Tom Cruise a pouco esteve na Rússia em seu 4º Missão Impossível. O país ganhou novos visitantes americanos liderados pelo bom ator Emile Hirsch. Moscou, cidade que ambienta todo o filme, parece uma terra de bandidos, algo indicado quando um tal de Skyler (Joel Kinnaman) profere, imediatamente após roubar uma idéia milionária de jovens programadores americanos, a seguinte afirmação: “this is Russia”. Logo depois isso é ignorado, com um vilão construído em minutos convertendo-se num companheiro mal caráter que coincidentemente foi comemorar sua vitória na mesma boite que os amigos programadores vitimizados foram tentar esquecer o golpe. Numa terra com mais de 10 milhões de habitantes, pessoas rapidamente apresentadas – envolvendo duas mulheres também americanas – foram parar no mesmo lugar.
Direto ao que interessa, é o que o diretor Chris Gorak propõe. Após ter causado furor em Los Angeles em Toque de Recolher (Right at Your Door, 2006), ele atravessa o oceano a caminho da capital russa, onde, durante a noite, acontece um espetáculo visual no céu, tão belo que faz um dos personagens crer estar diante à aurora boreal. Não demora e luzes douradas despencam até as ruas, desaparecendo amenamente. Logo, estas curiosas iluminações começam a caçar humanos, desintegrá-los. Pânico em Moscou, correria e gritaria. A ameaça invisível bebe da fonte de O Predador (Predator, 1987) durante sua caça ao enxergar a energia do corpo humano, como o alienígena oitentista reconhecia o calor. Os bloqueios em ambos (barro em um, vidro em outro) causam bons momentos de tensão.
Alguns dias reunidos no depósito da boite, cinco sobreviventes da devastação decidem sair e ir em busca da embaixada americana. Escolha ingênua diante uma cidade destruída e dominada. Dois amigos, duas garotas e Skyler, um sueco que prova de vez seu caráter ao abandonar uma garota durante a fuga, lutam juntos. O grupo caminha pelos becos de uma Moscou esvaziada, restrita ao pó dos mortos, numa tomada idêntica à caminhada do personagem de Cillian Murphy em Londres no horror Extermínio (28 Days Later, 2002). Há até um encontro futuro parecidíssimo no alto de um prédio. Eles vão colhendo informações a respeito do ataque, percebendo o interesse daqueles ovnis pela energia de nosso planeta.
Os aspectos técnicos sem novidades servem para modelar o projeto com uma ótica diferente sobre ataques alienígenas, embora luzes sejam o foco central e o interesse pela invasão uma denuncia sem enrolações. O que permite que o filme seja assistível é a busca por sobrevivência de seus personagens, mesmo que estes vivenciem cenas torpes, como o esconderijo embaixo de uma viatura. Se era pra tirar o fôlego, conseguiu fazer rir. A ação convencional revisitada pouco impressiona e os personagens motivados por um patriotismo cego explicita o amadorismo dos roteiristas; aliás, tanto o roteiro quanto o diretor parecem ignorar completamente o percurso do grupo atravessando a imensa cidade. Também existem as catástrofes que não vimos. Acompanhamos os resultados destas em planos econômicos, como um navio que destruiu uma ponte e um avião arrasado numa galeria.
Fugindo dos Estados Unidos, os alienígenas vem buscando outras terras – Distrito 9 (District 9, 2009) é um marco feliz nesse sentido, com uma nave sobre Joanesburgo – muito embora temos a informação de que a invasão aconteceu em todo o planeta. Ao menos é interessante ver os efeitos deixando a capital russa completamente vazia, apoiada por uma direção artística escurecida, com um sol quase omisso. Comparações a outros projetos são absolutamente cabíveis, como o recente e horroroso Skyline - A Invasão (Skyline, 2010) e até Guerra dos Mundos (War of the Worlds, 2005), de Spielberg e sua hipótese de aniquilação. Em A Hora da Escuridão (The Darkest Hour, 2011) não há grandes argumentos para sustentar a história, há o porquê e o que se pode fazer contra ele. É no mínimo lamentável ver Emile Hirsch envolvido em uma obra assim, um deslize em sua próspera carreira. E depois da escuridão da sala de cinema, que os espectadores procurem outra sessão compensadora.
"O grupo caminha pelos becos de uma Moscou esvaziada, restrita ao pó dos mortos, numa tomada idêntica à caminhada do personagem de Cillian Murphy em Londres no horror Extermínio"
Comparar essa cena a Extermínio é um xingamento a op do Danny Boyle! 😋
Marcelo, Te dou a nota máxima só pela sua abnegação em assistir integralmente esse filme.
Oi Nena, obrigado. Não foi uma tarefa das mais fáceis.
Fala Thiago, desculpe a ofensa. rs
Que isso, Marcelo, apenas comentei. hahaha
E o texto ficou ótimo, 🙂
eu vi o filme e concordei com tudo o que vc disse aí!