Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I
Com seis filmes no currículo e apenas um acerto até aqui (com “O Prisioneiro de Azkaban”) Harry Potter chega à sua sétima aparição nos cinemas numa estranha fragmentação de “As Relíquias da Morte”. A divisão do sétimo livro em duas partes, que num primeiro momento sugere uma simples forma de maximizar os lucros gerados pela franquia, no final das contas se mostra surpreendentemente acertada, consagrando a tal “Parte 1” de Relíquias como o melhor filme da série até aqui.
É curioso observar como dos dois piores livros - Azkaban e Relíquias (com ênfase no “Pior” para “As Relíquias”)- saíram os melhores filmes de Harry e Cia, sendo, contudo, extremamente simples entender o motivo disso. Tanto em Azkaban como em Relíquias (principalmente nesse último) as histórias são quase que impecavelmente respeitadas. Mesmo os fãs mais Xiitas terão pouco o que reclamar desse sétimo episódio, algo que podia ser feito às dúzias a cada trecho de “O Enigma do Príncipe” e “A Ordem da Fênix” por qualquer um que os tivesse superficialmente lido.
O grande problema de “As Relíquias da Morte: Parte 1” não está no filme em si, mas na qualidade questionável do livro de encerramento da saga e dos filmes que o antecederam. A transposição de um livro não mais que mediano para o cinema não teria como fazer muito mais do que essa “Parte 1” faz. Chega a ser notável a quantidade de vezes em que o filme supera o livro, corroborando a tese de que J.K. Rowling teria sido influenciada a escrever algo mais “cinematográfico” para o encerramento da trama. Cenas “estranhas” como a de Batilda Bagshot/Nagini, verdadeiro desastre em sua versão impressa, saem fluentemente naturais nas telas. Aliás, a dança entre Harry e Hermione, a cena mais bela e tocante de toda a série, sequer está no livro. Já no que diz respeito à mediocridade de seus antecessores, “Relíquias” se fragiliza justamente pelo descaso com que a história fora contada em “A Ordem da Fênix” e “o Enigma do Príncipe”. Se no caso do primeiro perdia-se “apenas” o brilho do melhor livro da série, o mesmo não se aplica ao segundo. “O Enigma do Príncipe” sequer teve a capacidade de transmitir ao público o que diabos era o tal enigma do príncipe. O psicológico de Voldemort e o conceito das horcruxes (principal elo do sexto com o sétimo livro) então...
Sem delírios no enredo, “As Relíquias da Morte” surpreende como um filme mais maduro, com um ritmo perfeitamente balanceado (longe do marasmo que assola o livro), e com interpretações mais destacadas do trio principal, que finalmente demonstra algum talento.Até a direção artística tem lá seus momentos!! Chega a ser lamentável que só agora tenha surgido a brilhante idéia de dividir os livros. Em todo caso fica a expectativa pra que “Parte 2” mantenha o bom nível, se possível trazendo a tona o debate político em torno do “Bem Maior”, o momento mais inspirado do último livro.
David Yates acerta tarde, mas acerta. Os fãs agradecem.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário