"Um Soco na Mente."
David Fincher já havia fornecido seu melhor ao público no fantástico thriller policial Seven – Os Sete Crimes Capitais, onde além de concretizar-se como um poderoso suspense, ainda apresentava ao público uma análise completa da mente humana, desde sua frieza aos seus instintos mais primitivos. Seven foi um grandioso sucesso, sendo elogiado por público e crítica, e vindo a tornar-se um dos melhores filmes de sua década. Após a realização deste, Fincher apresentou ao mundo em 1999 (um dos melhores anos – senão o melhor - da década de 90 para o cinema), uma obra que destruía todas as barreiras do convencional e do conservador, que gravou seu nome na história do cinema e ecoou na mente do público (e da sociedade) que presenciava ali uma obra prima.
Fincher extraiu o máximo da matéria prima que tinha em mãos e das excelentes interpretações de seu elenco, resultando em Clube da Luta um filme maior que suas proporções indicação, e muito mais profundo do que aparentava ser. Assim como nos anos 70, em que Stanley Kubrick destruiu todos os alicerces conservadores do cinema como seu brutal Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), Fincher acerta a mão em proporcionar uma crítica igualmente chocante a sociedade e ao caos que a dissolve. Se no filme de 1971 os fatos lá apresentados são uma previsão da violência e da desordem que o mundo iria enfrentar, Clube da Luta é uma materialização destes eventos sendo concretizados e vivenciados pela sociedade contemporânea.
A estória de Clube da Luta é narrada por Jack (Norton), que possui um bom emprego e vive confortavelmente bem, porém sofre com graves crises de insônia. Para amenizá-las, ele começa a participar de grupos de terapia, onde os utiliza como um tratamento tanto para seus problemas pessoais quanto fisiológicos. Entretanto, sua vida muda de vez quando conhece Tyler Durden (Pitt), que se torna rapidamente seu amigo, e lhe apresenta um universo, onde lá eles podem descarregar seus problemas através de brigas e espancamentos; eis que se forma o clube da luta, e o que era uma totalmente idéia inovadora, passa a ganhar novas dimensões quando mais e mais pessoas entram para o clube, e os eventos passam a ser mais complexos e surreais. Clube da Luta é, além de um filme, uma manifestação crítica para com a sociedade, desde como ela é atingida pela violência, e como se torna a principal responsável por construir os próprios problemas que a cercam. Fincher modela um filme explosivo, em que todos são alvos do estopim da violência, e tornam-se vítimas, diretas ou indiretas, dos problemas habituais urbanos que levaram a graves conseqüências.
Não é um filme fácil. Absolutamente. Pois assim como Laranja Mecânica, este filme foi muito acusado de incitar a violência e o crime, e entre outras polêmicas que o envolveram. Suas imagens fortes e indigestas tornam-no ainda mais difícil de acompanhar e de se admirar. Clube da Luta além de apresentar uma temática pesada, possui em seus elementos uma mixagem entre o surrealismo e a crítica palpável, onde possuímos um passaporte para uma dimensão complexa e inimaginável que funciona como ataque direto a nossa atual situação. É preciso manter a mente ativa a todos os fatos e pistas que culminaram em seu desfecho antológico e deveras impactante.
Clube da Luta é um diagnóstico completo sobre o homem moderno e a comunidade corrompida que este habita, onde através de uma direção sublime e interpretações grandiosas, os personagens desenvolvem uma análise implacável e feroz sobre o nosso cotidiano. Poucas produções cinematográficas remetem o público a uma realidade tão... Real, sei que isso pode parecer redundante para você, que esta lendo este texto nesse momento, mas ao assistir o filme verá a perturbadora imagem de nossa estrutura social moderna, e só então saberá o por que da palavra “real” ser tão enfatizada.
“Por muito tempo Tyler e eu fomos grandes amigos. As pessoas estão sempre perguntando se conheço Tyler Durden”.
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