Discutir sobre um filme como Cisne Negro após a movimentação da estreia e a consideração ao hype que recebera é uma tarefa difícil pelo peso que isso infere em um texto ou mesmo em uma descompromissada conversa de amigos após a sessão, mas também é algo complicado dar certo espaço de tempo e revê-lo, agora sem o calor dos fóruns de sites de cinema, da publicidade em torno, das premiações, etc.
Estão lá o estilo de direção inquieto de Aronofsky, a atmosfera que quer caminhar entre Lynch e Polanski, o carregado trabalho visual, etc., embora não demora para o cenário de terror psicológico criado para Cisne Negro, que parecia atraente em algum momento, se diluísse em certos artifícios técnicos de gosto duvidoso (CGI carregado demais) e na falta de sustento dramática e empatia com a personagem vivida pela talentosa Natalie Portman. É um filme que vive, afora algumas belas sequências e uma presença forte da atriz principal, do deslumbramento visual, em suma.
Parece ser interesse do filme o de oferecer ao cinema comercial uma experiência imagética e textual, por assim dizer, mais desafiadora, flertando com a psicologia e com o surrealismo em sua narrativa, e de certo modo consegue, embora todas as análises – quanto ao comportamento de Nina, suas obsessões, seus medos, etc. – são tratadas de um modo bastante superficial, talvez por certo temor em arriscar e (nos fazer) mergulhar de vez na cabeça conturbada da personagem.
E Cisne Negro, mesmo encorajado a trazer algo mais ousado para dentro do mainstream hollywoodiano, é um filme que, além de previsível, teme maiores riscos, se prestando a construir um painel da paranoia mesclando a realidade com a loucura no mundo problemático daquela bailarina, mas que, infelizmente (e isso afeta a construção da atmosfera, dos personagens, etc.), nunca se deixa levar por ele – e nem nos permite.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário