“É preciso agarrar-se a algo”
O que de fato é liberdade? Será possível ser realmente livre, no sentido total da palavra? Será que realmente buscamos à liberdade? A Liberdade é Azul, dirigida por Krzysztof Kieslowski, traz profundos e ternos questionamentos sobre a liberdade, perda, compromisso, valores e até mesmo sobre amizade, família e amor. Este é o primeiro filme da trilogia das cores, que se segue com A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha, ambos os filmes também dirigidos por Kieslowski. Tendo como o lema a revolução francesa e as cores da bandeira da França, assim questionando cada um desses temas na sociedade pós-iluminismo.
Julie Vignon (Juliette Binoche) é uma modelo de sucesso que, após a morte de sua filha pequena e de seu marido, (um musico famoso) em um acidente de carro e de uma tentativa de suicídio, decide se desprender de tudo a sua volta. Vende sua casa e se muda para um apartamento buscando isolamento, sem contar para ninguém como e onde ela está. Ela acaba se envolvendo com se amigo Oliver, que busca acabar a obra inacabada do marido de Julie.
A maior conquista de A Liberdade é Azul é conseguir mostrar de uma forma triste e melancólica um dos temas mais procurados e batalhados pelo ser humano, a liberdade. Julie é uma mulher que perdeu sua vontade de viver, perdeu tudo que criava um motivo para se prender nas “amarras sociais”, e abdicando de tudo que lhe sobrou ela se torna então... livre. Mas como o próprio título do filme diz, a liberdade é azul. Azul na linguagem em geral significa também monotonia e tristeza. Vemos a cor azul em todo o longa, e ela sempre desempenha um papel importante no entendimento dos sentimentos da personagem, seja na fotografia fortemente azulada, que sempre é presente em momentos de solidão ou de demonstração de seu luto, ou seja na piscina que sempre a vemos mergulhar, perdida em sua dor, chorando, afogada em sua perda.
Kieslowski, querendo passar em tela a perspectiva de mesmice de sua personagem, cria um filme lento e arrastado, que embora se justifique pela ideia de vazio da vida de Julie, por vários momentos, deixa o longa desinteressante e sonolento. Mas nada disso tira seu brilhantismo na direção. Criando momentos de pura genialidade, que com a perfeita atuação de Juliette Binoche, cria um filme muito profundo em seu ponto de vista e um filme muito frio em sua forma.
Quero ressaltar mais uma vez a incrível performance de Binoche, que passa sua ideia de perda e de luto de uma forma assustadoramente verdadeira. Seu choro seco e sua apatia são completamente verossímil e tocante. Sem palavras, ela nos entrega amor, sofrimento, perda e saudade apenas com o olhar, como na cena em que acaricia a tela vendo o funeral de sua filha e seu de marido enquanto chora baixo entre as cobertas ou quando machuca sua própria mão em uma parede de pedras para desesperadamente tentar minimizar sua dor.
A Liberdade é Azul nos faz pensar o que de fato é liberdade e o preço que se paga por ela. O amor, família e amizade são, de uma certa forma, amarras que escolhemos, mas que necessitamos. Julie perdeu todas essas amarras, mas perdeu também o objetivo e motivo de viver. No final todos precisam se apegar a algo, ter um motivo para viver e para continuar. No final, de fato, não queremos ser livres.
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