Um filme divertido, bem realizado, mas com uma história tão bobinha que poderá desagradar a quem não ignorá-la ao final.
Tim Burton sempre foi conhecido por sua excentricidade criativa, explorando o bizarro e o humor negro e fazendo-os fortes virtudes em seus trabalhos. Não é sempre que ele acerta a mão, é claro, mas fico feliz em dizer que em seu novo projeto, A Noiva Cadáver, o cineasta faz as pazes com o bizarro e cria algo divertido, cativante e tecnicamente perfeito.
A história é baseada em um conto russo do século XIX, que narra a história de Victor (Johnny Depp), um inseguro e atrapalhado filho de açougueiro, que tem um casamento marcado com Victoria (Emily Watson), uma jovem de família tradicional e com pais que vêem, no matrimônio dos dois, a solução para seus problemas financeiros. Porém, quando Victor está ensaiando os votos do casamento, sem querer faz laços com um cadáver, que agora o quer como legítimo esposo, não importa o quão absurda pareça esta situação!
Explorando de maneira inteligente o contraste entre vivos e mortos (perceba como o mundo dos falecidos é muito mais fascinante, colorido e divertido do que o dos vivos), Burton cria uma obra altamente cativante e divertida, com seus personagens bem sucedidamente caracterizados, cheios de atitudes e bizarrices. O diretor também aproveita a sua fase musical (vide A Fantástica Fábrica de Chocolate) para inserir curiosos números musicais, cheios de referências à outras obras e celebridades (tente encontrar algumas semelhanças com Aladdin e Ray Charles, por exemplo).
Algumas passagens são maravilhosas, principalmente a que Victor se depara com um piano na casa de sua futura esposa. A sequência é linda, romântica, com uma bela composição musical e que é, desde já, uma das minhas sequências preferidas em seus filmes (mas a melhor de todas ainda é o final de Edward - Mãos de Tesoura; que final é aquele, hein?). A obra é lotada de pequenos detalhes visuais, complexidades que divertem e deixam o filme mais respeitoso, completo.
Muitos não devem ter percebido, mas a animação é a famosa Stop Motion - a mesma usada em filmes como Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais e Fuga das Galinhas. Alguns movimentos são truncadinhos, mas isto é mais um charme do estilo do que um defeito, pois, na grande maioria do tempo, tudo é perfeitamente animado e raramente denuncia-se o modo como tudo fora realizado. As expressàµes são absurdamente bem definidas, com olhares, pequenos gestos, cenários altamente interativos e detalhes únicos a cada personagem que deixam tudo altamente cativante e fascinante.
E essa fascinação toda quase nos faz esquecer os problemas que o filme também têm. A história é bobinha demais, sem maiores ousadias (tirando, claro, a premissa do longa), com um final altamente convencional e sem maiores surpresas. Tamanha a excentricidade do tema e o nome envolvido no projeto, era de se esperar algo mais inusitado, espetacular, mas não é o que acontece. O desfecho é simples, direto, previsível e com suas lições manjadas. É uma pena que a grande virtude deste trabalho resida apenas na parte técnica dos envolvidos - Johnny Depp, por exemplo, empresta uma voz frágil e empática a Victor -, pois a história não está a par de toda a grande dedicação que fora produzido.
No fim, fica simplesmente impossível negar o ar de decepção que, depois de tanta diversão, fica pairando em nossa cabeça por causa de sua conclusão. Só não deixe este sentimento apaziguar toda a diversão anterior que tivera, pois seria uma injustiça tremenda com a obra. Um filme é feito de momentos, nunca se esqueça disso, e, destes momentos, A Noiva Cadáver está muito bem representado.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário