A primeira evidente alegação a se fazer sobre Os Viciosos é, justamente, aquela mais acertiva com relação ao filme: Ferrara acertou quando decidiu fazer do vampirismo uma metáfora do vício. Dessa forma, o diretor acaba por explorar uma alegação coerente com sua postura de análise dos vícios do homen. O que Ferrara nos mostra, é que o vício, tal como a sede por sangue nos vampiros, é algo, primeiro, a ser escolhido – lembremos que desde quando a protagonista é mordida, fica clara a idéia de arbítrio para estar ou não aceitando a presença daquela pessoa que lhe morderá; segundo, ele é algo inerente ao humano.
Partindo daí, o filme de Ferrara ganha um tom cada vez mais reflexivo, à maneira sempre peculiar do diretor em retratar a megalópole nova-iorquina. Aqui em The Addiction, a estilização de Ferrara contorna um realismo quase documental, ao passear eclipsado pela forte fotografia em preto-e-branco pelos bairros entupidos de mazelas das mais diversas, com músicas típicas, de uma forma mais intensa de que em seus outros trabalhos.
Através de uma atuação não menos que fantástica de Lili Taylor – se a gente lembrar que Ferrara fez de Asia Argento, geralmente um corpo e olhar perfeito em atuações mesquinhas, uma ótima âncora narrativa de New Rose Hotel, isso não chega a ser uma surpresa dado também a qualidade de Taylor - o diretor leva sua personagem do céu ao inferno, e mostra um final até certo ponto redentivo. A personagem inicia o filme prestes a tornar-se doutora em Filosofia. Ela encontra o vício, e com ele, a dor física, encontra também a sabedoria. Questiona, sobretudo – grande sacada de Ferrara – cânones estabelecidos como detentores do saber.
Refletindo sobre a natureza do vício, ao mesmo tempo que não exitando de pensar em que bases filosóficas e, sobretudo, morais nós humanos agimos. Utilizando todo um estilo metafórico, sem nunca desistir de mostrar aquilo que de mais real pode-se encontrar nas megalópoles sujas e pervesas nas quais sua fantasia se insere, Os Viciosos ganha um sentido que é só seu. Não obstante, ainda Christopher Walken – sempre perfeito nos filmes de Ferrara – e seu misterioso personagem que rouba uma curta cena pra si, lançando o filme em um radicalismo que ele timidamente apontava desde o começo, afinal, é Peina, o personagem de Walken, quem mostra a Kathleen o real sentido do vício. Depois da dor física que ele a faz passar, quase a matando, é que a jovem filosofa realmente parece encontrar o tipo de sabedoria que buscava.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário