A série “Harry Potter”, baseada nos livros de J. K. Rowling, inciciou-se em 2001 sem total certeza de que continuaria. O principal motivo que poderia ser apontado era quantidade de histórias que a britânica escreveria, pois ela sempre disse que iria levar a série até o sétimo livro (e a qualidade e o sucesso das vendas dos livros sempre garantiram a extensão da série). Então, em 2001 surgiu este “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (”Harry Potter and the Sorcerer’s Stone”, 2001), que, mesmo não tendo metade da magia dos livros de Rowling, deu início a uma das maiores febres infanto-juvenis (hoje alcançando adultos que eram infanto-juvenis na época), deu um imenso agrado aos milhões de fãs que os livros já tinham e recrutou outros milhões (como eu) que ainda não conheciam a história.
Harry Potter (Daniel Radcliffe) é um garoto que sobreviveu à morte com apenas um ano, quando um maligno bruxo matou seus pais e não conseguiu levá-lo também (motivo pelo qual tem uma cicatriz em forma de raio na testa). Então, ele foi levado para a guarda dos tios, onde era constantemente maltratado. Então, ao completar 11 anos, ele recebe a revelação de que é bruxo, descobre a verdadeira causa da morte de seus pais (bem como da sua sobrevivência ao mesmo feitiço) e vai para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde aprende a usar seus grandes poderes. E, ao lado de seus amigos Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson), passa por vários perigos e, finalmente, volta a encarar o mal que lhe tentou tirar a vida 10 anos antes.
“Harry Potter e a Pedra Filosofal” é, sobretudo, um filme destinado ao público mais jovem (é uma imensa crueldade falar que é um filme para criancinhas), mas acaba tendo elementos para agradar os mais velhos. Sendo a história mais bobinha e infantil da série, este filme põe na mesa o verdadeiro valor da amizade e tem certo clima de perigo e mistério que acabam prendendo a atenção dos mais crescidinhos. O clima de mistério poderia ser mais aproveitado pelo diretor Chris Columbus, que não consegue dar à narração seu toque pessoal, fazendo exatamente tudo que está no roteiro. Sua direção é altamente burocrática e impessoal, fazendo com que sua participação no longa seja apenas uma transposição do roteiro para a tela. No entanto, o grande mérito do diretor é saber tirar grandes atuações de seu elenco mirim, que funciona muito bem. Chris, que tem experiência ao trabalhar com crianças em “Esqueceram de Mim” e “Uma Babá Quase Perfeita”, acaba não levando o longa à derrocada total pela sua habilidade com atores. O roteiro seguido completamente à risca ficou a cargo de Steven Kloves, que assinou quase todos os filmes da série. Kloves soube cortar o que era desnecessário, colocar o necessário e não deixar o longo filme o menos maçante possível (mesmo que, em algumas partes, o enredo acabe se arrastando um pouco). Certamente, o roteirista mais adquado para a série.
A parte visual de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é excelente, sobretudo a direção de arte indicada ao Oscar (derrotada pelo soberbo “Moulin Rouge”). Os cenários reproduzidos na tela são exatamente o que grande maioria dos fãs imaginam lendo a obra britânica. As reproduções mas caprichadas foram, sem dúvida, do mágico Beco Diagonal e do imponente Banco Gringotes. O jogo de quadribol representado, mesmo sendo ligeiramente artificial, é muito bom e também condiz com o que os leitores esperam. A Floresta Proibida, citada como o lugar mais perigoso da escola, é traduzida com perfeição, com o aspecto sombrio e perigoso retratado no livro. Além da espetacular direção de arte, merece destaque também na parte visual o exuberante figurino, também indicado ao Oscar de 2002. Todos os atores incrivelmente bem vestidos, o que dá ao filme uma verossimilhança a mais. O único problema da parte visual do longa acaba sendo os efeitos especiais. O trasgo, monstro que mais desperta o imaginário de quem lê a obra de Rowling é esdruxulamente produzido, parecendo vindo de um obsoleto video game de terror. A representação de Lord Voldemort é superior em qualidade à do trasgo, mas fica longe de dar a sensação de medo que seu personagem exige. OS centauros da Floresta Proibida são tratados com mais cuidado que os citados anteriormente, mas ainda assim acabam pedindo “algo mais”.
O elenco de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é ponto altíssimo na produção. O número de talentos britânicos reunido é impressionante, o que facilitou muito o trabalho do diretor com a direção de atores. Maggie Smith (indicada a dois Oscar) aparece como a séria professora Minerva McGonagall, dando-lhe uma verossimilhança impressionante, e sendo a personagem mais parecida com o que se encontra nas páginas de J.K. Rownling. Alan Rickman interpreta o frio Severo Snape com enorme competência e Richard Harris dá vida a Alvo Dumbledore, o amoroso e brilhante Dumbledore. No penúltimo filme de sua vida, Harris é um Dumbledore com menos vivacidade e mais imponência. No elenco adulto, também há de se destacar a breve aparição de John Hurt como o vendedor Olivaras e de Robbie Coltrane como Rúbeo Hagrid, ambos com atuações seguras e timings corretos. No elenco mirim, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson (Harry, Rony e Hermione, respectivamente) mostram-se ótimas escolhas para seus papéis. Os três são muitíssimo seguros (apesar de Watson exagerar um pouco em suas expressões) e dão a seus personagens grande vivacidade e dinamismo.
O longa, apesar de seus 152 minutos de duração, acaba tendo a história abordada de forma superficial em detrimento da apresentação de personagens e do mundo bruxo, o que acaba tornando-o mais desagradável para os que já leram a obra de Rowling. O caráter “episódico” contribui para que os longos 152 minutos passem mais devagar e de maneira mais arrastada, já que as cenas parecem não ter grande conexão entre si.
“Harry Potter e a Pedra Filosofal” foi uma maneira boa de se começar a milionária série, mesmo não sendo um grande filme. É, sem dúvida, o mais fraco dentre os seis filmes já lançados, mas não se pode negar que a magia introduzida por Chris Columbus é cativante para quem não acompanhava os livros e realizadora para quem acompanhava. Um bom filme para os mais novos, um bom passatempo para os mais velhos e uma boa abertura para a série.
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