"Crash - No limite" pode-se dizer que é um longa sem perfil de "grande produção" e dono de um custo baixíssimo para obter-se o título de ganhador do Oscar de melhor filme, por isso, o mesmo foi a grande surpresa de Hollywood em 2005 quando levou a tão sonhada estatueta.
A tal projeção tem como roteiro um emaranhado de núcleos, em que cada personagem vivencia em seu “mundo”, frustrações que são laçadas por um mesmo efeito: o preconceito.
Há pessoas que digam estar o tema fora de moda, já eu acredito que em nossa realidade o racismo continua latente. Portanto, é um tema mais do que conveniente a meu ver.
Paul Haggis - roteirista do também oscarizado "Menina de Ouro" - como primeira impressão, parece querer explorar a proximidade entre a diversidade, mostrando que independente das diferenças (seja em que âmbito for), somos todos habitantes de um mesmo mundo - é uma questão óbvia, mas nem sempre lembrada.
Os argumentos poderiam ser ainda mais profundos diante de um tema tão presente. Mas podemos ressaltar outros méritos quanto ao decorrer do filme: seu desenvolvimento realista, gradual e imparcial. Por tais motivos, "Crash" torna-se, nada mais que, obrigatório.
Dentro da proposta de Haggis, os clichês presentes não danificam o filme. Seria muito complexo não usar alguns artifícios conhecidos, já que a intenção do filme é apresentar uma estória abrangente.
Ao tentar englobar distintas culturas e conceitos, sem destacar um personagem em si, o roteiro poderia correr o risco de cair no descaso, trazendo uma estória monótona e desinteressante, porém ocorreu o contrário, resultando em uma trama envolvente, acompanhada de desfechos imprevisíveis para cada personagem, graças a forma com que foi conduzida.
Acredito que o maior feito de "Crash" foi abordar o preconceito como um sentimento presente em todos os lados: Negros e brancos, ricos e pobres, e por aí vai.
O filme conseguiu expressar as concepções que cada ser humano tem de seu espaço. O que nem sempre é pela circunstância desfavorável, mas por escolha própria.
Parece piegas falar de sentimentos como “paz” e “amor”, mas "Crash" sem mencioná-los consegue mostrar como a falta desses recursos básicos resultam em intolerância, ódio, individualidade e medo. E o agravamento disto se dá exatamente por nossa própria contribuição.
É assustadora a forma com que os enredos apresentam uma falta de solução para os problemas sociais. E sob esta constatação fica claro que nossa permissão é a pior inimiga.
Quanto ao elenco, temos Thandie Newton, que nunca havia feito um papel tão exigente à sua atuação, brilhando como ninguém. E mesmo não recebendo - como todos aqui - qualquer destaque na trama, Thandie consegue ser marcante, incorporando um dos personagens mais densos na estória, nivelado ao de Matt Dillon.
O fato é que as interpretações em "Crash" são um atrativo à parte. Cada personagem tem seu momento.
Sandra Bullock, conseguindo por sua vez apresentar algo convincente e sério. Brendan Fraser, diga-se de passagem, me surpreendeu (difícil não vê-lo como o desmiolado "George - o rei da floresta"). Don Cheadle, mas uma vez ótimo. Somente Ryan Phillippe que tentou, mas não escapou da canastrice. Ainda falta um pouco para provar que pode oferecer mais que um rosto.
Enfim, este é um filme emocionante, verossímil, ousado, impactante e melancólico. Um apanhado mais do que justo para esta película que mereceu seu prêmio com louvor.
A intensidade notável desta obra merece ser vista e avaliada subjetivamente, para que o espectador tenha uma idéia mais convicta de seus conceitos e ações.
Pelos críticos chegou a ser comparado com a obra-prima “Magnólia”, mesmo não alcançando exatamente o nível do filme de Paul Thomas Anderson por soar mais comercial. Ainda assim, “Crash” não deixa de ser um filme inteligente e intimista, que consegue o feito de atingir o público sem colocar em risco à arte.
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