O mercado cinematográfico vem sendo invadido e bombardeado com adaptações de games para as telonas. Os diretores não se cansam de explorar esse batido e fraco mercado (principalmente o alemão Uwe Boll, que é o mais persistente que conheço em matéria de fazer adaptações ruins) e as produtoras não têm o bom senso de pararem de aceitar roteiros desse tipo. Como em Hollywood nem tudo é como pensamos, “Hitman - Assassino 47″ (Hitman, 2007), baseado no jogo homônimo da EIDOS, acabou sendo lançado, e mesmo com seu orçamento recheado e boa bilheteria, provou de vez que adaptar games quase nunca é garantia de qualidade.
Uma instituição denominada “A Agência” acolhe órfãos e crianças abandonadas para que se tornem especialistas em artes marciais e em manuseio de armas, visando a criação de assassinos de aluguel. As crianças não recebem nomes, mas sim números de códigos de barras, sendo chamados pelos dois últimos numerais. É daí que surge o Agente 47 (Timothy Olyphant), que, nesta trama, é contratado para assassinar um poderoso político russo, irmão de um igualmente poderoso traficante do país. O que 47 não esperava era que essa nova missão tratava-se apenas de uma tentativa de incriminá-lo em uma trama política, e será perseguido pela Interpol, pelos militares russos e pela própria agência que o criou. Cercado por todos os lados, 47 tem a seu favor apenas os ensinamentos que recebeu quando criança, em uma tentativa desenfreada de descobrir o autor dessa armadilha para ele.
O grande problema para “Hitman - Assassino 47″ emplacar é o próprio roteiro, muitíssimo mal adaptado por Skip Woods (cujo trabalho eu não conhecia até este filme). Tudo é bastante previsível e comum, o que nos dá a séria impressão de que já vimos tudo isso em outro lugar (mesmo sem ter jogado o game). A começar pela história, bastante explorada e batida: quantos filmes de ciladas para tramas políticas você já viu em sua vida, mesmo se você não costuma assistir a filmes de ação? Qual a graça de colocar o personagem principal rodando o mundo inteiro à procura de confusas respostas e vingança, se já vimos isso em inúmeros outros filmes? O roteiro parece ser uma verdadeira colcha de retalhos, com um pouquinho de vários filmes que deram relativamente certo. E isso não é nada bom. Se o roteiro já não é bom, o que esperar da direção de um estreante em Hollywood, com um orçamento ótimo e a responsabilidade de transpor bem um game de grande sucesso para as telas? Pois o que vemos é Xavier Gens sem saber o que fazer com um roteiro ilógico e um elenco fraco. Para “compensar” de alguma forma, Gens abusa dos efeitos especiais, que são razoáveis, mas não conseguem fazer o espectador transbordar de adrenalina como acreditava ter feito. Aliás, o que mais falta no longa são motivos para o espectador se empolgar, já que todas as cenas, mesmo as de luta, acabam antes de atingirem seu limiar, além de uma trilha sonora bastante ineficaz. Ao invés disso, vemos confusão, fatos jogados sem maiores explicações, confusão, viagens do protagonista, confusão, lutas mal feitas e mais confusão. Já deu para perceber que a lógica não predomina, certo? Eis que, tendo em vista o desastre que poderia ser o filme, o diretor introduz uma reviravolta perto do final, que, provavelmente, ficou boa para seus olhos. O que acontece de fato é que todo mundo esperava essa mesma reviravolta, uma das mais tolas que já vi no cinema. Pobre Xavier Gens, Leigh Wannel e James Wan poderiam dar-lhe algumas aulas de como se fazer uma reviravolta decente. Apesar de tudo, “Hitman - Assassino 47″ tem lá suas cenas legais, e conseguem entreter ligeiramente o público, mesmo que nada chegue ao ponto certo.
Se roteiro e diretor não ajudam, espera-se que o elenco segure as pontas, certo? Errado! A começar pelo protagonista, o mecânico Timothy Olyphant, que faz seu primeiro papel como protagonista. Antes mesmo de vermos sua interpretação, tendo em vista seus trabalhos anteriores, era inegável que ele não merecia tal papel, que quase foi assumido por Vin Diesel. Olyphant é um verdadeiro robozinho em cena, tanto no modo de falar quanto no de agir, tornado seu personagem bastante inverossímil e pouco carismático. Se Olyphant é ruim, o que dizer de Olga Kurilenko, que interpreta o affair do Agente 47. Sua atuação é totalmente inçossa e desprovida de qualquer emoção, sendo mais mecânica ainda que o ator protagonista. Ambos não têm o mínimo de química para contracenarem, o que incomoda bastante àqueles que não ficam atentos esperando apenas a próxima cena de luta. Henry Ian Cusick não chega a ser ruim como os dois anteriores, mas seu traficante russo durão não convence a ninguém. A melhor atuação acaba sendo a de Dougray Scott, como Mike, conseguindo transmitir um pouco de ação para a tela.
“Hitman - Assassino 47″ é um filme de ação em que faltam vários ingredientes essenciais, como um protagonista atuante, um elenco coadjuvante razoável e boas doses de adrenalina. Estando tudo isso em falta, resta-nos rezar para que as produtoras tomem semancol e parem de aceitar roteiros baseados em games, o que, espero eu, está ficando cada dia mais perto.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário