Quando foi anunciado, em 2006, após o quarto filme, que um diretor que só tinha no currículo um filme para TV levaria a saga até o seu final, fiquei receoso. Um receio que aumentou ainda mais após o confuso, irregular e problemático quinto filme. Parecia que a série manteria ''Prisioneiro de Azkaban'', de 2004, como seu melhor momento e que ninguém havia aprendido nada com a guinada ''dark side'' que Alfonso Cuarón havia dado ao terceiro longa, muito mais intenso e poderoso, mesmo contando com a história mais fraca de todos (''culpa'' do livro, que é o menos ''importante'').
Entretanto, veio a surpresa ''Enigma do Príncipe''. David Yates mostrou que possuía suas qualidades e trouxe um fator que mudaria o rumo da saga: um certo realismo. Sim, realismo em um filme de bruxos cheio de criaturas exóticas. Tudo ganhou um lado humano e a adolescência (e seus problemas) ganham um bom espaço, naquele que era o filme mais sombrio (bendita Fotografia linda!) e com maior ''valor cinematográfico'' de toda a série até então, junto do terceiro filme. E então, só faltavam mais dois longas, e a projeção era de puro crescimento na qualidade.
E isso realmente ocorreu, a primeira parte de ''Relíquias da Morte'' foi um filme poderoso. A parte técnica nunca havia sido tão eficiente. Trilha, fotografia, efeitos especiais, direção de arte e até mesmo a direção em si. Os personagens estavam mais aprofundados e era o filme mais artístico de todos, com comparações diretas à regimes totalitários, como o nazismo, sendo ainda melhor desenvolvidas que nos livros. Um excelente show de abertura para o maior acontecimento do cinema nos últimos tempos: o fim da franquia.
O acontecimento realmente veio, e com força. O filme... deixou a desejar. Não que ele não seja bom. É ótimo! O terceiro melhor de toda a saga. Mas com tudo que tinha nas mãos, Yates ofereceu pouco. A parte técnica é, mais uma vez, deslumbrante. A fotografia de Eduardo Serra é novamente bela, a trilha de Alexandre Desplat dá todo o tom épico (ou dramático, quando preciso) e os efeitos especiais, enfim, esses já são elogio marcado.
Todo o começo do filme é espetacular, desde as cenas no Chalé das Conchas, realmente bem escritas por Steve Kloves (que cresceu muito desde o primeiro filme), até a extraordinária sequência em Gringotes, perfeita nos mínimos detalhes. Mas a partir daí, o filme falha ao dar o tom épico. A batalha de Hogwarts é sub-aproveitada. Há cenas lindas como a do escudo da escola, a fuga de Snape e os ''momentos'' da Professora McGonagall. Entretanto, parece que esses momentos foram muito mais sentidos pelas fortes interpretações ou pelos efeitos, do que pelo que realmente estava sendo mostrado ali. Nada comparável à memorável batalha dos Campos de Pelennor, no capítulo final da trilogia ''O Senhor dos Anéis''.
Aqui vão alguns exemplos (contém spoilers, desavisados pulem para o próximo parágrafo): a morte de Bellatrix, apressada e sem desenvolvimento algum, só foi épica devido à fala (do livro) da Sra. Weasley; o adeus à alguns personagens importantes (do ''lado bom'' da batalha) também é falho (coitados dos que não leram o livro, tiveram que decifrar que era Fred que jazia no chão); o beijo de Rony e Hermione é belamente construído e... o rosto de Rupert Grint simplesmente tapa qualquer visão do público.
Tá, Gabriel, você só falou mal e ele é o terceiro melhor da série? É! O motivo? Algumas cenas absurdamente lindas e emocionantes, com as quais parece que houve um tratamento especial da equipe de produção, como as memórias de Snape (lindas e emocionantes em cada momento, com um tom dramático crescente), a parte final (após a cena na Floresta Proibida), o epílogo e as já anteriormente citadas no quinto parágrafo. Além de, claro, todo o trabalho impecável na técnica e o desempenho positivo de todo o elenco adulto. E, o mais importante, o já citado várias vezes ''acontecimento''. A nostalgia também engrandece o filme, e muito.
Como filme, bom. Como acontecimento de toda uma geração, inesquecível e espetacular.
http://spotlightofhighness.blogspot.com/
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário