“um filme encontrado no ferro velho”
Alguns filmes nos divertem, alguns passam despercebidos, outros mechem com nós de alguma forma, alguns nós marcam com algumas cenas e tem algumas raridades que nos deixam perplexos diante do que estamos vendo, é nesse último caso que se encaixa essa obra-prima de Godard. Ele derrama na tela uma pintura de surrealismo envolvente, recheada de situações satíricas que se passam no sublime de nosso viver para pintar o arco íris político e social dos seres dessa Terra.
"massacre de setembro"
Como entender o que se passa na cabeça de um Gênio? Como captar sua genialidade fluindo diante de nossos olhos? Olhos que se perdem em raios de maestria. O que vemos ou vivemos em “Weekend à Francesa” é algo pra nos levar além da nossa percepção superficial no cosmo do nosso dia-a-dia. Cosmos, essa é uma palavra usada logo no começo do filme na frase: “um filme perdido no cosmos”. Durante os 105 minutos de filme Godard joga na nossa cara frases de azul e vermelho (lembrando as cores da bandeira da frança) essa entre outras características de montagem que o diretor usa vem do Nouvelle vague (nova onda), movimento artístico francês originado na década de 60 usado também por diretores como: François Truffaut, Alain Resnais, Jacques Rivette, Claude Chabrol e Eric Rohmer.
"luz de agosto”
No começo do filme temos um dos diálogos mais inacreditáveis da historia do cinema, uma profunda conversa sobre uma orgia entre dois personagens, que pode se interpretado como uma pequena demonstração do fundo do poço aonde encontra-se a humanidade. A sociedade correta corrompida pela insanidade das nossas mentes. Princípios morais perdidos na evolução do homo sapiens. A educação em troca da banalidade. O respeito em troca da violência. Objetos matérias em troca da vida de nossos irmãos.
“da revolução francesa para os finais de semanas gaulêses”
A parte sonora do filme é um deleite magnífico, sendo uma de suas características marcantes, Godard não decepciona. Em todas as cenas ele usa bem esse recurso, desfrutamos então de sons e músicas que completam as cenas marcantes do filme, uma delas é o engarrafamento, onde temos uma musica ao som de buzinas, conversas e gritos, mostrando a confusão na vida das pessoas, o caos em que se encontra o mundo, os objetivos perdidos na estrada de nossas vidas, nas atitudes que tomamos, nas escolhas que fazemos, caminhos trilhados que nos leva a perca da consciência do que realmente é importante.
“uma terça-feira na guerra dos 100 anos”
As atuações são outro ponto positivo do filme, realizadas com muito expressionismo e realismo nos dão o verdadeiro impacto da fabulosa direção de Godard. A união de cada uma delas nos trás a virilidade, intensidade, ousadia, capacidade e triunfo na realização do amor e desamor na poesia visual do diretor refletida em uma ótima movimentação de câmeras completando a perfeição em toda parte técnica da obra.
“mundo 3”
Em um dos momentos do filme temos os discursos de representantes de três culturas diferentes, onde percebemos todo o desprezo entre as nações, todo o preconceito, o interesse próprio acima de qualquer coisa, o desrespeito racial, a hipocrisia estampada nos rosto de cada personagem, as conseqüências dos regimes políticos, o terrorismo, as guerras, as mortes, a escravidão, destruição, sangue, desprezo, barbaridades, superioridade, humilhação...a vida de mascaras que esconde a feiúra de cada rosto humano. Tudo isso levando aos momentos finais do filme, aonde paramos...levantamos e aplaudimos Godard, na cena em que uma personagem é recheada com alimentos e temperos, igual se faz com galinhas e porcos para o almoço, mostrando que somos tratados como animais por você, por mim, pela sociedade em geral...apenas lixo descartável...alimento para nosso egoísmo...resto dos restos...enfim, o regresso da evolução do homem.
“a semana de 4 quintas”
Jean-Luc Godard nos trouxe mais que um filme, mais que uma simples reflexão, mais que apenas cenas esquisitas e engraçadas, ele pintou um quadro para o museu das obras-primas, para ser visto e revisto, e se possível tentar entender ao máximo de toda essa perplexidade humana em que sobrevivemos.
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