Eu tinha 11 anos quando fui assistir A Pedra Filosofal no cinema. Foi amor à primeira sessão. A partir de então, Harry Potter se tornou uma parte importantíssima da minha vida. Li e reli (muitas vezes) todos os livros e vi os primeiros filmes centenas de vezes. Com o tempo, meu gosto cinematográfico foi mudando e eu já não achava os filmes, de um ponto de vista mais racional e menos emotivo, tão maravilhosos assim. Mas isso não tinha a mínima importância, afinal eu já estava fisgado pela saga e nunca esqueci a relevância de Harry Potter no meu crescimento. Esse ano completo 21 anos e ontem fui assistir ao último filme da série, uma série que durou 10 anos no cinema, e que mexeu também com 10 anos na minha vida, e na de muita gente. Já deu para perceber que vai ser difícil fazer essa crítica imparcialmente, não é? Mas farei o máximo para controlar minhas emoções.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte II consegue manter o mesmo nível adquirido na bem sucedida primeira parte. Já que as duas partes foram filmadas juntas, os dois últimos capítulos da série adquiriram certa coerência atmosférica e temporal que faltou nos capítulos anteriores, principalmente nos primeiros quatro filmes da série. Logo então, podemos ver que a segunda parte se inicia com o mesmo tom melancólico que tomou conta do término do filme anterior: o chalé à beira mar com a tumba do elfo Dobby, assassinado no final da parte I. A partir daí, Harry (Radcliffe), Rony (Grint) e Hermione (Watson) irão continuar a busca pelas Horcruxes para que possam ter uma chance de derrotar o grande vilão, Lorde Voldemort (Fiennes) e salvar o mundo das trevas.
Relíquias da Morte - Parte II é basicamente um filme de guerra. Quase toda a película se passa em uma noite decisiva no castelo de Hogwarts, lugar em que finalmente as forças do bem e do mal se enfrentam em uma grande batalha, algo nunca visto nos filmes de Potter. Bruxos, gigantes, aranhas e até armaduras se enfrentam em uma Hogwarts que vai sendo destruída sem dó nem piedade. Entretanto, antes de chegarmos à batalha épica, presenciamos o trio mais famoso do mundo em sua última aventura sozinho: a ida ao banco dos bruxos, Gringotes, em busca de uma das Horcruxes e a sua destruição, um belo prelúdio para o caos iminente que se segue.
David Yeats comanda tudo com maestria. O filme nunca perde o aspecto absurdo de urgência que o diretor vinha aprendendo a administrar desde que entrou na série, no quinto filme A Ordem da Fênix. Se a estréia de Yeats não foi tão boa, ele se redime de uma vez com esse capítulo, e juntamente com o roteirista Steve Kloves, amarra as pontas da saga de uma forma consistente e concisa sem sacrificar o texto de J.K.Rowling. Mas infelizmente o filme peca por querer, em certos momentos (e felizmente, em poucos), forçar goela abaixo do espectador que a série está acabando (algo que o texto original não possui, é bom destacar), com frases de efeitos e clichês para tornar tudo mais 'emocionante', mas infelizmente o efeito é mais pedante do que qualquer outra coisa.
O responsável pela trilha sonora, o compositor Alexandre Desplat, realiza o que provavelmente é o melhor trabalho de composição musical da série. Além de músicas inéditas e o uso de algumas dos dois filmes anteriores, Desplat usa e abusa de uma forma brilhante da composição mais famosa e inconfundível da saga, que está lá desde o primeiro filme e criada pelo gênio John Williams, o Edwige's Theme, ou Tema de Edwiges. O tema aparece nas horas mais apropriadas (como por exemplo, quando Potter e seus amigos voltam ao castelo), para levar àqueles que acompanham Harry Potter desde o início a sensação ao mesmo tempo nostálgica e de término.
A direção de arte continua impecável. O destaque, além da óbvia destruição do castelo, vai para a reconstrução do já supracitado banco de Gringotes. Mantendo o padrão visto somente lá no primeiro filme, é dado ao visual do banco um aspecto ainda mais grandioso e imponente, com duendes carrancudos tomando conta do lugar, além de policiais 'neonazistas' que dão continuidade ao lado ‘germânico-nazista’ tão explorado na primeira parte. E por em falar em nazismo, o filme emprega esse lado de uma forma mais aberta quando os alunos retornam em blocos (de cabeça baixa e como se marchassem) ao castelo sombrio sob o comando do diretor Severo Snape (Rickman), numa das tomadas mais lindas do filme, singela e forte.
Além do destaque para a performance do trio, principalmente para Radcliffe que mostra sua melhor atuação, o melhor do filme está nas mãos de Maggie Smith e Alan Rickman. Smith, na pele da professora Minerva Mcgonagall, carrega na expressão e na voz boa parte da amargura e do desencanto de um mundo em guerra e Rickman, com seu Snape, finalmente tem seu lugar ao sol com a revelação dos maiores segredos de seu personagem complexo, com certeza as seqüências mais comoventes são as dele, principalmente para aquela que considero a melhor de todas (e uma das melhores da saga): as memórias de Snape. Além de ser uma seqüência esclarecedora para a história, ela ainda traz alguns momentos cruciais dos filmes anteriores, para alegria dos fãs e um refrescamento na memória daqueles não tão especialistas em Potter.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte II possui todas as qualidades de um filme de aventura e deve agradar muita gente que apenas curte os filmes. Para os fãs, é um prato cheio de fidelidade ao livro, com toda a tensão e a grandiosidade que fecharam a saga nos livros. Durante a sessão em que estava, houve choros, risos, pessoas comentando acontecimentos que nem eu lembrava, e uma salva de palmas quando os rostos adultos de Harry, Rony e Hermione sumiram da tela e os créditos entraram. Eram 10 anos terminando com chave de ouro.
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