O diretor Baz Lurhmann, apesar de ter ainda uma filmografia extremamente pequena, já é um nome em Hollywood que causa controvérsias, admiração e repúdio. Isso se deve à ousadia empregada em seus filmes (muitos chamam de pretensão), principalmente nos mais conhecidos, sendo ele Romeu + Julieta e o musical Moulin Rouge, sua obra máxima.
Escrito pelo maior escritor inglês de todos os tempos, William Shakespeare, a trágica história de amor a maioria conhece: Romeu e Julieta são impedidos de ficar juntos por causa da rivalidade fatal de suas famílias, os Montéquio e os Capuleto, respectivamente. As obras de Shakespeare foram adaptadas para o cinema inúmeras vezes, mas nenhuma foi tão diferente quanto a de Lurhmann. O diretor escolheu transportar a história do século XVI para os dias atuais, mas sem tocar nos diálogos originais, ou seja, todos os personagens falam o inglês 'shakespeariano' em meio a carros conversíveis, arranha-céus e helicópteros. Está aí um dos motivos para a agitação ao redor do cineasta.
A idéia de Lurhmann funciona, em parte, pelo menos no que concerne a idéia principal. Logo nas primeiras sequências, quando vemos uma âncora anunciando a tragédia que está por vir seguido por uma luta entre os bad boys das duas famílias num posto de gasolina, somos introduzidos ao mundo de Lurhmann da forma mais natural possível, aceitando a licença poética sem muito contra-argumentos.
Romeu (Leonardo DiCaprio), na belíssima primeira aparição, nos é mostrado na praia de Verona Beach ao pôr-do-sol, Lurhmann dá o tom certo ao homem constantemente e intrisicamente apaixonado que é. Julieta (Claire Danes) é a jovem inexperiente, sensível porém de espírito forte sob a proteção do pai Fulgencio (Paul Sorvino). As asas de fada que a moça usa na festa a fantasia é uma das imagens mais marcantes do filme, simples (a única peça de caracterização usada por ela) mas que fala muito sobre a personagem. Falando dos coadjuvantes principais, temos o melhor amigo de Romeu, o extravagante Mercúrio (Harold Perrineau), o primo sanguinário de Julieta, Teobaldo (John Leguizamo) e o simpático Padre Laurence (Pete Postlethwaite), todas escolhas muito boas.
O perfeito ritmo frenético que iria tomar conta de Moulin Rouge é encontrado nesse filme, porém, de uma forma bem irregular. Os cortes rápidos são, na maioria, realizados nas cenas mais agitadas (como a disputa entre as famílias já supracitada, o que é conveniente, claro). Entretanto, quando o filme é focado nas cenas de amor de Romeu e Julieta, a freneticidade arrefece para certo alívio do espectador, que provavelmente está tonto com a edição empregada por Lurhmann permeada pelos diálogos rebuscados (mas não se engane: o filme é 'nervoso' a todo o momento). A técnica não deixa de ser interessante, pelo contrário, em Moulin Rouge ela caiu como uma luva, entretanto, em Romeu + Julieta a técnica carece de maior cuidado. O que fica é a impressão que o diretor estava 'testando' seus métodos não-convencionais para futuros trabalhos, como um exercício estético na linha 'vamos ver no que vai dar'. E o pior: não dá para não pensar que Lurhmann possa ter usado em parte a idéia de transpor os diálogos originais com o intuito (agora talvez, pretensioso) de 'cobrir' as irregularidades do filme, como uma espécie de trunfo, já que o conteúdo do filme também carece de um trato mais passional.
Mas muitos aspectos são flores. DiCaprio, apesar de na época ainda não ser o grande ator que é hoje em dia, é bem competente em encarar o Romeu contemporâneo, ele possui um ar naturalmente apaixonado e tocante que cobriu por um bom tempo a falta de outras qualidades para fazê-lo um ator completo. Danes não é nem um pouco brilhante, na verdade, a atriz se mostra bem apagada, estaria perdida se não fosse pela força dos diálogos. Baz Lurhmann com certeza faz seu melhor com a dupla quase insossa. Perrineau e Leguizamo, por sua vez, se mostram mais experientes e dão aquela vivacidade faltante ao filme, assim como Postlewaite, em grau menor.
No final, o saldo é positivo. Lurhmann não exagera nos cenários, mantendo o capricho mas sem esquecer da praticidade contemporânea. É na festa a fantasia que o cineasta tem mais liberdade para empregar explosões de cores e explorar os personagens numa veia mais extravagante (principalmente Mercúrio e a madrasta de Julieta), tipos tão vistos em Moulin Rouge, quando Lurhmann definitivamente lavaria a alma.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário