Os truques e as sacadas visuais modernosas lançados para realçar uma situação romântica não são exclusividade de (500) Dias com Ela ((500) Days of Summer), haja vista que uma boa leva de clássicos, algumas décadas mais velhos, se valia dessas engenhocas narrativas que davam um frescor interessante aos plots, além de brincarem com a linguagem com intuito de aproximá-la ainda mais do público. Ou seja, antes mesmo de Tom (Joseph Gordon-Levitt) sonhar em poder contar sua história com Summer (Zooey Deschanel) com o auxílio dessa estética, isso já havia sido feito por Alvy Singer no estupendo Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), de Woody Allen (que interpreta o personagem) e até – em menor grau, talvez – pelo jovem Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) em A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967), de Mike Nichols – não que isso diminua o trabalho de Marc Webb; pelo contrário.
Inclusive a comparação feita a ambos os filmes se estende ao próprio modo de se criar uma comédia romântica, extraindo a graça da desgraça, ao fazer seus protagonistas sofrerem por uma desilusão amorosa – e eventualmente a história se calcar sobre isso –, ou por uma ironia do destino. É um jeito meio fatalista de trabalhar com o gênero, através de situações que nada mais são que crônicas do dia a dia, que podem acontecer com qualquer um – indo em contrapartida com propostas muitas vezes “fantasiosas”. O que essas produções têm em comum, sobretudo, é a vontade de subverter o conto de fadas ou as historinhas açucaradas que, invariavelmente, moldaram um formato e uma espécie de conceito sobre o estilo, para darem lugar a eventos mais corriqueiros, mais desligados do mundo das fábulas e mais fincado nas idas e vindas do dia a dia. Tudo bem que em (500) Dias com Ela o discurso de que aquilo “não se trata de uma história de amor” às vezes cansa, tamanhas são as batidas – pouco sutis – nessa mesma tecla, mas o objetivo de projetar a rotina de um casal próxima à realidade não perde seu interesse.
E embora trate de um tema , digamos, delicado, o roteiro e a direção de Webb permitem a trama de Tom e Summer um fundo bastante colorido, ensolarado, que nos faz lembrar que, tratando-se do que for, aquela é uma legítima comédia romântica, com o casal protagonista vivendo em montanha-russa, os amigos excêntricos, e a moral bem transparente no fim das contas. O que mais chama atenção é a grandessíssima brincadeira visual presente em todo filme, passando, por exemplo, da maneira com o personagem trabalhado com simpatia por Gordon-Levitt encara os trejeitos de sua amada enquanto está de bem e de mal com ela, até a tradução de seu estado de espírito quando se descobre apaixonado pela moça (cena que, aliás, remete aos clássicos musicais da Era de Ouro de Hollywood).
Outra particularidade desses filmes é que, na vontade de largar a velha imagem das princesas esperando seus pretendentes na janela, ou no aguardo de alguma bondade do destino para encontrarem suas “almas-gêmeas” (ou qualquer coisa semelhante), dessa vez são os homens que despem seus sentimentos, que sofrem por mulheres problemáticas e/ou proibidas; o sexo feminino aqui é quem dá as cartas, é que faz os rapazes porem o pé na jaca e fazerem todo tipo de loucura por amor – às vezes nem ao menos correspondido. O estereótipo feminino que procura uma relação séria, à base de amor e carinho agora cai sobre eles, visto que, seja Summer ou Mrs. Robinson (Elaine, idem), ou até a maluquinha Annie Hall, sabem bem o que querem da vida, o que almejam de uma relação (se é que preferem chamar os casos dessa forma) e o ponto onde as ambições pessoais ultrapassam qualquer envolvimento. (500) Dias com Ela - até mesmo pela pegada indie - define esses “novos” modelos que se adequam cada vez mais ao que se conhece sobre a realidade contemporânea, remodelando e trazendo um bem-vindo frescor à comédia romântica.
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