark Ruffalo nos entrega um solteirão que perdeu muitas oportunidades na vida, mas que conseguiu se manter com muito suor e trabalho. A cena em que ele vai até a casa da família depois de saber que a traição foi descoberta é extasiante, ele quer a todo custo fazer parte de uma família que sempre lhe foi negada, e quando seus filhos lhe procuraram ele viu aí uma oportunidade de ter aquilo que sempre desejou.
O título original do filme traduzido literalmente seria “As crianças estão bem” e é justamente isso que vemos nos últimos segundos de filme. As incertezas do casal tentando superar os percalços de um relacionamento, o plano detalhe da mão de Nic segurando forte a de Jules, e o filho mais novo no banco de trás dizendo: “vocês não podem se separar, estão muito velhas pra isso”. As crianças estão bem, agora é a vez delas duas ficarem.
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