O cinema de terror americano vem ano, passa ano, recicla ideias e de todas as maneiras busca uma forma de se reinventar dentro das possibilidades que o gênero oferece. Nos últimos tempos exemplares como Corrente do Mal, A Bruxa e Demônio de Neon contemplaram essa veia de inovação apostando suas fichas em estética, simbolismos e narrativa que se distanciassem o máximo possível dum certo senso comum que paira sobre esse nicho de cinema.
É mirando nesses exemplos que Christopher Landon (Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal) recria uma espécie de Feitiço do Tempo mais o inverso de Garota Infernal num filme que parece tentar abrir uma discussão sobre metalinguagem. E essa primeira metade, que espectador e protagonista vão aos poucos descobrindo o que de fato está acontecendo, até convence, pelo dinamismo nas reviravoltas e bom desenvolvimento da trama.
O problema está no restante, que cunha o filme como mais uma das tantas outras obras de mercado com resoluções fáceis e excesso de clichês; aquela parafernália de redenção das personagens e algumas coincidências impossíveis que já foram exaustivamente usadas em todo tipo de filme estão mais uma vez presente. A ideia é que usar um referencial pouco explorado não da à liberdade poética para fazer foto colagem do resto, esse péssimo hábito dos diretores e produtoras estadunidenses tem se repetido com uma frequência alarmante nos últimos anos.
O cenário da obra é uma high school comum nos Estados Unidos onde Tree, muito bem interpretada pela atriz Jessica Rothe, exala provocações à regras e moral, fazendo e desfazendo com as pitorescas situações de sua personagem no dia de seu aniversário. Esse véu de maldade que a cobre aos poucos vai se revelando como um pano de fundo para mais uma história triste. E a repetição do aniversário, tida como cerne do filme, que explora tanto as menções antes citadas quanto coadjuvantes, contextos sociais e artifícios do gênero, numa análise minuciosa, mais parece uma fundação estereotipada que o produto ofertado nas suas campanhas caríssimas de marketing financiadas pela produtora.
Começo, meio e fim até passam rápido e se não levados a sério, soam agradáveis. Talvez seja esse o maior mérito do filme, uma história com nova roupagem revisitando clichês do gênero. Não que seja uma obrigação para toda produção quebrar os modelos de seu próprio cinema, mas está ai o porquê de algumas obras serem mais lembradas que outras. Há obras que se preocupam com divulgação e faturamento nas salas de cinema, e há obras que além disso, se preocupam com conteúdo e recepção.
Um filme é, ou deveria ser, enquanto expressão artística, a amostra de interação entre o real e o pungente, entre transformações sociais e sociedade, entre o que é e o que está se tornando, para assim equalizar numa balança ilusória tanto fluidez como mensagem. O que acontece aqui em "A Morte te da Parabéns" é uma diluição de modelos já esgotados, não há impacto, contemplação ou transmissão real de sensações. E mesmo que essa tenha sido a intenção e a ideia tenha mirado o entretenimento, estamos no auge do século XXI, alguns caminhos que o roteiro toma estão muito distante da realidade jovem, efervescente e destruidora de tabus em que a obra se situa. Não contemplar as causas do público alvo de um produto é um erro fatal até para as indústrias de comércio.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário