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Críticas

Cineplayers

A tolerância e o cuidado.

7,0

Percebemos algo errado quando uma família, no caso irmãos, estranhos um para o outro, se encontram unicamente graças a morte de um ente. Meu País (idem, 2011), projeto de André Ristum, une irmãos a partir da morte do pai e, nesse encontro, alguns segredos transtornam a relação, cujos valores identificados logo em seu ato inicial refutam a caracterização imediata dada aos personagens, o que os torna mutáveis - e enquanto mutáveis, humanos. O laço fraternal desenvolvido pelo roteiro de Ristum, juntamente a Marco Dutra e Octavio Scopelliti, viabiliza nossa interação com o filme, belo do ponto de vista dramático e singelo na sua aceitação pelo outro, priorizando uma relação disposta quando uma nova personagem surge, fruto de um adultério.

Marcos (Rodrigo Santoro) leva uma boa vida na Itália. Namora a filha de seu chefe, que o tem como braço direito. Sem outro motivo para voltar ao Brasil, retorna quando fica sabendo da morte de seu pai, Armando (vivido por Paulo José, numa participação especial). Aí o espectador já identifica uma abstração por parte do rapaz quando este observa o nome da mãe na sepultura, ignorando completamente o enterro. Em contrapartida, seu irmão Tiago (Cauã Reymond) sente a perda, e lamenta a ausência do patriarca de uma maneira apreensiva, como se algo a mais tivesse sido perdido. Tiago é quem se responsabiliza pelos negócios da família no Brasil, mas está endividado por conta de grandes apostas no poker.

A narrativa é segura, possui bom ritmo e prende nossa atenção quando percebemos o distanciamento dessa família. A nossa curiosidade se sustenta por um acontecimento numa das cenas de abertura, se mantendo ao longo da projeção enquanto novos casos se desenrolam. O diretor nos dá algumas informações em detalhes, como quando, sem averiguar do que se tratam alguns materiais, Marcos joga tudo dentro de uma caixa, o que garante ao espectador uma sugestão do que foi guardado, incitando nossa percepção sobre o provável desfecho dessa ação.

Dentro desse âmbito de relações estabelecido, o filme se agarra à necessidade do outro, e isso se fundamenta no papel do cuidado, quando alguém se vê responsabilizado por uma outra pessoa, ao qual até então nenhum dos personagens estava sujeito.  Percebemos esse distanciamento ao acompanharmos a intimidade de Marcos e sua namorada italiana – vivida por Anita Caprioli – com o rapaz, demonstrando um flagrante deslocamento afetivo. A conversão dessa personalidade é bem traduzida ao longo da história.

Logo surge Manuela (Debora Falabella, encantadora e irretocável em cena), uma irmã que Marcos e Tiago não conheciam, resultado de um relacionamento extraconjugal do pai. A garota está internada numa clínica psiquiátrica e precisa de atenção familiar, mas poucos lhe restaram. Um conflito se inicia por parte do personagem de Santoro, que precisa voltar rapidamente para a Itália, e Tiago, arredio ao problema da irmã. A saúde mental, tema já trabalhado pelo cinema nacional de distintas formas, como a visão artística do recente Sem Controle (idem, 2007), de Cris D'Amato, a versão psicótica por Heitor Dhalia em Nina (idem, 2004) e no sucesso Bicho de Sete Cabeças (idem, 2001), de Laís Bodanzky, ganha um exemplar sincero que remete outra perspectiva do assunto: o acolhimento. 

Santoro e Reymond cumprem bem seus papéis, com o primeiro se destacando também quando fala italiano, mas é Debora Falabella a dona do filme numa performance afetuosa. Feito com a pretensão de comover o público, Meu Paí é um trabalho delicado sobre a tolerância e o cuidado, numa oportunidade de descobrimento pessoal e de sentimentos anteriormente adormecidos. Com leveza e singularidade, apesar da narrativa ser por vezes efêmera e mal explicada, o longa se fundamenta no brilho fraternal e no apego, passando da fria solidão ao caloroso conforto do afago e das palavras outrora indizíveis. Esta sensação é reservada no reencontro, na aliança de seus personagens.

Comentários (2)

Alexandre Marcello de Figueiredo | terça-feira, 03 de Setembro de 2013 - 18:27

Dois irmãos que precisam se unir, depois da morte do pai, para cuidar da irmã com problemas psiquiátricos que até então não conheciam. Débora Falabela é o destaque do filme.

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